Por Conrado Matos – Psicanalista, Poeta, Filósofo e Escritor.
Foto: Um
recorte de um Jornal, possivelmente, baiano, com a foto da Mulher de Roxo.
Quem já está
com mais ou menos 50 anos de idade e morou em Salvador nos anos 80, deve se
lembrar da "Mulher de Roxo". Seu nome verdadeiro, Florinda Santos.
Quando eu passava pela Rua Chile, pelo passeio da bonita Loja Sloper, a Mulher
de Roxo se aproximava de mim e, em voz baixa, ela me falava: "Me dê uma
esmolinha pelo amor de Deus". Eu oferecia para ela uma moeda e a mesma me
agradecia. Ela demonstrava muita educação, porém, dava para perceber sua
subjetividade apagada e sem brilho.
Florinda
Santos foi uma mulher misteriosa. Diziam que ela teria enlouquecido por ter
sido abandonada pelo noivo. Vi sempre falando sozinha na porta da Sloper.
Qualquer pessoa poderia notar seu nível mental degradante. Mesmo parecendo uma
pessoa silenciosa, de certa calma, dava para notar a demência.
Notável figura
lendária, pouco se sabe da verdadeira origem de Florinda. Vestia-se com uma
manta de freira, em cor roxa, com um terço, um grande crucifixo e andando
descalça. Ficava andando de um lado para outro, demonstrando preocupada e
ansiosa. Não falava alto e não costumava xingar ninguém, somente quem viesse a
perturbar.
O que se sabe
da sua vida é que ela teria nascido em 1917 e morrido no ano de 1997, aos 80
anos de idade. Ela era muito presente na Rua Chile e dormia em um albergue
público. Falavam que ela era de boa família. De acordo, com algumas matérias
que li em jornal, Florinda apresentava déficit de memória, um enorme
esquecimento. Não se lembrava do seu passado e dificultava fornecer informações
da sua verdadeira origem. Toda história dela partiu do depoimento de terceiros.
Muitas coisas foram ditas sobre a Mulher de Roxo. Algumas pessoas diziam que
ela foi rica, perdeu tudo e se desencantou com a vida. Outros disseram que foi
uma bela mulher, frequentadora da Rua Chile nos anos 60. Chegaram a relatar que
a mesma fora uma professora no Bairro de Paripe, Subúrbio de Salvador.
Pois é, a
Mulher de Roxo diante dos meus olhos e dos demais não passou de uma mendiga
solitária, sem residência própria e sem família. Quando encerrava o dia, ela
voltava para dormir em um albergue, na Baixa dos Sapateiros. Eu soube por
terceiros, que Florinda era alimentada pelas freiras do Convento São Francisco,
da Igreja São Francisco, no Pelourinho. Tem sentido o que dizem. Da Rua Chile
para o convento é um pulo.
A Florinda
Santos se tornou uma figura mitológica. Foi personagem de diversos comentários,
vídeos, reportagens, documentários e filmes. Ela foi inspiração do cineasta
Glauber Rocha, no filme "O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro
(1969)”. A Mulher de Roxo fora palco de artistas importantes. Morreu e se
tornou um mito na vida de todos nós, baianos, principalmente, na memória dos
soteropolitanos.
Conrado Matos
- Psicanalista, Filósofo, Poeta e Escritor sergipano, radicado em Salvador
(BA). Autor dos livros, A RECEITA da Felicidade vem de Você e de O SERtão em
Versos.
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