Por Sálvio
Siqueira
O estado de
Pernambuco, assim como todos da região Nordeste, dividem-se em micros regiões,
essas fazendo parte de vários Estados, adentrando nas terras, não respeitando
limites nem divisas, como por exemplo, o alto e baixo sertão, e todos sob a
proteção da mata Branca, da Caatinga, bioma ímpar no planeta terra.
Nessas micro
regiões, particularizando aqui o interior do “Leão do Norte”, tem um local, ou
localidades, onde se produz uma cultura, mais do que as outras costumeira, e/ou
se cria determinado tipo de animais. Isso devido, principalmente ao tipo de
vegetação predominante que, logicamente, é quem ‘rege a batuta’, dando as
coordenadas.
No sertão do
Pajeú das Flores, na faixa de terra entre as cidades de Floresta e Vila Bela,
havia uma porção de terra que lhe deram o nome de Fazenda Algodões. O clima, o
solo e a vegetação fizeram dessa região um alto produtor de caprinos e bovinos
de determinada raça. Com essa facilidade, o próprio terreno, solo, fornecendo,
naturalmente, uma vegetação comestível, servindo de alimentação rica para os
animais, tornara-se uma terra rica e bastante habitada. Mesmo que, a maioria de
seus habitantes pertencesse quase que exclusivamente há uma só família.
Pelos idos de
1917 essa propriedade rural era o imóvel do Sr. Domingos Soriano de Souza. Esse
senhor era dono do Cartório de Registro, que ficava na propriedade e, sendo
alfabetizado, resolveu alfabetizar as pessoas daquela ribeira criando,
montando, uma Escola no local, na qual, os ‘Ferreira”, Antônio, Livino e
Virgolino, assim como toda criança da circunvizinhança , na época, estudou.
Domingos
Soriano constitui matrimônio com dona Felismina Florença de Souza Ferraz, de
quem era prima. Produziram uma prole enorme, pois, naquele tempo era assim,
levava-se ao pé da letra o que determina ‘...as escrituras’, “crescei e
multiplicai-vos! Tendo filhos sendo chamados de “João Domingos Ferraz, Manoel
Soriano Lopes Ferraz, Luiz Soriano Lopes Ferraz, Florença, Joana, Antônia,
Maria, dois que morreram em tenra idade: Cícero e Maria.”
Os vizinhos do Sr. Domingos eram os donos de fazenda, ou fazendeiros: “Antônio Jurubeba Gomes; Manoel Gertrude; Francisco Euzébio; Joaquim Alexandre; Antônio Freire; Francisco de Souza nogueira; Gregório de Souza Nogueira e João de Souza Nogueira.
Pois bem,
certo dia de domingo, tirando a cesta do meio dia, um dos filhos do Sr.
Domingos Soriano, Manoel Soriano Lopes Ferraz, por todos conhecido pela alcunha
de ‘Manú’, tem um sonho que parecia uma visão. Nele, ou nela, na visão, Manú
ver duas fileiras de casas e uma capela em uma de suas extremidades, e a
localidade era ali, na fazenda de seus pais. Ao acordar, Manú começa a contar
aquele sonho para todos que se entrasse.
Nas terras da
fazenda Algodões, aos finais de semana, priorizando os domingos, gerava-se uma
grande concentração de pessoas. Elas vinham de várias partes, locais, para
fazerem os registros no Cartório do senhor Domingos, pois era somente o domingo
o dia de suas folgas.
Encontrava-se no dia do sonho sonhado por Manú, no terreiro do Cartório um cidadão de nome Marcos Gomes de Sá. Escutando da boca do próprio a narração do sonho resolveu p seguinte: Esse dito senhor tinha uma tropa de burros, era almocreve. Oito dias depois, no domingo seguinte, ao vir para a fazenda, coloca as cangalhas nos lombos dos burros e nelas, nas cangalhas, uma porção de mercadorias. A novidade é acatada por todos e a mercadoria é vendida rapidamente. No outro vindouro final de semana, ele leva mais mercadorias e, umas senhoras, vendo que a aglomeração estava com bastante gente, montam umas barraquinhas para venderem comida.
Tanto os
‘comerciantes’ pioneiros como as pessoas começam a achar tão boa e incrível
aquela nova situação, aquele meio de comprar e vender, que logo, logo a tornam
numa espécie de ‘feira livre’. Os artesãos levavam suas artes, alguém vendia
rapadura, outro vendia farinha de mandioca, havia a ‘feira do troca’, onde
trocava-se os animais, as selas, as armas e tudo quanto existia numa feira
comum de qualquer cidade interiorana.
Almocreves, mascates, marchantes e outros comerciantes passaram a ‘fazerem a feira’ de Algodões semanalmente. João Gomes de Lira cita em seu “Lampião – Memórias de um Soldado de Volante’, primeira edição, 1990, que os primeiros mascates, vindos da cidade de Floresta, PE, sede do município onde se encontrava a fazenda, foram os senhores: “José Tiburtino Novaes; João Gominho Filho; Joaquim Gomes de Novas; Antônio; Major Novaes.
Bom, com o
desenvolvimento da feira, é claro que não só viria para a mesma, pessoas a fim
de comprarem, trocarem e venderem, mas, de também aqueles que iriam para
tomarem umas cachaças e abrirem ‘embuanças’. O ilustre e saudoso militar nos
revela que: “... foram também aparecendo os amigos da “truaca”, que passaram a
perturbar a ordem do lugar.” Ele, João Lira, mais adiante, em suas entre
linhas, cita até os nomes dos mais ‘famosos’ briguentos: “...Tais elementos
eram negros do Pajeú: Manoel Jardim, Antônio Severino, Enedino Cajueiro, Pedro
Cajueiro, José Onça; Caboclo Aristides Libano e o parceiro Joaquim Pão.”
Como não podia
deixar de ser, termina aquela feira semanal sendo oficializada. No entanto,
para que isso ocorresse, o proprietário, Domingos Soriano, juntamente com seu
vizinho, o senhor Antônio do Campo Alegre, doam parte das suas terras para que
se oficializasse a mesma. A diocese envia o Padre José Ribeiro do Vale, este
fazendo a padroeira do local ‘Nossa Senhora das Dores’. O Padre levou para
Algodões a imagem da santa, representante e padroeira, que pertencia a uma
senhora conhecida como dona Lala, residente na sede do município, Floresta. Só
que o vigário não havia comunicado a senhora, dona da imagem, de que a levaria
para Algodões. Ela, ao saber, não gostou e exige a devolução da mesma. As
pessoas que já residiam nas casas recém-construídas em Algodões, ao ficarem
sabendo, resolvem devolverem a imagem. O fazem em forma de procissão, o que
comoveu e marcou muita aquela população pioneira.
A pequena
população começa a confabular sobre que não poderia o aglomerado ficar sem a
proteção de uma, ou uma, padroeiro (a). Então, João Lopes de Souza Ferraz,
cidadão abastado, compra pela cifra de cem mil réis uma imagem representando a
Santa Nossa Senhora da Saúde e a doa para as pessoas daquele povoado. As missas
e comemorações religiosas, isso já no ano de 1919, eram realizadas na casa de
um dos fundadores, Gomes Jurubeba. Ficando essa, Nossa Senhora da Saúde, a
padroeira do local, tendo sido marcado, agendado, o dia 15 de cada mês de
agosto para que se realizem as festas da padroeira. Gomes Jurubeba, não sendo
possuidor de recursos, mas homem de ação começa a construção de uma Igreja,
porém, a falta de recursos o deixa na pior, sem condições de levar seu projeto
adiante, no entanto, envia várias moças da localidade, inclusive suas filhas,
para que angariassem recursos a fim de poderem prosseguir na construção da
Igreja.
Mesmo
recebendo várias doações, a quantia arrecadada não deu para prosseguirem com a
construção. Gomes então desfaie-se de suas posses, gado e caprinos, e com o
dinheiro da venda dá prosseguimento a edificação.
No ano de
1918, entre os meses de fevereiro e março, é registrada em Cartório a fundação
de um povoado, passando a ser oficial a passagem da fazenda Algodões para um
Povoado: “... De 18 de fevereiro a 09 de março de 1918, conforme o livro 8,
fls. 28v e 29v, a fazenda Algodões passou a ser Povoado.” (Ob. Ct.)
O sacerdote
Zacarias Paiva, o qual celebrava as missas na povoação, deu a ideia de que
seria melhor mudar o nome daquele povoado para Nazaré, ideia ou sugestão aceita
por todos. Desse modo, entre os meses de setembro e outubro do mesmo ano, ou
seja, 1918, Algodões passam a ser, oficialmente, Nazaré, tendo sido feito esse
registro no Cartório do povoado de Algodões. “No livro 8, fls. 36v e 37 v, de
06 de setembro a 29 de outubro do mesmo ano (1918), passou a denominar-se
NAZARÉ, registrado em Cartório de Algodões.”
Após a oficialidade, o agora Nazaré, não se desenvolve como era a esperança de todos. Pelo contrário, depois da oficialidade a coisa ‘esfria’ quase que totalmente. Passado a Distrito da cidade de Floresta, tem como seu primeiro Subdelegado de Polícia o Sr. João Lopes de Souza Ferraz. O Distrito ainda teria outras alterações em seu nome.
O interventor
federal do Estado de Pernambuco, governador Agamenon Magalhães, muda o nome de
Nazaré para Carqueja, “Pelo decreto-lei nº 92, de 31-03-1938, o distrito de
Nazaré passou a denominar-se Carqueja (IBGE), devido a já existir uma cidade
com o nome de Nazaré, que é Nazaré da Mata e, como o próprio nome refere, na
zona da mata do Estado. A denominação “Carqueja” não fora aceita pelas pessoas
que viviam naquela povoação, pois em nada se compatibilizava com a mesma, no
entanto, tempos depois, o nome volta a ser Nazaré, mas, com um acréscimo, “pela
lei municipal nº 1, de 22-07-1989, o distrito de Carqueja passou a denominar-se
“Nazaré do Pico”.
Fonte “LAMPIÃO
– Memórias de um Soldado de Volante” – LIRA, João Gomes. Recife: FUNDARPE,
1990.
INSTITUTO
BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA – IBGE
Foto “O Canto do Acauã” – FERRAZ, Marilourdes. 4ª Edição Revisada e atualizada
Foto “O Canto do Acauã” – FERRAZ, Marilourdes. 4ª Edição Revisada e atualizada
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