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segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

O AMOR INFELIZ DE MARIA BONITA

Por Freire Ribeiro
Imagem que vi por aí

Especialmente para o Correio de Aracaju

Há na vida — transitória jornada dos corações — mil motivos de amor.

Amor-sonho, amor-fé, amor-esperança, amor-caridade, amor-renúncia, amor-saudade, amor-luz, amor-treva.

Qual seria o amor de Maria Bonita?...

A ninguém é dado mergulhar nos misteriosos e profundos mares da ternura humana.

Flor selvagem e ardente — botão da caatinga —, Maria Bonita, como toda mulher, tinha coração e, como todo o coração, seu coração tinha amor.

Era talvez, dentro na existência tumultuosa e lendária do cangaceiro terrível, o amor de Maria Bonita uma luz mansa e pura — luz de alvorada festiva, transfeita num imenso e sangrento crepúsculo.

Jornais parisienses, folhas que circulam na velha Europa, poetizam a finalidade trágica da sua vida, aureolando-a como se fora Maria Bonita, mística apaixonada nos jardins de Verona.

Lampião foi feliz.

Mesmo com esse amor que muitas vezes modifica os temperamentos exacerbados, seu nome mergulhou num ocaso de sangue, de crimes terríveis, de misérias profundas.

Foi a fera danada, desumana: — foi, enfim, o que foi.

O destino — o imperador inevitável das almas, colocou uma mulher dentro no coração vermelho e ardente do cangaceiro, cloroformizado pelos fluidos mágicos do maior sentimento humano que é o amor.

Poetas não faltarão que recamem com rimas d’oiro o nome da sertaneja bravia.

Maria Bonita entrará para a história, não de rifle em punho e de punhal à cinta.

Ficará na lembrança redentora dos amorosos, perpetuada num oceano de beijos mornos e de afetos candentes.

Já não é tão má como fora.

E dentro em breve, muita gente há de ver, sertão afora, vagando nas solitárias noites enluaradas, por sobre a infinidade das caatingas do norte, o vulto radiante de Maria Bonita, contando pela voz eterna dos ventos nas manhãs de sol, nas tardes de violeta, ou nas noites de lua — noites caboclas do Brasil romântico a história dolorosa e sangrenta do seu amor infeliz.

08/08/1938

Material do acervo de Antonio Corrêa Sobrinho

https://www.facebook.com/groups/lampiaocangacoenordeste/

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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