Material do acervo do pesquisador do cangaço Kiko Monteiro
Antônio
Silvino - Jornal do Commercio (1915)
No fim do
século XIX e início do século XX o Brasil assistiu a emergência do fenômeno do
cangaço, cujo expoente foi Lampião e seu bando. Todavia, na região da divisa
entre Pernambuco e Paraíba o principal nome do cangaço foi o conhecido Antônio
Silvino. Vejamos acima uma imagem do mesmo:
Antônio
Silvino e seu bando passaram diversas vezes pelo território do município de
Barra de São Miguel- PB, como veremos nesta e em outras reportagens desta
série. Contudo, o principal ataque ocorreu no dia 26 de janeiro de 1907, quando
a Barra de São Miguel era ainda a Sede do município de Cabaceiras e possuía uma
rentável mesa de rendas.
A seguir,
vejamos como a imprensa da época noticiou este ataque. Segue reportagem do
Jornal A República de Natal - RN, que reproduz matéria do jornal
paraibano A União.
Segue a
transcrição literal do relato jornalístico:
Antonio Silvino
A ultima façanha
Sobre a ultima façanha de Antonio Silvino, o ataque da villa da Barra de S.
Miguel, na Parahyba, lemos o seguinte, na ,:
Segundo informações fidedignas recebidas dessa villa sertaneja, eis o que se
passou por ocasião da estada ali do bandido Antonio Silvino.
No dia 26 de janeiro, depois de 11 horas da noite, entrou o grupo formado de 13
cangaceiros, inclusive o chefe, na villa, onde não havia a menor noticia da sua
aproximação. Cerca de uma hora antes, estiveram na casa do delegado de policia,
cidadão Nicolau Vitalino Correia de Araujo, distante da villa um kilometro e
obrigara o mesmo delegado a acompanha-lo e a servi-lhe de guia.
Ao entrar na villa, Antonio Silvino dirigiu-se a cada uma das residências das
praças de policia, que em um número de três guarneciam a localidade e foi
prendendo-as cada uma por uma vez. Tomou-lhes as armas e os fardamentos, e
obrigou-as a acompanha-lo.
Presa e desarmada a ultima praça, dirigiu-se o facínora á casa de João
Anastácio, ex-praça do Batalhão de Segurança, que a cerca de quatro annos
sutentara fogo contra ele na povoação do Boqueirão.
A voz do delegado, prisioneiro de Antonio Silvino, João Anastacio abriu a
porta, sendo subitamente amarrado pelo grupo e arrastado para a rua, onde
recebeu grande numero de açoites e duas facadas.
Depois seguiu o grupo para a casa do capitão Manoel Henrique do Nascimento
Araujo, escrivão da Mesa de Rendas, ao qual intimou a entregar todo o dinheiro
existente na repartição, no que foi obedecido.
Assim passou ás mãos de Silvino a quantia de trezentos e tantos mil reis, único
dinheiro existente na Mesa de Rendas porque o respectivo administrador major
Deodato Pereira Borges, tinha vindo pouco antes á capital recolher a
arrecadação do ultimo trimestre.
Os bandidos obrigaram o referido escrivão a abrir a repartição, onde se
apoderaram de todos os livros, papeis e estampilhas que conduziram para a rua e
queimaram completamente. Silvino recomendou então ao escrivão que da
arrecadação que fizesse, guardasse-lhe cada mez 50$000, que ele viria ou
mandaria buscar.
Foram d’ahi á casa do subdelegado de policia, Candido Casteliano dos Santos,
contra quem Antonio Silvino estava prevenido, e que recebeu a exigência de um
conto de réis, sob pena de ver incendiado o seu estabelecimento comercial.
O sr. Candido Casteliano respondeu que não dispunha de quantia tão elevada
porque fizera pouco antes remessa para a praça do dinheiro apurado, pelo que
Silvino aceitou a importância de 400$000, tirando porem fazendas no valor de
200$000.
Exigiu e
recebeu 50$000 do cidadão Olyntho José de Vasconcelos, 1º suplente do
Substituto do Juiz Seccional.
Mandou esbordoar uma praça do destacamento de nome Pedro Rodolpho, porque esta declarou que só se entregara sem resistência por ter sido sorprehendida.
Tudo se fez no maior silencio de modo que as pessoas, que se achavam
agasalhadas no interior das casas não presentiam o que se passava na rua.
Antes de retirar-se, Antonio Silvino mandou bater na porta do tenente-coronel
Manoel Melchiades Pereira Tejo, que até então ignorava o que se estava
passando, e que despertando, abriu a porta.
D’elle exigiu
Silvino café para si e seus companheiros no que foi satisfeito, retirando-se da
villa ás 3 horas da madrugada.
Em breve apresentaremos os desdobramentos deste ataque de cangaceiros a Barra de São Miguel - PB.
João Paulo
França, 06 de julho de 2017.
Fonte:
Jornal A Republica. 13 de fevereiro de 1907, Natal. Ano 19, número 33
Jornal do
Commercio, 02 de janeiro de 1915, Manaus. Ano 12, número 334
Pesquei
em Memória
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