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domingo, 30 de abril de 2017

PASSAGEM DO PEDRO – SÃO SEBASTIÃO – SEBASTIANÓPOLIS – GOVERNADOR DIX-SEPT ROSADO: MEU RELICÁRIO SAGRADO

(*) José Romero Araújo Cardoso

Indubitavelmente há nítida ênfase em minha subjetividade à topofilia definida pelo geógrafo Yi-Fu-Tuan quando lembro de assuntos pertinentes ao despertar de identidade com a geografia humana do município norte-riograndense de Governador Dix-sept Rosado.

A fixação em minha memória da preparação dos plantios de alho e cebola às margens do rio Apodi-Mossoró, onde João Cruz possuía propriedade encravada entre as supracitadas glebas rurais, é imagem contida em minhas reminiscências de infância que o tempo não apaga.

O alho teve importância econômica de destaque em Governador Dix-sept Rosado. Quando das colheitas, as estruturas do espaço urbano do município transformavam-se literalmente em locais de exposição de um dos principais produtos cultivados no lugar. Milhares de tranças de alho e cebola ficavam expostas aguardando compradores que não tardavam em aparecer.

A Festa do Alho era bastante concorrida, culminando na coroação de uma rainha. Certamente nos dias de hoje apenas os mais velhos guardam as recordações de uma época marcada pelos festejos que assinalavam boas colheitas que resultavam em interessante poder aquisitivo para àquelas pessoas que se dedicavam ao artesanal feitio dos terraços com a areia do escoamento fluvial, destinados ao plantio de alho e cebola, o qual muitas vezes era consorciado com o cultivo de batata-doce.

O velho trem que foi sonho de Ulrick Graf transportava alho e cebola para todos os recantos onde passava a linha férrea. A qualidade dos produtos fazia com que fossem disputados por exigentes consumidores espalhados pelo país.

Não alcancei o pleno funcionamento da extração de gipsita nas vossorocas da Espadilha ou pedreira, como era mais conhecida a região que abrigou a maior mina de gesso da América Latina, mas guardei na memória as histórias que Severino Cruz Cardoso me contava sobre o cotidiano da área de extrativismo onde a maioria das pessoas que lá residiam tratavam-se carinhosamente por primos, tendo em vista a origem comum destas através de vínculo genealógico com o português Jerônimo Ribeiro Rosado.

Nessa época, conforme relato de diversos moradores da pedreira, era comum encontrar-se na caatinga grande quantidade de emas, bem como porcos-do-mato. Infelizmente essas espécies estão extintas devido à caça predatória e ao desmatamento intenso.

Recordações daqueles tempos são profusas na memória de Raimundinho de tio Jerônimo Rosado Bandeira, pois ele viveu intensamente momentos gloriosos que marcaram profundamente as vidas dos habitantes da verdadeira comunidade familiar erguida sob a égide das tradições e dos valores da paraibanidade marcante que permeou a edificação dos elos de identidade, sobretudo àqueles referentes a Pombal (PB) e a Catolé do Rocha (PB).

A caprino-ovinocultura é uma atividade pecuária tradicional em Governador Dix-sept Rosado. Tenho profunda gratidão a um eminente e respeitado cidadão de nome Fausto Martins, de saudosa memória, pois certa vez fez questão de separar diversas cabeças de criação de pequeno porte visando custear no futuro algo que precisasse em meus estudos.

Nunca esqueci o sabor das groselhas cultivadas no quintal da residência do casal Nô Rosado Bandeira-Penha Formiga. A casa de Dona Santa Formiga, nora dos simpáticos pombalenses, sempre foi referência no que tange às visitas, tendo em vista o grau de amizade que sempre foi reverenciado, fruto da convivência e da afinidade do esposo José Formiga com Severino Cruz Cardoso.

Participei de várias e inesquecíveis Festas de São Sebastião. A residência de Lourenço Menandro Cruz localizava-se próxima à igreja dedicada ao santo católico martirizado em razão de sua conversão ao cristianismo. Em sentido diagonal, estava a morada de outro paraibano conhecido por Pedro do Alecrim, amigo de longas datas de toda família, onde sempre tive livre trânsito.

No mercado, parada obrigatória a fim de colocar a conversa em dia, era praxe cumprimentar Leôncio Carlos, de saudosa memória, bem como Fernando aleijado, pois ambos foram amigos de longas datas de Severino Cruz Cardoso. A panelada preparada por Necí tornou o principal espaço de comercialização Dix-septiense uma referência para todos que cultuam as tradições da culinária sertaneja.

A prosa de Chico Bacatela, homem de caráter, justo e honesto, sempre foi admirada por todos que o conhecem, pois em verdade esse grande sertanejo é um verdadeiro repositório da história do lugar.

Sintetizo a importância de Governador Dix-sept Rosado em minha vida através da definição de que o lugar personifica relicário sagrado onde estão contidas lembranças marcantes de momentos felizes ali vividos dos quais nunca hei de esquecer.


(*) José Romero Araújo Cardoso. Geógrafo. Professor-adjunto da UERN.

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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