Seguidores

sexta-feira, 8 de maio de 2015

DE ENCHENTE, CARNE SECA E LAMPIÃO.

Por Jair Eloi de Souza

Corria o ano de l.924. Inverno tenebroso, aguaceiro em todos os rincões nordestinos. Não houvera legumes*. Nos baixios tudo era um amarelo desbotado. Nas croas do Rio Piranhas, apenas o limbo coberto com areia fina, onde começara a germinação de beldroegas. Nada de safra e as criações amorrinhadas. Finzinho de Santana, reúne-se uma trupe de matutos comboieiros: Caboclo Antônio, Domingos Leite, Doro da fala fina, Quincas Salvino, Dubelo e o embaixador Chico Eloi*. Tinham como objetivo, buscar farinha e rapadura no Crato, nos Cariris Novos*.

Consertados os surrões*, pois, pretendiam levar carne seca* desses sertões do Seridó, pra venderem nas feiras livres de Missão Velha, Crato, Barbalha, enfim, naquele entorno do Araripe. Viagem lenta, estradas descarnadas, alimárias esqueléticas, puxadas a milho mochilado. Parecia uma empreitada tranquila. Parecia..., pois, ao chegarem nos arredores de Souza, escutaram um toque de concertina. Num piscar de olhos, estavam todos cercados por cangaceiros a pedirem dinheiro e cigarro. 

Tratava-se de cabras do Grupo de Lampião, comandados pelo seu irmão Antônio Ferreira da Silva, de alcunha “Esperança”, Pois, naquele momento, Virgulino Ferreira (Lampião), curava-se de ferimento grave, nas ombreiras da Serra do Diamante, Missão Velha, atendido por dois médicos de Recife, levados por Marcolino Diniz, filho do Cel. Marçal Diniz.

A presença desses bandoleiros Lampiônicos, tinha finalidade de surrarem o político Otávio Mariz, um ancestral de José Agripino Maia, atendendo solicitação de Chico Pereira, o cangaceiro do Vale do Rio do Peixe, que tivera seu pai assassinado, e a justiça fizera vistas grossas. Por isso que o cangaceiro paizinho, andara montado no Juiz de Direito daquela urbe paraibana, também, para reparar desonra por ter tido também o pai morto sem qualquer intervenção da Justiça.

Ao cerco e peditório dos facínoras, o líder Caboclo Antônio, disse-lhes que levavam carne seca dos sertões do Caicó, no que caíram como abutres sobre os surrões, surrupiando toda a carne daqueles matutos almocreves, que nada puderam fazer, a não ser, se contentarem com a franquia de poder continuar a viagem ilesos.

Fragmento da obra: "Um velho matuto comboieiro contador de histórias".
Jair Eloi de Souza.
*A carne seca dos Sertões do Seridó potiguar, além de ter especial sabor, naquele dia, salvara os matutos comboieiros da Ribeira meã do Rio Piancó- Piranhas-Açu.

Fonte: facebook
Página: Jair Eloi de Souza

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário