Por Geraldo Maia do Nascimento
Palestra
proferida no 4º ENOAL – Encontro Norte-Nordeste de Autores Literários da
Sociedade Brasileira de Dentistas Escritores, no dia 12 de agosto de 2006, no
auditório da Estação das Artes Elizeu Ventania.
Camões,
no Canto III dos “Lusíadas” tem um verso onde diz: “Não me mandas contar
estranha história, mas mandas-me louvar dos meus a glória”. Faço minha as
palavras do poeta, para louvar um pesquisador mossoroense. Um homem que dedica
a sua vida ao estudo da história da região. E que por sua dedicação, é
considerado por todos como o “Guardião da Cultura Mossoroense”.
No
último dia 23 de abril, o pesquisador Raimundo Soares de Brito, o nosso
“Raibrito” completou 86 anos de idade. Nascido em Caraúbas, a 23 de abril de
1920, veio para Mossoró em 1940, ainda jovem, e permanece até os dias atuais.
Segundo Raibrito, o seu interesse para a pesquisa histórica começou quando foi
fazer o treinamento para a admissão como Agente de Estatística, em Natal, no
ano de 1941/42, e teve que preencher dados sobre a história sócio-econômica de
sua terra natal. Aquilo o levou a iniciar as suas anotações para o futuro.
Essas anotações viriam a se tornar, mas tarde, no livro “Caraúbas Centenária”,
em 1959. Um pesquisador incansável, que sem qualquer ajuda de governo,
instituições ou pessoas organizou um arquivo fabuloso com mais de quinze mil
biografias de tantos quantos têm ou tiveram alguma influência em Mossoró e
região. Sua dedicação a pesquisa é tanta, que nem mesmo um acidente vascular
cerebral foi capaz de tirar o seu entusiasmo. Aos 86 anos de idade, mantém a
rotina de acordar cedo e ler os jornais, de onde tira o material que alimenta o
seu acervo. Mossoró inteira, estudantes, jornalistas e pesquisadores, recorrem
diariamente a sua casa, a casa de número 23 da rua Henry Koster, em busca de
informações. Raimundo Brito, o intelectual, é um homem simples que se orgulha
de poder ajudar a todos que o procuram.
Como
pesquisador e historiador já publicou mais de quarenta títulos pela Coleção
Mossoroense, sobre temas de versam principalmente sobre Mossoró e o Oeste
Potiguar. Como disse certa vez o saudoso mestre Vingt-um Rosado, \"Os seus
livros e as suas plaquetes permanecerão, através do tempo, como uma
contribuição extraordinárias ao conhecimento da gente e da terra do oeste
potiguar\".
A
sua dedicação pela história de Mossoró tem lhe rendido frutos nos últimos anos.
Foi destacado em 1995 com o título de “Doutor Honoris Causa” da então
Universidade Regional do Rio Grande do Norte e em 1997 agraciado com o diploma
“Amigo da Cultura”. Raibrito, um autodidata, é hoje presidente da Academia de
Letras de Mossoró (AMOL), sócio fundador da Sociedade Brasileira de Estudos do
Cangaço (SBEC), sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande
do Norte (IHGRN) e sócio efetivo do Instituto Cultural do Oeste Potiguar
(ICOP).
Raimundo
Brito é um homem de memória privilegiada. Testemunha ocular da nossa história
viu e vivenciou os homens e fatos que fazem parte da história potiguar. Uma
conversa informal com Raibrito, se constitui numa verdadeira aula de
conhecimentos gerais, principalmente no que diz respeito a região de Mossoró.
Um
pesquisador incansável, capaz de estudar um mesmo assunto por quase quarenta
anos, como é o caso do livro que escreveu sobre os patronos das ruas de
Mossoró.
No
seu último trabalho publicado, digo último publicado porque vários títulos
estão aguardando ainda publicação, intitulado “Eu, Ego e os outros, raibrito
traça uma espécie de auto-biografia através dos tipos populares que foi
encontrando ao longo da vida, em cada cidade onde morou. Esse trabalho foi
publicado graças a um patrocínio da Petrobras e eu tive a honra de escrever uma
das orelhas do livro, em nome do Instituto Cultural do Oeste Potiguar. O Dr.
Dix-sept Rosado Sobrinho, Presidente da Fundação Vingt-un Rosado me dizia, a
poucos dias, que a Fundação estava relançando o Diário do Cel. Gurgel”, um dos
livros de Raibrito que se acha esgotado.
Mas
Raimundo é um homem de 86 anos de idade, doente e só, já que perdeu sua
companheira, Dona Dinorá, em 1º de agosto de 2004. Sempre houve a preocupação
com o destino que teria seu arquivo depois de sua ida para o além.
Representantes da Fundação José Augusto informaram que havia naquela
instituição um projeto para a construção do Memorial Raimundo Soares de Brito.
O projeto previa a aquisição de um prédio para onde deveria ser transportado
todo o acervo do pesquisador. Esse projeto nunca saiu do papel, se é que um dia
chegou ao papel. A Universidade do Estado do Rio Grande do Norte também tinha
um projeto semelhante, segundo nos informaram. Esse também nunca se
concretizou. E há um outro problema: como tirar o acervo da casa de Raimundo,
se esse acervo é a própria vida da casa, ou seja, sua razão de viver? Era
mister procurar uma outra maneira de preservar o valioso arquivo. Foi aí que
surgiu a idéia da biblioteca virtual.
A
idéia de criar uma biblioteca virtual com o acervo do professor Raimundo Soares
de Brito surgiu de uma conversa nossa com Vinícius Barreto, que naquela época
era o Gerente da Assessoria de Comunicação Empresarial da PETROBRAS em Mossoró.
Falávamos da biblioteca do professor Raimundo, quando Vinícius perguntou: Já
que você faz parte de tantas instituições culturais da cidade, por que não
tenta aprovar um projeto pela “Lei de Incentivo a Cultura” para preservação
dessa biblioteca? Lembro ter respondido no momento que aprovar um projeto pela
Lei de Incentivo a Cultura, talvez não fosse tão difícil. Difícil seria
conseguir o financiamento depois. Mas Vinícius insistiu dizendo que um projeto
dessa natureza era capaz da própria Petrobras financiar. E disse mais: “Se você
aprovar o projeto, eu prometo me empenhar por ele”.
Essa
conversa com Vinícius me deixou eufórico. Comecei a pensar no que poderíamos
fazer. Surgiu daí a idéia da Biblioteca Virtual. Seria um portal na Internet,
onde poderíamos disponibilizar todo o acervo que Raimundo Brito juntou ao longo
de sua vida, que sabíamos ser composta, entre outras coisas, da biografias de
mais de quinze mil pessoas que tiveram alguma influência no oeste potiguar.
Resolvido
o teor do projeto, faltava buscar o apoio de uma das instituições culturais.
Recorria ao ICOP – Instituto Cultural do Oeste Potiguar – por dois motivos:
primeiro por fazer parte do seu quadro social; depois por ser o ICOP a
instituição cultural mais antiga de Mossoró, o que daria credibilidade ao
projeto.
Marquei
com o professor Wilson Bezerra, presidente do ICOP, uma reunião no Museu
Municipal (que na época era a sede do ICOP) para falarmos sobre o projeto. A
princípio o professor Wilson ficou temeroso, mas com o desenrolar da conversa,
foi se convencendo da importância do projeto para a área cultural, não só de
Mossoró como de todo o Estado.
Marcamos
então uma segunda reunião que deveria acontecer na casa do professor Raimundo
Soares de Brito para explicar-mos o projeto ao mesmo. Terminada a explicação,
Raimundo disse que nos termos que estávamos expondo, ele aprovava a idéia e
liberaria o material de sua biblioteca, desde que os trabalhos fossem feitos em
sua casa. Acertados os detalhes, passamos a execução do projeto.
O
projeto consistiu na digitalização de aproximadamente trezentos mil documentos (textos,
foto, recortes de jornais e revistas), disponibilização desse material num
portal da Internet, aquisição de três computadores com mesas e cadeiras que
deveriam ser distribuídos da seguinte forma: 01 computador no Museu Municipal,
01 no Museu do Petróleo e o última na residência de Raimundo Soares de Brito.
O
valor do Projeto foi orçado em R$ 120.532,32 (cento e vinte mil, quinhentos e
trinta e dois reais e trinta e dois centavos), sendo que desse montante 80%
será do Programa Estadual de Incentivo a Cultura e os 20% restante de recurso
próprio do patrocinador, que no caso é a Petrobras. O prazo para execução dos
serviços era de 240 dias corridos.
Iniciamos
o projeto com uma equipe de aproximadamente 10 profissionais trabalhando na
catalogação e digitalização do acervo, de modo que em 03 de agosto de 2005
podemos presentear Mossoró com a disponibilização da Biblioteca Raimundo Soares
de Brito.
Entendemos
que com a concretização desse sonho, demos um grande passo para a preservação
do acervo de Raibrito. Muito há ainda por fazer. Mas a semente foi plantada e
está germinando, pois a própria Petrobras já anunciou que vai continuar
patrocinando esse projeto.
Para
finalizar essa palestra, bem que podemos plagiar Camões e dizer: “Porque de
feitos tais, por mais que se diga, mais me há de ficar inda por dizer”.
Da
terra de Santa Luzia do Mossoró, Santa da eterna claridade visual, aos 12 dias
do mês de agosto de 2006.
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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