Por José Romero
Araújo Cardoso
Enxergar rastro de cobra ou vislumbrar couro de lobisomen são coisas inéditas
para a maioria do gênero humano, tendo em vista que ofídeos não deixam rastros
bem visíveis e o lendário e misterioso personagem do folclore nacional,
presente ainda em mitologias diversas espalhadas pelo planeta, parece existir
somente na imaginação ou na arte pérfida que acompanha imemorialmente
angustiantes desilusões perdidas.
O notável cantor e compositor paraibano Antônio Barros responsabilizou-se pela
feitura de uma das mais enigmáticas pérolas do nosso cancioneiro, intitulada
Homem com H, composta no ano de 1974.
A ênfase está para a necessidade da virilidade masculina, perseguida
incessantemente pela essência patriarcal que perdura enquanto embasamento
cultural de nossa sociedade, embora o apelo seja para que Maria diga que a
figura principal realmente é homem.
Como era tempo de censura implacável, período de vigência do regime militar no
Brasil, Antônio Barros peregrinou em busca de quem gravasse sua música permeada
de duplo sentido, conseguindo seu intento através de uma banda de vanguarda
batizada de Hydra, formada exclusivamente para viabilizar tal intento, devido
produtor musical da Copacabana Discos, conhecido por Mister Sam, ter sido
tomado de fascínio pela letra da canção.
Havia a necessidade de corroborar produções artísticas através da
influência de pessoas bem estruturadas no mundo musical, caso contrário seria
aventura desmedida lançar, gravar e divulgar músicas que não eram bem vistas
pelos censores de Brasília.
A execução da música ficou encarregada ao DJ Big Boy, da Rádio Mundial, do Rio
de Janeiro, e da Excelsior, de São Paulo, mas a gravadora desprezou uma das
obras-primas de Antônio Barros.
Em 1980, Antônio Barros gravou um compacto com a música, mas não obteve sucesso
algum, parecendo fadado ao esquecimento. Ninguém estava apto para valorizar a
sublime genialidade do grande compositor queimadense.
https://www.youtube.com/watch?v=R-IXpbPzywI
Finalmente em 1981 a música foi apresentada ao versátil artista nacional
Ney Matrogrosso, antigo carro-chefe do grupo Os Mutantes que desfez a ousada
composição artística que marcou a década de 70 do século passado e foi tentar
carreira solo.
O sucesso foi retumbante, elevando Antônio Barros ao panteão da consagração
nacional. Outra música da consagrada dupla gravada por Ney Matogrosso foi Por
debaixo dos panos, feito idêntico realizado pelo grupo de forró de raiz Os 3 do
Nordeste.
Não obstante Ney Matogrosso ter relutado em gravar Homem com H, pois de inicio
disse não ter simpatizado com a canção, esta se tornou um dos mais retumbantes
sucessos do performático artista brasileiro.
José Romero
Araújo Cardoso. Geógrafo (UFPB). Professor-Adjunto IV do Departamento de Geografia
da Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade do Estado do Rio
Grande do Norte. Especialista em Geografai e Gestão Territorial (UFPB) e em
Organização de Arquivos (UFPB). Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente
(PRODEMA - UERN). Escritor. Membro da Sociedade Brasileira de Estudos do
Cangaço (SBEC), do Instituto Cultural do Oeste Potiguar (ICOP) e da Associação
dos Escritores Mossoroenses (ASCRIM).
* Crônica não
classificada no III Concurso Lembrança do Ídolo, promovido pelo Parque Cultural
"O Rei do Baião" e Caldeirão Político.
Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzaguiano José Romero de Araújo Cardoso
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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