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quarta-feira, 2 de setembro de 2015

VÍTIMAS DO CANGAÇO PEDRO BATATINHA - NOSSA SENHORA DAS DORES-SE

Texto: José Lima Santana

No ano de 1930 durante sua segunda passagem pelo município de Nossa Senhora das Dores no estado de Sergipe, Lampião e seu bando praticaram várias atrocidades, entre elas a castração do pobre Pedro Batatinha, que teve a infelicidade de encontrar-se com o bando quando vinha da localidade conhecida como Malhada dos Negros para Nossa Senhora das Dores com o objetivo de tratar um problema dentário que há dias o incomodava.

Aproximando do povoado por nome Tabocas, Pedro Batatinha houve dois tiros, sem saber que naquele momento estava sendo morto um rapaz que tinha problemas mentais e que segundo contam, teria mexido com o cavalo de Lampião, o que o sentenciou imediatamente a morte.

Seguindo sem tomar ciência do acontecido, Batatinha segue seu caminho e mais adiante, para sua infelicidade, encontra-se com o bando que nesse momento cercava o cadáver daquele que fora há pouco assassinado. De repente Pedro Batatinha se vê em meio ao bando de cangaceiros e começa a partir daquele momento seu suplício.

Vejam o que relata o escritor Ranulfo Prata que entrevistou Pedro Batatinha e conseguiu o seguinte depoimento:

Prosseguindo, encontrou o bando de Lampião cercando o cadáver de um homem que acabava de ser assassinado naquela horinha.

Foi logo cercado e revistado, tomando-lhe a quantia de 20$000, único dinheiro que trazia.

Obrigaram-no, em seguida, a voltar com eles, e ao chegarem ao povoado “Cachoeira do Tambory” [na verdade, Lagoa dos Tamboris], apearam-se todos se dispersando pelas casas da povoação e ficando ele, Batatinha, preso entre dois do bando, no terreiro da casa de Sinhosinho, casado com uma sua prima, onde fora Lampião sentar-se em um tamborete, na saleta da frente, à espera de um café que mandara fazer.

Os dois bandidos começaram então a surrá-lo a chicote de três pernas, ambos ao mesmo tempo, sem motivo, sem que nem pr’a quê. Empolgou-se de tamanho terror que não sentiu dores.

Após a sova, eis que chega um terceiro, de apelido “Cordão de Ouro”. Ordena-lhe que descesse as calças e, segurando-lhe os dois testículos, cortou-os de um só golpe, atirando-os fora, debaixo das gargalhadas e chacotas dos companheiros. Disse-lhe o facínora:

- Quem lhe fez isto foi “Cordão de Ouro”, é a lei que manda e tenho feito em muitos.

Lampião, calado, assistiu à cena, perguntando, depois, ao castrador:

- Cortou tudo?

- Não, respondeu-lhe este. Deixei o resto porque o rapaz é novo (Ob. cit., p. 97-98). 

Encurtando a história, que é longa, os bandidos ainda deram pontapés e pranchadas de punhal em Batatinha. Lampião ao montar, aproximou-se dele, sacou do punhal e cortou-lhe um pedaço da orelha esquerda, acrescentando:

- É um garoto que precisa sê marcado, p’ra eu conhecê quando encontrá.

E voltando-se para as pessoas presentes, preveniu-lhes:

- Vocês trate do rapais senão quando eu passá aqui arrazo cum vocêis todo (PRATA, Ob. cit., p. 98). Batatinha, enfim, fora socorrido pelo Dr. 

Belmiro Leite, em Aracaju. Escapou e, segundo informações colhidas, morreu, na década de 1990, em São Paulo. Além de Ranulfo Prata, alguns autores que escreveram sobre Lampião registraram o fato da capação de Batatinha. O autor fecha o episódio narrado em seu livro da seguinte maneira; Ao lado de todas estas tragédias, a nota burlesca:

 Depois de ouvirmos o pobre Pedro e fotografá-lo, conversamos também com um dos seus irmãos, que nos informou na sua linguagem pitoresca de tabaréu malicioso:

- Pedro casou ta gordinho que nem “bicho de dicuri”, e sem bigode. Penso que ele não dá conta do matrimonho; regula duas muié numa cama... (Ob. cit., p. 98).

Texto de José Lima Santana
Adendo: Geraldo Antônio de Souza Júnior

Obs: A imagem acima é pertencente ao acervo do escritor e pesquisador Antônio Amaury Corrêa de Araújo. Uma imagem excelente e em Alta Definição que nos permite ver todos os detalhes com clareza.

Fonte:
facebook

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

Um comentário:

  1. Anônimo09:42:00

    Pois é Pesquisadores José Lima Santana, Geraldo Júnior e Mendes, o cangaço não era para ter existido. Ele foi na realidade uma praga para nosso querido Nordeste. Basta observarmos as atrocidades cometidas pelos cangaceiros, e semelhantemente pelas volantes. Não temos como negar os tristes fatos ocorridos.
    Abraços,
    Antonio Oliveira - Serrinha

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