Tomislav R.
Femenick – Jornalista e historiador – Do IHGRN
O Rio Grande
do Norte é pródigo em esquecer os grandes nomes de sua história. Em Mossoró,
menos. No entanto, até lá há uma seletividade no que deve ser cultuado. Há
quase 20 anos, coloquei à disposição das autoridades locais os originais de 5
(cinco) livros, nos quais descrevo a história da cidade entre 1963 e 1972
(período que cobre todo o mandato de Raimundo Soares de Souza como prefeito, de
1963 a 1968). Na ocasião ouvi de um prócer local: “Vamos estudar”. Até hoje não
recebi resposta.
Mossoró teve
dois grandes prefeitos. Padre Mota em cujo mandato, segundo Câmara Cascudo, “tudo
se agita e se modifica”, em um “ambiente de vibração, de tarefa contínua, de
labor sem pausa”. Em seu governo de quase dez anos, transformou a quase vila em
uma cidade pujante; industrial, centro comercial e irradiadora do progresso. O
desafio de Raimundo Soares foi atualizar e dinamizar essa lógica, para o que
era necessário uma nova infraestrutura.
A primeira
luta foi a busca pela água, um problema secular na cidade, que se agravava com
o seu crescimento. O problema foi resolvido com o descobrimento de um lençol
aquífero, com profundidade em torno de 700/800 metros. Alguns “poços
resolveriam o abastecimento de uma população de 400 mil pessoas”. Naquele
momento, a população era de 80 mil habitantes. A segunda foi a busca pela
energia elétrica. Na ocasião, o então prefeito disse: “A luta pela energia foi
um dos esforços mais dramáticos da minha administração”(Diário de Natal,
19.03.1967). Para tanto contou com a ajuda da SUDENE, dos Senadores Dix-huit
Rosado e Dinarte Mariz e do Deputado Vingt Rosado, que empenharam verbas no
orçamento da União para a construção do linhão e da modernização da rede local
de distribuição.
Outra frente
que a administração Raimundo Soares abriu foi pela modernização e ampliação do
ensino. A rede municipal de ensino básico foi ampliada, as escolas antigas
foram remodeladas, os professores receberam cursos de aperfeiçoamento e
atualização, foi construído o prédio e inaugurado o primeiro Ginásio Municipal,
que atendia a quase 500 alunos. Mas o grande passo foi a criação das primeiras
faculdades (Economia, Filosofia e Serviço Social) e, depois, duas instituições
que deram origem às duas universidades públicas que ainda hoje têm sede em
Mossoró: a Universidade Regional do Rio Grande do Norte (hoje Universidade do
Estado do Rio Grande do Norte) e a Escola Superior de Agricultura de Mossoró (a
atual Universidade Federal Rural do Semi-Árido). Nos trabalhos que resultaram
na estruturação do segmento de ensino superior, houve participação
significativa de João Batista Cascudo Rodrigues, Vingt-un Rosado e Dix-huit
Rosado; foi uma tocata a oito mãos.
No final do
seu governo, Raimundo Soares enfrentou um sério desequilíbrio financeiro,
reflexo da crise que atingia alguns dos mais expressivos setores da economia
mossoroense – sal, algodão e cera de carnaúba – e das alterações da política
econômica e fiscal da União. Falando sobre o assunto, afirmou: “Determinei
rígido regime de economia, não preenchi cargos vagos e extingui outros. Acresce
que a Prefeitura tem pesados ônus. Inclusive de 70 poços tubulares perfurados
pelo meu governo. Além de despesas com ensino, cultura, saúde, eletrificação [...].
Deixei o governo em ótima situação econômico-financeira e com o funcionalismo
pago em dia [...]. Mas ainda: deixei condições para que o meu sucessor realize
uma grande administração. Imprimi à administração de Mossoró um tal ritmo
(inclusive através de uma reforma administrativa) que dificilmente, alguém
poderá mudá-lo”.
Apesar de todo
o seu trabalho por Mossoró, o prefeito Raimundo Soares de Souza somente é
homenageado dando nome a uma escola, uma rua (que nem é encontrada no Google
Maps), um prédio de uma central de abastecimento e um ala da Universidade
Estadual. Era nome da Estação Rodoviária. Quando inauguraram um prédio novo
tiraram o seu nome.
Tribuna do
Norte. Natal, 14 nov. 2019
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