Seguidores

segunda-feira, 29 de junho de 2015

BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE OS DESVIOS DE ROTA QUANDO DA MARCHA DO BANDO DE LAMPIÃO EM SEU OBJETIVO DE ATACAR MOSSORÓ

Por José Romero Araújo Cardoso[1] e Marcela Ferreira Lopes[2]

Não há como negar que Lampião sentiu-se ludibriado quando estacionou com o bando às portas de Mossoró em 13 de junho de 1927, pois os ângulos da cidade, observados pelo binóculo, mostraram-lhe uma aglomeração urbana extremamente sofisticada para o sertão daqueles idos do segundo lustro da década de vinte do século passado.
          
Impressiona e suscita indagações como um cangaceiro traquejado na vida bandoleira deixou-se enganar de forma tão simples e infantil, tendo em vista que os informes repassados por Massilon Benevides Leite enfatizaram que Mossoró era uma cidade pequena, não obstante contar com uma agência do Banco do Brasil, cuja resistência da população a um ataque bandoleiro seria nula ou quase inexistente.
          
Lampião contava com impecável sistema de informações, não se arriscava à toa, pois era imprescindível saber detalhes sobre terrenos palmilhados, principalmente em se tratando de lugares desconhecidos.
          
Na marcha do bando de Lampião em direção a Mossoró, intuindo ataca-la, houve desvios de rotas em duas oportunidades, motivados pelos informes extremamente desagradáveis sobre a iminência de um confronto de proporções avassaladoras que poderiam causar baixas consideráveis no bando.
          
O primeiro desvio aconteceu para evitar que o bando fosse surpreendido pela resistência armada por civis em Alexandria, após o combate ocorrido em Vitória (hoje município de Marcelino Vieira).
          
O segundo desvio aconteceu quando da marcha em direção a Caraúbas, pois as notícias que corriam céleres destacavam a truculência de Quincas Saldanha no que diz respeito ao tratamento dispensado a bandidos e desordeiros pelos limites territoriais onde sua presença se efetivava quase como senhor feudal absoluto em domínios conquistados.
          
Desviar pela localidade de Pedra de Abelha (hoje município de Felipe Guerra) foi a saída encontrada por Lampião para que o bando não fosse penalizado pela forma como a sagacidade de Quincas Saldanha organizou o foco de resistência à passagem dos audacioso bandoleiros das caatingas em direção a Mossoró.
          
O piquete montado por Quincas Saldanha, apelidado de gato vermelho, chegou a disparar a esmo, mas o traquejo em lutas fê-lo atentar que as detonações estavam sendo efetivados apenas de um lado, motivando-lhe o raciocínio de que tratava-se de um ledo engano dos seus comandados.
          
Dando ordens para que os disparos cessassem, Quincas Saldanha, não obstante a ameaça cangaceira estar distante, manteve-se impávido em suas trincheiras garantindo a integridade física de sua gente.
          
Em Mossoró a resistência mostrou-se eficiente e à altura da ameaça representada pelos agressores que não titubearam em acatar a ordem suprema do rei dos cangaceiros para assinalar um dos mais complexos capítulos da saga bandoleia pelas caatingas nordestinas.

[1] José Romero Araújo Cardoso. Geógrafo. Professor-Adjunto IV do Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. Especialista em Geografia e Gestão Territorial (UFPB) e em Organização de Arquivos (UFPB). Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA/UERN).

[2] Marcela Ferreira Lopes. Geógrafa-UFCG/CFP. Especialista em Educação de Jovens e Adultos com ênfase em Economia Solidária-UFCG/CCJS. Graduanda em Pedagogia-UFCG/CFP. Membro do grupo de pesquisa (FORPECS) na mesma instituição.

Enviado pelo professor, escritor e pesquisador do cangaço José Romero de Araújo Cardoso
http://blogdomendesemendes.blogspot.com



Nenhum comentário:

Postar um comentário