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segunda-feira, 27 de abril de 2020

CORDEL NO EMBALO DAS REDES

Por Dalinha Catunda

1
Meu cordelzinho matuto
Das feiras do meu sertão
Hoje reina absoluto
Tem farta divulgação
Com seu jeitão enxerido
Agora todo exibido
Brilha na televisão.
2
Aparece ledo e belo,
Nos mais diversos canais.
Sem deixar de ser singelo
Vai estampando jornais
Com sua xilogravura
Mostrando sua cultura,
Que nunca será demais.
3
Um programa especial
No “Globo Rural” ganhou.
E no “Salto Pro Futuro”,
O seu valor realçou.
Lá no “History Channel”,
Os detalhes do cordel
Vi que história revelou.
4
Hoje é tema de novela,
Este cordel encantado,
De rainhas e princesas,
E do cangaço falado.
Tem no reino da poesia
Um passado de magia
Que revejo resgatado.
5
Como eu fico orgulhosa
Em ver o meu matutinho,
Sendo bem reconhecido
Mesmo fora do seu ninho.
Está fazendo bonito,
No cordel eu acredito
Pois é ele meu caminho.
6
Escutei cordel em feiras
E rodas de cantoria.
Em encontros com poeta
Onde reinava alegria.
Agora mais abrangente
Continua ele imponente
Disseminando magia.
7
A internet chegando,
Vestiu asas no cordel,
Que voou pra todo canto,
Como um alado corcel,
Com toda desenvoltura,
Aproveitou a abertura
Para firmar seu papel.
8
Um dia virou folheto
O que era apenas oral.
Chegou à televisão,
Também revista e jornal.
Hoje na internet brilha
Vai seguindo a nova trilha
Neste mundo virtual.
9
Na internet hoje impera,
A real democracia,
Lemos o contemporâneo,
E o antigo se aprecia
Com a multiplicidade
O cordel vira verdade
Que na rede contagia.
10
O cordel de trajes simples
Ou bem vestido a rigor
Sempre será respeitado
Sempre terá seu valor
Pois trazendo erudição,
Ou apenas inspiração
Traz na rima seu calor.
11
O cordel de trajes simples
Residiu no interior.
Nas emissoras de rádio
Na boca do locutor.
No sorriso e na alegria
Nas noites de cantoria
E na voz do cantador
12
Cordel vestido à rigor
Seu espaço conquistou
Usando terno e gravata
Na escola ele entrou
Traz no seu falar polido
Um linguajar tão sabido
Que o professor adotou
13
Este cordel que desponta,
E chegou para ficar.
Inserido nas escolas
E ajudando a ensinar
Traz na bagagem magia
É o novo que contagia,
Ajudando a educar.
14
Quais as faces do cordel?
Quem poderá me dizer?
Não diga que é só matuto
Pois nisso eu não posso crer!
Não diga que é erudito
Pois também não acredito.
Mas tudo poderá ser.
15
O Cordel é um alento
Para o forte Nordestino.
Cultivador de saudade
Um eterno peregrino.
Que leva no coração
As histórias do sertão,
A saga do seu destino.
16
É a gritante saudade
Da farinha no surrão.
A saudade da paçoca
Bem pisada no pilão
Da pamonha, da canjica
Do amor a terra que fica,
Grudado no coração.
17
É a cantilena brejeira
De quem viveu no sertão.
Tudo que passou um dia
Vivendo no seu torrão
Morando na capital
O cordel vira jornal,
A fonte de informação.
18
O cordel é identidade
Do homem do interior
Que veio para cidade
Estudou pra ser doutor
Mas apesar de formado
Recorda bem o passado
E as raízes dá valor.
19
Preso com os pregadores
Pendurado em cordão.
Avistava-se o cordel
Lá nas feiras do sertão.
Agora bem editado,
E ricamente ilustrado
Não falta divulgação.
21
Se o cordel tem oração,
Tem reza tem ladainha.
Tem a saga de um povo
Que incansável caminha
Registrando sua história
Para guardar na memória
O que oralmente retinha.
22
Vi a internet chegar
Para o cordel socorrer
E zombar de quem dizia
Que o cordel ia morrer.
Acompanhando o progresso
Um cordel sem retrocesso
Hoje só faz é crescer.
23
O cordel incorporou
A mulher nessa cultura
Agora ela pinta e borda
Entende a literatura
Sabe como interagir
Ver o leitor aplaudir
Sabe manter a postura.
24
Eu sou Dalinha Catunda,
Também me assino Aragão.
Sou amante da poesia
Que germinou no sertão
Em Ipueiras nascida
Ao cordel eu dou guarida
Pois ele é minha paixão.
*
Cordel e foto de Dalinha Catunda


http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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