* Por João de Sousa Lima
Dia 25 de abril de 2015, eu e Josué Santana, nos dirigimos a cidade de Calumbí,
Pernambuco, para nos encontrarmos com o amigo Lourinaldo Teles, que nos
convidou para participar de uma reunião com os membros do IHG- Instituto
Histórico e Geográfico do Pajeú, com sede em Serra Talhada. A reunião serviu
para que Lourinaldo pudesse apresentar seu material encontrando onde houve os
famosos combates dos cangaceiros, fatos acontecidos na região que compreende
Serra Talhada, Calumbí, Flores, Ibimirim e outros pontos próximos. Além das
escavações, Lourinaldo vem catalogando punhais que foram do cangaço e
escrevendo um livro sobre os fatos que lhe são narrados por pessoas que viveram
a época. Em vários momentos acompanhei Lourinaldo Teles nessas buscas e
conhecer o local da morte de Livino Ferreira era uma das lacunas de minhas
caminhadas nas estradas das pesquisas. Estivemos no lugar 90 anos depois do
acontecido. Nos escombros da casa de dona Generosa encontramos pedaços de
louças e uma peça que segura a bandoleira das armas
Por
trás a serra onde Livino foi enterrado
Em 1925 Lampião passou na fazenda Melancia, em Flores, Pernambuco. A visita de
Lampião à roça aconteceu para ele dar uma lição em Zé Calú, acusado por José
Josino de Gois, de manter relações sexuais com as filhas.
Lampião
prendeu no curral várias pessoas que passavam com destino a feira da cidade.
Lampião
ordenou amarrarem Zé Calú pelos testículos, no esteio do telhado, com corda de
coro trançado e os cangaceiros suspendiam o agonizante senhor que
desmaiou de dor e assim escapou da morte certa.
Escombros
da casa de Generosa Teles.
Logo após esse
castigo os feirantes anunciaram na cidade o que havia acontecido com Zé Calú
e o delegado Vitoriano telegrafou para a cidade de Princesa Isabel
pedindo reforços. De Princesa seguiu um caminhão com 16 soldados sob o comando
dos sargentos José Guedes e Cícero de Oliveira.
O local da
morte de Livino Ferreira
Na localidade
chamada Baixa do Tenório (sítio do coiteiro José Josino de Gois, coiteiro de
Lampião) houve um confronto e o sargento Cícero de Oliveira foi baleado e
morto.
A cerca onde Livino estava amparado
O capitão José
Caetano e o tenente Higino Belarmino de Morais ouviram os tiros e seguiram para
Flores onde foram informados pelo delegado sobre a passagem dos cangaceiros e a
perseguição acontecida pelos soldados.
À frente das volantes ia o nazareno David Gomes Jurubeba e o combate foi
inevitável. Os cangaceiros estavam próximos a casa de Generosa Teles (tia de
Lourinaldo Teles).
Estrada
onde os cangaceiros e as volantes passaram
David Gomes Jurubeba deixou o depoimento de que foi ele quem atirou em Lampião
e a bala estraçalhou um pé de quipá e os minúsculos espinhos teriam cegado o
olho direto de Lampião.
Umbuzeiro
onde os cangaceiros ficaram
Enquanto
Lampião agonizava com a vista ensanguentada, seu irmão Livino, próximo a um
umbuzeiro foi baleado pela volante. Os cangaceiros bateram em retirada tirando
o baleado do meio do tiroteio e depois mandaram chamar Generosa para
cuidar do ferido.
Material encontrado no lugar
Livino não
suportou o ferimento e morreu sendo enterrado em uma gruta. Lourinaldo Teles
esteve recentemente nessa gruta.
Reunião
do Instituto Histórico e Geográfico do Pajeú, com material de Lourinaldo
Sabe-se que
Pedro, filho de Espreciosa, mulher que cozinhava para Lampião, foi quem ajudou
no tratamento de Livino e também em seu sepultamento e, tempos depois, retirou
os ossos do irmão do Rei do cangaço e os enterrou em Conceição de dentro,
próximo a cova de José Paulo, primo dos Ferreiras, esse assassinado por
Clementino Quelé.
Punhais
de Lourinaldo
O velho
umbuzeiro que viu o irmão de Lampião ser baleado e morto, ainda está lá,
imponente, ao lado da cerca de madeira que representa a época. São dois
robustos e emaranhados de quase mortas células vegetais enfincados no chão,
como lembranças tétricas de cenas vividas no passado, onde o aço veloz,
certeiro, dilacerante, rasgou as carnes, mortalmente, de um moço-homem que
acompanhou seu irmão nas veredas incertas do cangaço.
João de Sousa
Lima é membro da ALPA – Academia de Letras de Paulo Afonso e membro da SBEC
- Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço.
Paulo Afonso,
28 de abril de 2015
http://www.joaodesousalima.com/2015/04/nas-trilhas-do-cangaco-o-local-da-morte.html?spref=fb
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
Caro companheiro Mendes: Só temos a agradecer a esses escritores e pesquisadores que trabalham com pesquisa de CAMPO. A pesquisa bibliográfica não deixa de ser importante, contudo, quando adentramos às caatingas, a contribuição é bem maior.
ResponderExcluirAntonio Oliveira - Serrinha