Carlos Ramirez
da Costa, o Carlinhos
RIO — Era
noite de quinta-feira, 2 de agosto de 1973. Maria da Conceição Ramirez assistia
à novela das 20h com cinco de seus sete filhos em casa, na Rua Alice, em
Laranjeiras. Seu marido, João Costa, havia saído de carro com as duas crianças
menores. Uma queda de luz fez da sala um breu, e um homem armado entrou no
sobrado. Com o rosto coberto, pediu que a mãe lhe entregasse Carlinhos, de 10
anos. Começava assim um dos mais intrigantes casos de sequestro do país.
Quarenta e dois anos mais tarde, o mistério sobre o que aconteceu com o menino
depois daquela noite permanece indecifrável.
— Eu era
repórter de polícia do GLOBO e tinha ido cobrir um caso de assassinato no
Leblon. De repente toca o rádio no carro e falam sobre um suposto sequestro na
Rua Alice. Naquela época, a palavra sequestro não era comum. Mudamos de rumo na
mesma hora — lembra o jornalista Gilson Rebello, que foi o primeiro repórter a
chegar à casa da família. — Na parede da sala havia dois pôsteres: um com a
imagem de todos os filhos juntos, e outro somente com o Carlinhos. Ele se
destacava, era o mais bonito dos sete. Pedi ao fotógrafo que fizesse uma foto
do menino. Foi aquela imagem que rodou o Brasil.
CR$ 100 MIL DE
RESGATE
No dia
seguinte, o rosto de Carlinhos estava na primeira página do GLOBO. Na
reportagem, havia uma reprodução do bilhete, também obtido por Rebello. Nele, o
sequestrador exigia que Cr$ 100 mil fossem deixados em um ponto da Rua Alice na
madrugada do dia 4 de agosto. A sociedade se mobilizou para ajudar. No dia e na
hora marcados para o pagamento do resgate, o pai levou o dinheiro ao local, mas
o menino não apareceu.
— Lembro que
um repórter foi escondido no chão do carro da polícia até o local combinado —
conta Rebello. — Os próprios policiais foram pegos despreparados, não sabiam
como proceder em um caso de sequestro.
O primeiro
suspeito seria um homem com quem o pai de Carlinhos teria uma dívida. A família
de João possuía uma indústria farmacêutica em Duque de Caxias, na Baixada
Fluminense, e ele estaria passando por dificuldades financeiras. Na época, a
polícia também investigou a versão de que João teria um caso com a secretária,
e os dois teriam planejado o crime.
Em janeiro de
1974, um homem chamado Adilson de Oliveira confessou o sequestro e apontou João
como mandante. O pai de Carlinhos foi preso, mas, no dia seguinte, recebeu
habeas corpus. A confissão de Adilson era falsa, mas os boatos abalaram a
família. Pouco depois, os pais do menino se divorciaram.
INVESTIGAÇÃO
REABRIU O CASO
Paralelamente,
o detetive particular Bechara Jalkh investigava o sequestro. Em maio de 1977,
ele fez ao GLOBO a revelação que levaria à reabertura do caso: o pai de
Carlinhos teria forjado o sequestro do próprio filho para conseguir dinheiro da
família. O delegado Gomes Sobrinho, titular da delegacia de Roubos e Furtos,
que tratou do sequestro, seguiu as pistas encontradas por Jalkh. Exames
grafotécnicos apontaram que a letra do bilhete deixado pelos sequestradores era
de Silvio Pereira, que trabalhava na empresa do pai de Carlinhos.
— Fizemos
várias perícias no bilhete e não houve dúvidas de que a letra era do Silvio —
afirma Jalkh. — O João estava completamente falido, com o nome sujo. Doaram
mais de Cr$ 300 mil para pagar o resgate, e nunca se soube para onde foi essa
quantia.
Em novembro de
1979, a irmã mais velha de Carlinhos, Vera Lúcia, disse com exclusividade ao
GLOBO que reconhecera Silvio no momento do sequestro, mas seu pai não deu
importância à informação na época. O funcionário foi condenado em primeira
instância, mas recorreu e foi absolvido.
Nunca foi
provado qualquer envolvimento de João com o sequestro. Ele chegou a ir até a
Europa atrás de um vidente que pudesse descobrir o paradeiro de seu filho, sem
sucesso. Hoje, aos 92 anos, ele mora com a segunda mulher no Andaraí, Zona
Norte do Rio.
Mais de dez
homens já se apresentaram a Conceição como sendo o filho desaparecido. A cada
nova tentativa, ela afirmava ter certeza de que ainda encontraria Carlinhos
vivo, mas exames de DNA provaram que nenhum deles era o menino. Até hoje, um
advogado a ajuda voluntariamente com os processos movidos contra ela em ações
de reconhecimento de maternidade. Apenas um dos supostos Carlinhos continua a
visitá-la.
— Ele acha que
é meu filho. Eu sei que não é, mas não discuto, pois entendo a dor dele. Eu
perdi o meu filho, e ele não sabe quem são os seus pais — diz Conceição, que,
aos 77 anos, mora com a filha mais velha em uma quitinete no bairro da Glória.
A família de
Carlinhos já perdeu as esperanças de encontrá-lo vivo. Seus irmãos e o pai
preferem não tocar no assunto, mas Conceição conta com detalhes sua saga em
busca do paradeiro do filho. Para ela, a angústia terminou na noite de
réveillon de 2007, quando, num sonho, uma mulher lhe disse: “seu filho está no
céu”.
— Acordei
chorando, porque tinha a esperança de vê-lo ainda uma vez. Mas, desde então,
meu coração se acalmou. Eu fui até o fim. Não guardo mágoas de ninguém. Só
queria saber o que aconteceu com o meu menino.
Fonte – http://oglobo.globo.com/rio/o-globo-90-anos-apos-42-anos-um-sequestro-que-permanece-indecifravel-16396944?utm_source=Facebook&utm_medium=Social&utm_campaign=O
Adquiri no blog Tok de História do historiógrafo e pesquisador do cangaço Rostand Medeiros
http://tokdehistoria.com.br/2015/06/13/caso-carlinhos-apos-42-anos-um-sequestro-que-permanece-indecifravel/
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
Lembro-me bem do CASO CARLINHOS, caro Mendes. Foi um caso de enorme repercussão. Quanto ao famoso detetive Dr. Bechara Jalkh, foi professor de meu curso de investigador há quarenta anos passados. Tudo indica que o Dr. Bechara continua vivo e atuando em seu escritório de Investigações Criminais.
ResponderExcluirAbraços,
Antonio Oliveira - Serrinha