Por Jair Eloi de Souza
Corria o ano
de l.924. Inverno tenebroso, aguaceiro em todos os rincões nordestinos. Não
houvera legumes*. Nos baixios tudo era um amarelo desbotado. Nas croas do Rio
Piranhas, apenas o limbo coberto com areia fina, onde começara a germinação de
beldroegas. Nada de safra e as criações amorrinhadas. Finzinho de Santana,
reúne-se uma trupe de matutos comboieiros: Caboclo Antônio, Domingos Leite,
Doro da fala fina, Quincas Salvino, Dubelo e o embaixador Chico Eloi*.
Tinham como objetivo, buscar farinha e rapadura no Crato, nos Cariris Novos*.
Consertados os
surrões*, pois, pretendiam levar carne seca* desses sertões do Seridó, pra
venderem nas feiras livres de Missão Velha, Crato, Barbalha, enfim, naquele
entorno do Araripe. Viagem lenta, estradas descarnadas, alimárias esqueléticas,
puxadas a milho mochilado. Parecia uma empreitada tranquila. Parecia..., pois,
ao chegarem nos arredores de Souza, escutaram um toque de concertina. Num
piscar de olhos, estavam todos cercados por cangaceiros a pedirem dinheiro e cigarro.
Tratava-se de cabras do Grupo de Lampião, comandados pelo seu irmão Antônio Ferreira da Silva, de alcunha “Esperança”, Pois, naquele momento, Virgulino Ferreira (Lampião), curava-se de ferimento grave, nas ombreiras da Serra do Diamante, Missão Velha, atendido por dois médicos de Recife, levados por Marcolino Diniz, filho do Cel. Marçal Diniz.
A presença
desses bandoleiros Lampiônicos, tinha finalidade de surrarem o político Otávio
Mariz, um ancestral de José Agripino Maia, atendendo solicitação de Chico
Pereira, o cangaceiro do Vale do Rio do Peixe, que tivera seu pai assassinado,
e a justiça fizera vistas grossas. Por isso que o cangaceiro paizinho, andara
montado no Juiz de Direito daquela urbe paraibana, também, para reparar desonra
por ter tido também o pai morto sem qualquer intervenção da Justiça.
Ao cerco e peditório dos facínoras, o líder Caboclo Antônio, disse-lhes que levavam carne seca dos sertões do Caicó, no que caíram como abutres sobre os surrões, surrupiando toda a carne daqueles matutos almocreves, que nada puderam fazer, a não ser, se contentarem com a franquia de poder continuar a viagem ilesos.
Fragmento da
obra: "Um velho matuto comboieiro contador de histórias".
Jair Eloi de Souza.
*A carne seca
dos Sertões do Seridó potiguar, além de ter especial sabor, naquele dia,
salvara os matutos comboieiros da Ribeira meã do Rio Piancó- Piranhas-Açu.
Fonte: facebook
Página: Jair Eloi de
Souza
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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