Por Manoel Canabarro (*)
Publicado em 08 de junho de 1983
O coronel Delmiro Gouveia, pioneiro da industrialização do Nordeste e ferrenho adversário das multinacionais inglesas, lia tranquilamente um jornal na noite de 10 de outubro de 1917, sentado no alpendre de seu pequeno chalé no município de Água Branca, Alagoas, quando foi fulminado por três tiros de carabina. Dois anos depois, os operários têxteis José Ignácio Pia e Róseo Moraes do Nascimento, demitidos de uma fábrica de Gouveia duas semanas antes do crime, foram condenados a trinta anos de prisão, apesar de sempre terem dito que eram inocentes. Pia morreu em 1924, baleado quando tentava fugir da prisão. Nascimento cumpriu quinze anos de pena, foi solto por bom comportamento e morreu em 1979, aos 86 anos, amargurado por ser chamado de “assassino” nas ruas de Maceió. No último dia 24, 63 anos depois do primeiro julgamento, os Juízes do Tribunal de Justiça de Alagoas entenderam que seus avós togados haviam cometido um erro – e absolveram postumamente Pia e Nascimento.
Poucos dias depois do crime, Pia e Nascimento foram capturados em Própria, Sergipe, pela polícia de Alagoas. Brutalmente torturados pelo capitão PM Pedro Nolasco da Silva, assinaram minuciosas confissões e apontaram como mandante do assassinato o coronel José Rodrigues de Lima, rival de Gouveia. Posteriormente os operários afirmaram perante o juiz que confessaram porque tinham medo de morrer e que, no dia em que Gouveia tombou morto, estavam trabalhando em Maroim, em Sergipe, distante 200 quilômetros de Água Branca. Sem meios de comprovar sua versão, Pia e Nascimento foram condenados, apelaram e, em 1922, num segundo julgamento, tiveram suas penas confirmadas.
TELEGRAMA NO ARQUIVO – Trabalhando no caso desde 1968, preso a uma promessa feita a Róseo do Nascimento, o advogado e professor universitário Pedro Aleixo Paes de Albuquerque, 46 anos, considerava virtualmente impossível, depois de mais de seis décadas, obter alguma prova material da inocência dos dois operários. Em agosto do ano passado, no entanto, a prova afinal surgiu, graças ao historiador e advogado Moacir Medeiros de Sant’Ana, 51 anos, diretor do Arquivo Público de Maceió. Ao pesquisar os documentos arquivados no cartório de Água Branca, Sant’Ana topou com o processo em que o coronel José Rodrigues de Lima era acusado de mentor intelectual do assassinato. Para provar sua inocência, Lima exibira no inquérito um telegrama do coronel Gonçalo Prado assegurando que Róseo do Nascimento e José Ignácio Pia estavam efetivamente em Maroim quando Delmiro Gouveia morreu.
TELEGRAMA NO ARQUIVO – Trabalhando no caso desde 1968, preso a uma promessa feita a Róseo do Nascimento, o advogado e professor universitário Pedro Aleixo Paes de Albuquerque, 46 anos, considerava virtualmente impossível, depois de mais de seis décadas, obter alguma prova material da inocência dos dois operários. Em agosto do ano passado, no entanto, a prova afinal surgiu, graças ao historiador e advogado Moacir Medeiros de Sant’Ana, 51 anos, diretor do Arquivo Público de Maceió. Ao pesquisar os documentos arquivados no cartório de Água Branca, Sant’Ana topou com o processo em que o coronel José Rodrigues de Lima era acusado de mentor intelectual do assassinato. Para provar sua inocência, Lima exibira no inquérito um telegrama do coronel Gonçalo Prado assegurando que Róseo do Nascimento e José Ignácio Pia estavam efetivamente em Maroim quando Delmiro Gouveia morreu.
De posse deste telegrama, que não apareceu em nenhum dos julgamentos de Pia e Nascimento, Paes de Albuquerque conseguiu a reabertura do caso e, agora, a absolvição dos réus por cinco votos a quatro. “Apesar de tudo, sempre confiei na Justiça”, dia a empregada doméstica Laurentina Moraes do Nascimento, 47 anos, filha de Róseo. “Só lamento que meu pai não esteja vivo para poder respirar aliviado e encarar os outros de frente.” Morando com seus quatro filhos numa pequena casa no bairro do Prado, na periferia de Maceió, Laurentina não pretende processar o Estado de Alagoas para pleitear uma indenização por perdas e danos a seu pai. “Eu só queria que a verdade fosse vitoriosa”, explica.
VITÓRIA PARCIAL – A verdade, porém, foi parcialmente vitoriosa, pois ainda persiste um mistério: quem assassinou Delmiro Gouveia? O mistério continuará a desafiar a argúcia dos historiadores. “Não existe revisão criminal em favor da sociedade, mas apenas em benefício do réu”, diz Paes de Albuquerque. “Por isso nunca mais será aberto um processo judicial para apurar a identidade dos criminosos.” De qualquer maneira, muitos livros de história que tratam da vida desse coronel de idéias nacionalistas, que utilizou a força hidráulica da Cachoeira de Paulo Afonso para gerar energia no território sob sua influência, terão de ser revistos, face a sentença do Tribunal de Alagoas.
Filme “Coronel Delmiro Gouveia” - https://www.youtube.com/watch?v=ZMsyOSwK3zc
E o filme “Coronel Delmiro Gouveia”, dirigido por Geraldo Sarno e lançado em 1979, talvez merecesse algumas cenas adicionais que isentassem Pia e Nascimento de qualquer responsabilidade no assassinato do legendário coronel.
(*) Jornalista de Maceió (AL)
http://memo-delmirogouveia.blogspot.com.br/2008_11_16_archive.html
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