Por José
Mendes Pereira
Adquira-o através deste e-mail: franpelima@bol.com.br
Diz o escritor
Alcino Alves Costa em seu livro “Lampião Além da Versão Mentiras e Mistérios de
Angico", que em Poço Redondo, o maior criador de gado era um senhor de nome
Manoel do Brejinho. Homem do trabalho, e com isso conseguiu amealhar grandes
posses de terras, tornando-se um dos mais ricos da região daquela cidade. Mas o
Manoel do Brejinho era filho de Porto da Folha, e todas as suas fazendas eram em
terras de Poço Redondo, no Estado de Sergipe. Possuidor de grandes rebanhos de
bovinos, caprinos e ovinos. O seu gado era em torno de 4 e 5 mil reses.
O velho
caipira não tinha desejos de luxar ou demonstrar ser rico, e nunca desejou ser
coronel ou ter outra patente semelhante. O seu desejo era somente permanecer
entre as suas fazendas, e cuidando dos seus animais. Não costumava sair para
frequentar feiras..., e quando saía a um lugar qualquer, era confundido com
qualquer um catingueiro, ninguém o via como um senhor proprietário de grandes
fazendas e animais. O portofolhense tinha a fala mansa e arrastada, e suas
fazendas eram: Brejinho, Exu, Propriá, Emendadas, Caibreiras, Poço Dantas, São
Joaquim, Logrador, Quiribas e Carnes.
Manoel do
Brejinho tinha o maior prazer de andar pela caatinga para ver a sua bezerrada
engordar, e, além do mais, acompanhar passo a passo o seu crescimento. E ainda
andar no pino do meio-dia pastoreando o gado, que procurava uma sombra embaixo
das árvores daquelas terras do rio São Francisco. Isto para ele era o mais
importante para o seu viver, considerando um paraíso. Mesmo não gozando de
certos confortos, para seu Manoel do Brejinho, nada melhor do que viver entre
aquela caatinga que o viu nascer. Era um tanto sovino, mas atendia todos os
pedidos que lhe faziam os exploradores.
Na sua fazenda
“Exu” o vaqueiro era o Santo sendo este filho lá da cidade de Poço Redondo,
grande e veterano pelejador de gado, este era casado com uma senhora
carinhosamente chamada de Caçula, que era da família dos Santanas. O casal
tinha uma numerosa família, os quais eram: Manoel, Daniel, Rosalvo (aqui abro
um parêntese para informar ao leitor que o escritor Alcino Alves não diz se
este Rosalvo era aquele que acoitou o ex-cangaceiro Juriti em sua casa, e por
infelicidade, ele foi capturado em sua residência pelo sargento Deluz, e que o
matou em uma fogueira em plena caatinga), Miguel,
Pedro, Angelino, Celestina, Maria Mariquinha e Josefina. Angelino e Josefina uma febre que
assolou aquele sertão foram vítimas e faleceram.
Escritor Alcino Alves Costa
Diz o escritor
Alcino Alves que no ano de 1932, a seca assolou aquela região. Sentindo dificuldade
para tanger o barco, isto é, para sustentar a sua família, o “Santo” resolveu
pedir aumento ao seu Manoel do Brejinho, alegando que o seu ordenado não estava
dando para o sustento de casa. Mas o seu Manoel do Brejinho não cedeu o
solicitado, alegando que se ele estava em dificuldade, ele também estava, e
assim não poderia lhe ceder um possível aumento.
Santo
desgostoso, deixa a fazenda Exu e vai morar na Fazenda Mandaçaia, na intenção de
melhorar aquele sofrimento, isto é, talvez achava ele, que o seu ordenado não
estava à altura dos seus trabalhos.
Mas
infelizmente, o Santo não se deu bem com a sua decisão, deixar a Fazenda Exu do
seu Manoel do Brejinho para se tornar morador da Fazenda Mandaçaia (Lamento, leitor,
pois o escritor Alcino Alves não fala quem era o verdadeiro dono da Fazenda
Mandaçaia).
Santo está
ali, achando ele que estava tudo bem, mas, infelizmente, ele havia feito
mal escolha. E meses depois, sem desejar, recebe a visita inesperada do
cangaceiro Corisco.
O bandido que o conhecia desde quando ele morava na Fazenda
Exu, ordena que, vá até a casa do seu ex-patrão Manoel do Brejinho
levando um bilhete, solicitando uma quantia de três contos de Reis. E sem muita
demora, o Santo vai até a casa do ex-patrão com o bilhete.
O seu Manoel não
nega a solicitação, e diz ao seu ex-vaqueiro que diga ao cangaceiro Corisco, que
no momento não tem, mas irá providenciar a quantia solicitada dentro de oito
dias. O prometido não foi com oito dias, mas 10 dias, e que não fez tanta diferença,
o cangaceiro Corisco iria receber o valor pedido ao fazendeiro, aliás, a
exploração. Santo recebe o valor em sua nova residência, localizada na Fazenda
Mandaçaia, e o guarda cuidadosamente, até que o Diabo Loiro apareça.
Na mesma
semana, era um sábado, Lampião visita o vaqueiro, e como sabia da solicitação
que fizera o Diabo Loiro ao Manoel do Brejinho faz-lhe a seguinte pergunta:
- Santo, o
dinheiro que o compadre Corisco pediu ao fazendeiro Manoel do Brejinho já está
com você?
Sem poder negar, Santo diz:
- Já, capitão!
Estou aguardando a sua presença aqui para ele levá-lo.
Lampião muito
esperto, e possivelmente estava precisando de alguns trocados, para comprar
alimentos para os seus comandados, diz-lhe:
- Este
dinheiro é para ser entregue a mim, Santo.
Sem poder
negar, e também não iria desobedecer a ordem do capitão, vai lá dentro da casa
e traz a quantia, entregando-a ao famoso Lampião.
O rei a recebe, guarda-a em seu embornal, e, em seguida, faz outro bilhete, endereçado ao Manoel do Brejinho, pedindo-lhe mais três contos de reis, porque o que era para o compadre Corisco ele precisara, e que o fazendeiro não se aborrecesse, que com certeza, um dia qualquer, seria recompensado.
Mesmo
aperreado e resmungando, e sem outra alternativa, o velho caipira vende mais
alguns bois, e uma semana depois, a outra quantia, desta vez, solicitada pelo
capitão Lampião chega às mãos do vaqueiro Santo em sua residência Fazenda
Mandaçaia.
Mas o pobre
vaqueiro não estava com sorte. Misteriosamente dois sargentos, o Ernani e
Amintas que trabalhavam no destacamento de Poço Redondo, tomaram conhecimento
do envio deste dinheiro para o Diabo Loiro, pelo o Manoel do Brejinho. E
astuciosos, intimaram o vaqueiro para suas devidas explicações sobre este envio de dinheiro.
Santo que era
um homem honesto e que nunca havia sido intimidade para nenhuma explicação na
vida, sentira-se desonrado. Sem outro meio de escapar desta intimação, foi
atender ao pedido dos espertos sargentos, e lá, foi logo trancafiado, e todas
as perguntas que os patenteados lhe fizeram, não obtiveram respostas. A causa,
vingança, por ter sido decepcionado, coisa que nunca havia lhe acontecido, ser
chamado aos pés de uma autoridade. Santo foi
solto no cair da tarde, mas numa condição, avisar ao destacamento quando os
cangaceiros aparecessem em sua casa.
Santo ficou
triste, como se estivesse depressivo, não queria mais se alimentar, o jantar
que a dona Caçula preparara, não foi usado por ele. Deita-se e quer ficar
sozinho, imaginando a grande desonra que ora ganhara. Não imaginava ele qual a
verdadeira desgraça que o esperava.
O cantar do
galo está próximo, e alguém o chama:
- Santo!
Santo! Abra a janela! Sou eu, Corisco, vim apanhar o dinheiro, não precisa
acender candeeiro não, estamos com pressa e já vamos.
O vaqueiro
estranhou aquela voz, achando que não era a voz do Corisco, mas melhor entregar
aquele maldito dinheiro, do que partir para uma discussão. Santo jamais poderia
imaginar que aquela voz não fosse de cangaceiro algum, mas a do sargento Ernani
que estava acompanhado do outro que juntos, queriam roubar o dinheiro do cangaceiro
Corisco. Santo estava condenado, poderia ser justiçado injustamente por
policiais ou cangaceiros.
Uma semana
depois o cangaceiro Corisco visita a cidade de Poço Redondo, e de lá, sai
bêbado, levando preso, sobre ordens, um jovem chamado “Airton” um rapaz filho
de um senhor chamado “Horácio”. O destino do Diabo Loiro seria a Fazenda
Mandaçaia, lugar onde está o vaqueiro Santo, e que é lá, que ele deveria
receber o envio da quantia, mandada pelo Manoel do Brejinho, mas desta vez,
solicitada pelo capitão Lampião.
O dia amanheceu claro, alegre e simpático. Santo já estava na roça cuidando das suas obrigações,
acompanhado de alguns amigos. Lá da roça, ele ver os cangaceiros chegarem em
sua casa, seu coração fica agitado, como se estivesse lhe avisando algo ruim. Estava com medo, mas o que fazer?
Santo diz aos
amigos que temia algo que pudesse acontecer naquele momento. Os amigos o
aconselharam para não ir até a sua casa. Mas ele pensava na sua família, pois
os cangaceiros poderiam fazer algo contra ela. Jamais deixaria sua esposa e
filhos sozinhos no meio daqueles delinquentes. Se algum deles morressem causados
pelos cangaceiros, possivelmente ele queria ser vítima também. Afinal, era pai
e esposo daquela gente.
Assim que chegou, deu bom dia a todos os cangaceiros que ali estavam.
Corisco
respondeu o cumprimento e perguntou:
- Cadê o
dinheiro? Vim buscá-lo!
Santo fica
apavorado com o que estava ouvindo, dito pela boca do Diabo Loiro,
respondendo-lhe:
- Ôxente! Eu
lhe entreguei na semana passada? Naquela noite?
Na verdade,
Santo enganadamente, havia entregue aos sargentos a quantia de dinheiro que o Manoel do Brejinho enviara para Corisco, mas desta vez, solicitada pelo então capitão
Lampião, porque a primeira quantia, fora Lampião que ficara com ela. E a
segunda, fora roubada pelos dois sargentos que se passaram por Corisco.
Ouvindo isso
do Santo Corisco ainda bêbado, achou que o vaqueiro estava querendo lhe enganar.
Agora Santo
irá morrer.
O cangaceiro Diabo Loiro ficou louco, e logo apontou a sua arma para
Santo, e não pensou duas vezes. Infelizmente, o Santo caiu morto, a bala
estraçalhou a cabeça do coitado catingueiro.
Foi-se mais a vida de um um
homem honrado por assassinato. Um bom pai, um bom marido, um bom trabalhador. Os
filhos e a dona Caçula viram seu pai e esposo ser assassinado, por um
delinquente que não tinha dó de ninguém.
Fonte de Pesquisas:
Livro: “Lampião
Além da Versão Mentiras e Mistérios de Angico”.
Páginas: 145,
146, 147 e 148.
Autor: Alcino
Alves Costa
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário