Por Fellipe Torres - Diário de Pernambuco
Publicado em: 13/07/2015 11:19 Atualizado em: 13/07/2015 -
Crédito: Imovision/divulgação
Após a morte do
líder do cangaço, Antônio Ignácio da Silva e Durvalina Gomes de Sá fugiram a pé
para Minas Gerais, onde se esconderam por 50 anos.
A defesa dos fracos contra os fortes está na essência do banditismo, um dos
fenômenos sociais mais universais da história, dizia o sociólogo britânico Eric
Hobsbawn, autor de Bandidos (Paz e Terra, 264 páginas, R$ 45).
No
livro, um dos capítulos é dedicado a analisar o cangaço brasileiro e a
revolucionária busca por justiça e vingança. Por ser tema recorrente de livros
e filmes, as vicissitudes da vida levada pelos rebeldes nordestinos e parte de
suas biografias continuam a ser desveladas com o tempo, mesmo 77 anos após a
morte de Lampião, símbolo maior do movimento. Dois desses personagens viveram o
suficiente para resgatar da memória experiências ao lado de Virgulino e,
reforçar, de certo modo, a teoria de Hobsbawn.
Crédito: Imovision/divulgação
Antônio
Ignácio da Silva e Durvalina Gomes de Sá eram vítimas quando se juntaram ao
cangaço. Ele sofria na mão da polícia. Ela, na da própria família. Do outro
lado da lei, “Moreno” revelou-se um algoz de confiança. “Durvinha”, esposa para
o cunhado de Lampião, já falecida na época. Quando o líder do grupo foi
assassinado, a dupla de cangaceiros se dispersou, fugiu a pé por cerca de 1,5
mil quilômetros, de Sergipe até Minas Gerais. Por lá, passaram mais de 50 anos
em silêncio, interrompido somente em 2006, quando os atos criminosos finalmente
prescreveram. A história do casal é contada no documentário Os últimos
cangaceiros, dirigido por Wolney Oliveira e em cartaz no Cinema São Luiz, nesta
terça e quarta-feira (15).
“Encontrei
Moreno e Durvinha em 2008, quando estava fazendo outro longa sobre cangaço.
Depois de algumas dificuldades iniciais, meu relacionamento com o casal virou
uma amizade, eles abriram o coração. Uma das cenas que gosto no documentário é
quando a família está reunida na sala para assistir às imagens dos cangaceiros
feitas em 1936 por Benjamin Abrahão”, diz o diretor. As filmagens duraram três
anos pelos estados de Pernambuco, Ceará, Bahia, Alagoas, Sergipe, Rio de
Janeiro e São Paulo.
O
longa-metragem traz depoimentos de familiares, conhecidos de juventude,
ex-coiteiros (aliados dos cangaceiros), ex-volantes (policiais) e estudiosos do
cangaço, entre eles o pernambucano Frederico Pernambucano de Melo. Segundo o
pesquisador, Moreno era homem de confiança de Lampião e, por isso, ficava encarregado
de tarefas brutais e crimes hediondos. Diante das câmeras o ex-cangaceiro não
nega o passado sombrio nem demonstra remorso. Diz ter perdido as contas de
quantos homens matou depois do vigésimo primeiro. Durvalina Gomes de Sá faleceu
em 2008, aos 92 anos. Em 2010, Antônio morreu aos 100 anos.
DEPOIMENTO
"Moreno
era muito valente e respeitado. Conheço crimes terríveis praticados por ele, um
dos três carrascos do bando de Lampião. Foi imortalizado historicamente por ter
cometido crimes hediondos. Era brutal, destacava-se na luta, mas era também
homem de planos. Como os cangaceiros não poderiam exercer o domínio pela
ocupação, que pressupõe disponibilidade de efetivo muito grande, dominavam pelo
terror. Eles precisavam ser temidos, de tal maneira que o adversário reagisse
aos ataques já de maneira acovardada. O soldado já chegava tremendo, pálido.
Sabia que, se fosse pego, seria apunhalado, sangrado lentamente. Isso para que
a notícia se espalhasse e ninguém combatesse o cangaço. Outra consequência era
a ausência de testemunhas, aterrorizadas”.
Frederico
Pernambucano de Mello, historiador, pesquisador do cangaço, autor de Guerreiros
do sol
MAIS CANGAÇO
TEATRO
De 22 a 26 de
julho, sempre às 20h, Serra Talhada, no Sertão do estado, recebe o espetáculo
Massacre de Angico – A morte de Lampião. Ao ar livre e gratuita, a peça remonta
a madrugada do dia 28 de julho de 1938, quando, na grota de Angico, em Sergipe,
11 cangaceiros foram mortos, incluindo Lampião e Maria Bonita. Todos tiveram as
cabeças decepadas, pondo fim à chamada Era do Cangaço.
MUSICAL
Na estreia de
Alceu Valença como diretor de cinema, o cangaço está no centro das lentes, em A
luneta do tempo. O longa estrelado por Irandhir Santos e Hermila Guedes foi
exibido em maio, no Cine PE.
ESTÉTICA
O pesquisador
Frederico Pernambucano de Melo acaba de lançar a terceira edição do livro
Estrelas de couro – A estética do cangaço (R$ 89). Na obra, analisa a cultura
material, o requinte e os significados das peças usadas pelos cangaceiros. Há
mais de 300 fotos históricas.
NÊMESIS
O pesquisador
e escritor Antônio Neto lançou, este mês, o livro Pegadas de um sertanejo –
Vida e memórias de José Saturnino (R$ 50), que traz relatos biográficos do
inimigo número um de Lampião, José de Barros.
http://www.diariodepernambuco.com.br/app/noticia/viver/2015/07/13/internas_viver,586283/cangaceiros-crueis-do-bando-de-lampiao-sao-velhinhos-doceis-em-documentario.shtml
http://blogodmendesemendes.blogspot.com
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