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quarta-feira, 26 de agosto de 2015

QUEM JÁ SONHOU COM LAMPIÃO?

Por Antonio Corrêa Sobrinho

Não é de hoje que leio, releio, reflito sobre o cangaço, compartilho ideias com os amigos do face, até um livrinho sobre o tema já fiz, e não foram poucas as vezes que, no sertão sergipano, andei, como ainda faço, embora sempre a trabalho, por estradas, fazendas, cidades, lugares que guardam simbolismos, eis que visitados pelo maior dos cangaceiros, o adverbial Virgulino Lampião, sem mencionar um Zé Baiano, um Zé Sereno, o menino Volta Seca, o 'diabo louro' Corisco, e outros famosos cangaceiros, seja em Canindé, Poço Redondo, Porto da Folha, Glória, Aquidabã, Pinhão, Frei Paulo, Ribeirópolis, Capela, Dores.

Pois, apesar de todo este meu envolvimento com o cangaço, este banditismo fenomenal que imperou no sertão nordestino, e que tanto nos fascina pelas imagens e representações, fatos e acontecidos por ele engendrado, nunca sonhei com Lampião, nem com Maria Bonita, nem com qualquer outro dos famosos personagens desta passada história.

Não é que o pernambucano Ed Wanderley Fonseca, este que está comigo na foto, meu prezado amigo e colega dos misteres da Fiscalização do Trabalho, apreciador também do cangaço, ele mais ainda, porque traz consigo a genética cangaceira dos Cacheados, me disse ontem, quando incursionávamos pelas terras de Itabaiana, torrão dos caros Antônio Samarone e Robério Santos; com passagem pela Lagarto de Kiko Monteiro e a Simão Dias dos Valadares, que sonhara com o rei do cangaço, Virgulino Ferreira da Silva.

Contou-me que eu e ele, numa das nossas constantes inspeções em empreendimentos rurais, na zona sertaneja, fomos abordados pelos bandidos quando percorríamos, lentamente, por causa dos buracos, uma estradinha que nos levava a uma fazenda a ser fiscalizada. De logo, perguntei ao colega sobre a identidade dos demais cangaceiros, um Moreno, um Luis Pedro, que disse, infelizmente, não ter distinguido eles, salvo Lampião. Já pensou se ele tivesse visto Maria Bonita, por exemplo. 

Contou que, no sonho, quando paramos, a viatura do Órgão foi logo cercada pelos cangaceiros, que, apontando armas em nossa direção, mesmo surpreendidos com a novidade do veículo, uma caminhonete Marok, plotada, 2014, e não um Ford de 29, determinaram que descêssemos. Saímos do carro, curiosamente, sem ser afrontados nem molestados por eles; e nos dirigimos à presença de Lampião, que vinha chegando, ao qual cumprimentamos com um enfático - “Pois não, Capitão!”. Lampião, cheio de paramentos, como os demais, antes de dizer coisa, olhou para uns penduricalhos que compõem os nossos coletes, tocou-os, olhou para nós, voltou o olhar para a viatura, fez um 'hum' e indagou quem éramos e o que fazíamos naquelas quebradas; que respondemos ser agentes do governo federal e que estávamos ali inspecionando fazendas, a fim de exigir dos fazendeiros o cumprimento das normas de proteção, saúde e segurança no trabalho, além de combatermos a exploração de mão de obra infantil na região, na cidade e no campo. Que estávamos protegendo vaqueiros, a profissão que o capitão exerceu um dia, foi dito a ele. Lampião, então, passou a mão no queixo, contemplou novamente a caminhonete de cima a baixo, e disse: "Vocês vão ficar com a gente".

Meu colega Ed tem alma de cangaceiro; eu não. Num momento da sua narrativa, perguntei-lhe: “Meu colega, como estávamos nós, psicológica e emocionalmente falando. Tranquilo, confiantes, sem temores. Era um sonho, Antônio, não um pesadelo”.

Voltando ao sonho, não demorou muito, estávamos trocando tiros com uma volante. Ed disse que portava um fuzil, e que a cada tiro que disparava, olhava pra Lampião, que estava posicionado lateralmente, a uma certa distância, o qual lhe sorria com um sorriso de canto, leve. E que quando Ed acertou mortalmente um soldado, voltou-se de novo pro comandante, como a dizê-lo: “Tá vendo, capitão, nós estamos do seu lado!”. Lampião, desta vez, assentiu com a cabeça, para nos dizer: “É, esses dois, realmente, estão do nosso lado”.

Intrigado com tanta valentia, interrompi mais uma vez o colega pra lhe perguntar: “Ed, sinceramente, na hora do tiroteio, do pega pra capar, eu estava como, rapaz, fazendo o quê”? Ele disse: “Escondido de traz de uma pedra”.

Mesmo nos sonhos dos outros, sou precavido.
Que sonho bom, este de ED. 
Quem dos amigos já sonhou com Lampião?

Fonte: facebook
Página: Antônio Corrêa Sobrinho

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

3 comentários:

  1. Anônimo16:47:00

    Pois é meu caro Pesquisador Mendes, o ED, colega do pesquisador Corrêa Sobrinho, sonhar com um encontro com os cangaceiros e não tê-lo como um pesadelo, tudo indica que até dormindo ele é "valente". Esse cidadão deve ser das terras de homens corajosos. Comigo, rapaz, eu não sei o que aconteceria......
    Abraços,
    Antonio Oliveira - Serrinha que não produziu cangaceiros.

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  2. Eu acho Antonio de Oliveira, que se algum dia eu sonhar com estas feras, com certeza depois do sonho, eu continuarei correndo, mesmo acordado. Cangaceiro não tinha dó de ninguém e nem respeito. Diziam que muitos respeitavam a, b, c etc, mas este respeito era só enquanto as coisas caminhavam bem, do contrário o respeito acabaria de imediato, sem importarem que era autoridade. A lei da arma não respeita ninguém, é um império sem fim.

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  3. Anônimo18:27:00

    Pois é amigo Mendes, mesmo em sonho (que eu chamaria de pesadelo), eu teria que correr, e muito.
    Antonio Oliveira

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