Por José Romero
Araújo Cardoso[1] e Marcela
Ferreira Lopes[2]
Não há como negar que Lampião sentiu-se ludibriado quando estacionou com o
bando às portas de Mossoró em 13 de junho de 1927, pois os ângulos da cidade,
observados pelo binóculo, mostraram-lhe uma aglomeração urbana extremamente
sofisticada para o sertão daqueles idos do segundo lustro da década de vinte do
século passado.
Impressiona e suscita indagações como um cangaceiro traquejado na vida
bandoleira deixou-se enganar de forma tão simples e infantil, tendo em vista
que os informes repassados por Massilon Benevides Leite enfatizaram que Mossoró
era uma cidade pequena, não obstante contar com uma agência do Banco do Brasil,
cuja resistência da população a um ataque bandoleiro seria nula ou quase
inexistente.
Lampião contava com impecável sistema de informações, não se arriscava à toa,
pois era imprescindível saber detalhes sobre terrenos palmilhados,
principalmente em se tratando de lugares desconhecidos.
Na marcha do bando de Lampião em direção a Mossoró, intuindo ataca-la, houve
desvios de rotas em duas oportunidades, motivados pelos informes extremamente
desagradáveis sobre a iminência de um confronto de proporções avassaladoras que
poderiam causar baixas consideráveis no bando.
O primeiro desvio aconteceu para evitar que o bando fosse surpreendido pela resistência
armada por civis em Alexandria, após o combate ocorrido em Vitória (hoje
município de Marcelino Vieira).
O segundo desvio aconteceu quando da marcha em direção a Caraúbas, pois as
notícias que corriam céleres destacavam a truculência de Quincas Saldanha no
que diz respeito ao tratamento dispensado a bandidos e desordeiros pelos
limites territoriais onde sua presença se efetivava quase como senhor feudal
absoluto em domínios conquistados.
Desviar pela localidade de Pedra de Abelha (hoje município de Felipe Guerra)
foi a saída encontrada por Lampião para que o bando não fosse penalizado pela
forma como a sagacidade de Quincas Saldanha organizou o foco de resistência à
passagem dos audacioso bandoleiros das caatingas em direção a Mossoró.
O piquete montado por Quincas Saldanha, apelidado de gato vermelho, chegou a
disparar a esmo, mas o traquejo em lutas fê-lo atentar que as detonações
estavam sendo efetivados apenas de um lado, motivando-lhe o raciocínio de que
tratava-se de um ledo engano dos seus comandados.
Dando ordens para que os disparos cessassem, Quincas Saldanha, não obstante a
ameaça cangaceira estar distante, manteve-se impávido em suas trincheiras
garantindo a integridade física de sua gente.
Em Mossoró a resistência mostrou-se eficiente e à altura da ameaça representada
pelos agressores que não titubearam em acatar a ordem suprema do rei dos
cangaceiros para assinalar um dos mais complexos capítulos da saga bandoleia
pelas caatingas nordestinas.
[1] José
Romero Araújo Cardoso. Geógrafo. Professor-Adjunto IV do Departamento de
Geografia da Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade do
Estado do Rio Grande do Norte. Especialista em Geografia e Gestão Territorial
(UFPB) e em Organização de Arquivos (UFPB). Mestre em Desenvolvimento e Meio
Ambiente (PRODEMA/UERN).
[2] Marcela
Ferreira Lopes. Geógrafa-UFCG/CFP. Especialista em Educação de Jovens e Adultos
com ênfase em Economia Solidária-UFCG/CCJS. Graduanda em Pedagogia-UFCG/CFP.
Membro do grupo de pesquisa (FORPECS) na mesma instituição.
Enviado pelo professor, escritor e pesquisador do cangaço José Romero de Araújo Cardoso
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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