Jaguar -
Quando tempo você ficou na prisão?
- 20 anos.
Jaguar - Onde você cumpriu 20 anos de pena?
- Na Bahia. De 31 a 53. Eu fui indultado. Eu peguei 145 anos. Eu pedi ao juiz pra me dar 140 ou completar os 150. Eles acharam até graça. (31, guardem esta data. Volta Seca dirá em um trecho que assistiu a batalha de Maranduba em "32")
Ziraldo - Arredondar logo, né? Peraí, mas em 1931 você tinha 14 anos, né?
- Fui preso com 14 anos.
Jaguar - Ms não foi julgado com 14 anos não, é?
- Fui julgado com a idade de 16 anos.
Jaguar - Vamos voltar à história, depois a gente chega lá.
- Não. É por isso que eu digo. Eles dizem que no Rio de Janeiro tem uma lei. Mas aqui tem uma e no Norte tem outra. Porque aqui, o advogado que vê um preso, vai saber logo porque foi, se ele tem razão, ou se ele não tem. Mas lá, não. Ele pegou bota pra lá. E ainda dizem: "Aqui é casa que a mãe chora e ninguém vê". E é mesmo, No entanto, Deus me ajudou, eu lutei, fui um preso exemplar, embora que tirei a pena um pouco a prestação também. Eles pensaram que eu estava lá e eu esta fora. Eu fugia mesmo. Era dar uma chance, eu pulava. Fugi de guarda, fugi pulando muro, fugi vestido de polícia...
Ziraldo - Apanhavam você, sempre?
- Ora, num tinha pra onde eu ir, irmão.
Millôr - Mas vamos contando isso pela ordem. Vamos voltar: terminou o seu primeiro encontro com os macacos. E, depois?...
...Sérgio Cabral - Mataram todos?
- Não, só morreram acho que três.
Millôr - Quando estavam parados vocês faziam treino militar, tiro, essa coisa toda?
- Fazia, fazia.
Millôr - Qual foi o primeiro treino?
- O primeiro treino que Lampião deu pra mim foi atirar numa varinha de foguete fininha. Enfiava aquela varinha lá, mandava eu atirar...
Aparício - Quantos metros de distância?
- Mais ou menos uns dez metros. Mas depois foi aumentando a distância. Então, quando já estávamos atirando mais ou menos, foi chegando mais prá lá e depois...
Jaguar - E você ia acertando?
- É, ia acertando e ele aumentando a distância. Então, quando já estávamos atirando mais ou menos, Lampião pegava um linha de carrinho, carretel e atravessava uma vara prum lado e pra outro, para aquela pessoa ir atirando. Mas era mais perto. Se a pessoa acertasse, ia aumentando a distância, e quando chegava a uma certa medida ele dizia, "Bom, daqui pra frente não é possível porque não temos vagalumes à vista". Aí, voltava novamente e ia dar a instrução. Como era, como se carregava um baleado, cumé que fazia e tal...
Jaguar - Ah! Ele ensinava a tratar também, dar socorro, como se fazia curativo?
- Perfeito. Eu acho que aquela instrução dele, aquilo já veio de berço.
Sérgio Cabral - Você achava o Lampião um boa praça, um bom sujeito, ou era um sujeito difícil?
- Eu achava um boa praça.
Sérgio Cabral - Ele era um homem generoso?
- Era um homem atencioso, um homem respeitador.
Sérgio Cabral - Essas histórias que eles contam de maldades que ele fazia, que chegava numa fazenda, prendia os donos na gaveta e incendiava a casa...
- É mentira. Isso é mentira. Isso tudo eles arrumaram a fim da perseguição crescer mais sobre ele.
Ziraldo - Voltar a opinião pública contra ele.
- Sim, perfeito. Quer dizer, que revoltava.
Jaguar - O inimigo de Lampião era a polícia, não tinha outro inimigo não.
- Não. Ele tinha outros inimigos. Quer dizer, os inimigos dele era a própria polícia mesmo. Bom, mas ele mesmo dizia que num tinha ódio tanto do próprio soldado como do contratado. Porque o contratado fazia tudo. Ele ia ao governo e pedia para ir à perseguição do Lampião.
Ziraldo - O soldado tava na dele, uai.
- Bom, o soldado é soldado. Mas aqueles contratados é que iam pedir pra ir em perseguição do Lampião. Então, ele disse que se pegasse dez soldados e pegasse um contratado, ele soltava os dez soldados e matava o contratado.
Millôr - Você disse que ele não fazia tantas violências, pelo menos quando você o encontrou. Mas, por exemplo, em relação às mulheres, esses homens eram todos muito moços e viviam sozinhos. De vez em quando eles não assaltavam mulheres? Não havia essas violências, cê nunca assistiu nenhuma?
- Não, não havia. A primeira que eu assisti, ele mandou matar os três.
Ziraldo - Como foi?
- Olha, no Prés do Burgo, no Juá e num arraialzinho,chamado Nambebé.
Millôr - Nambebé?
- É. Então, ajuntou, Morão, Mormaço e Português. Então, chegou uma senhora dizendo que o Mormaço e o Morão tinham procurado violar a filha dela, a pulso. Ele mandou chamar logo os dois, e perguntou a eles quantas vezes na vida eles tentaram violar filha de qualquer cidadão. Aí, ele perguntou à dona se eles de fato tinha violado ela. Ela disse: "Não, violar num violou não, mas tentaram". Ai, ele disse: "Mas pra servir de exemplo, eu vou mostrar pra senhora". Mandou matar todos dois, o Morão e o Mormaço.
Ziraldo - Fuzilados?
- Foram mortos na Vargem, no Estado da Bahia, município de Santo Antônio da Glória.
Ziraldo - Foi ele mesmo que matou?
- Foi Lampião mesmo.
Jaguar - Amarrou os dois e fuzilou?
- Morreram soltos, soltinhos.
Jaguar - E o Português. o que tinha a ver com a história?
- Morreu também.
Ziraldo - Era o Mormaço?
- Era apelido de Português.
- 20 anos.
Jaguar - Onde você cumpriu 20 anos de pena?
- Na Bahia. De 31 a 53. Eu fui indultado. Eu peguei 145 anos. Eu pedi ao juiz pra me dar 140 ou completar os 150. Eles acharam até graça. (31, guardem esta data. Volta Seca dirá em um trecho que assistiu a batalha de Maranduba em "32")
Ziraldo - Arredondar logo, né? Peraí, mas em 1931 você tinha 14 anos, né?
- Fui preso com 14 anos.
Jaguar - Ms não foi julgado com 14 anos não, é?
- Fui julgado com a idade de 16 anos.
Jaguar - Vamos voltar à história, depois a gente chega lá.
- Não. É por isso que eu digo. Eles dizem que no Rio de Janeiro tem uma lei. Mas aqui tem uma e no Norte tem outra. Porque aqui, o advogado que vê um preso, vai saber logo porque foi, se ele tem razão, ou se ele não tem. Mas lá, não. Ele pegou bota pra lá. E ainda dizem: "Aqui é casa que a mãe chora e ninguém vê". E é mesmo, No entanto, Deus me ajudou, eu lutei, fui um preso exemplar, embora que tirei a pena um pouco a prestação também. Eles pensaram que eu estava lá e eu esta fora. Eu fugia mesmo. Era dar uma chance, eu pulava. Fugi de guarda, fugi pulando muro, fugi vestido de polícia...
Ziraldo - Apanhavam você, sempre?
- Ora, num tinha pra onde eu ir, irmão.
Millôr - Mas vamos contando isso pela ordem. Vamos voltar: terminou o seu primeiro encontro com os macacos. E, depois?...
...Sérgio Cabral - Mataram todos?
- Não, só morreram acho que três.
Millôr - Quando estavam parados vocês faziam treino militar, tiro, essa coisa toda?
- Fazia, fazia.
Millôr - Qual foi o primeiro treino?
- O primeiro treino que Lampião deu pra mim foi atirar numa varinha de foguete fininha. Enfiava aquela varinha lá, mandava eu atirar...
Aparício - Quantos metros de distância?
- Mais ou menos uns dez metros. Mas depois foi aumentando a distância. Então, quando já estávamos atirando mais ou menos, foi chegando mais prá lá e depois...
Jaguar - E você ia acertando?
- É, ia acertando e ele aumentando a distância. Então, quando já estávamos atirando mais ou menos, Lampião pegava um linha de carrinho, carretel e atravessava uma vara prum lado e pra outro, para aquela pessoa ir atirando. Mas era mais perto. Se a pessoa acertasse, ia aumentando a distância, e quando chegava a uma certa medida ele dizia, "Bom, daqui pra frente não é possível porque não temos vagalumes à vista". Aí, voltava novamente e ia dar a instrução. Como era, como se carregava um baleado, cumé que fazia e tal...
Jaguar - Ah! Ele ensinava a tratar também, dar socorro, como se fazia curativo?
- Perfeito. Eu acho que aquela instrução dele, aquilo já veio de berço.
Sérgio Cabral - Você achava o Lampião um boa praça, um bom sujeito, ou era um sujeito difícil?
- Eu achava um boa praça.
Sérgio Cabral - Ele era um homem generoso?
- Era um homem atencioso, um homem respeitador.
Sérgio Cabral - Essas histórias que eles contam de maldades que ele fazia, que chegava numa fazenda, prendia os donos na gaveta e incendiava a casa...
- É mentira. Isso é mentira. Isso tudo eles arrumaram a fim da perseguição crescer mais sobre ele.
Ziraldo - Voltar a opinião pública contra ele.
- Sim, perfeito. Quer dizer, que revoltava.
Jaguar - O inimigo de Lampião era a polícia, não tinha outro inimigo não.
- Não. Ele tinha outros inimigos. Quer dizer, os inimigos dele era a própria polícia mesmo. Bom, mas ele mesmo dizia que num tinha ódio tanto do próprio soldado como do contratado. Porque o contratado fazia tudo. Ele ia ao governo e pedia para ir à perseguição do Lampião.
Ziraldo - O soldado tava na dele, uai.
- Bom, o soldado é soldado. Mas aqueles contratados é que iam pedir pra ir em perseguição do Lampião. Então, ele disse que se pegasse dez soldados e pegasse um contratado, ele soltava os dez soldados e matava o contratado.
Millôr - Você disse que ele não fazia tantas violências, pelo menos quando você o encontrou. Mas, por exemplo, em relação às mulheres, esses homens eram todos muito moços e viviam sozinhos. De vez em quando eles não assaltavam mulheres? Não havia essas violências, cê nunca assistiu nenhuma?
- Não, não havia. A primeira que eu assisti, ele mandou matar os três.
Ziraldo - Como foi?
- Olha, no Prés do Burgo, no Juá e num arraialzinho,chamado Nambebé.
Millôr - Nambebé?
- É. Então, ajuntou, Morão, Mormaço e Português. Então, chegou uma senhora dizendo que o Mormaço e o Morão tinham procurado violar a filha dela, a pulso. Ele mandou chamar logo os dois, e perguntou a eles quantas vezes na vida eles tentaram violar filha de qualquer cidadão. Aí, ele perguntou à dona se eles de fato tinha violado ela. Ela disse: "Não, violar num violou não, mas tentaram". Ai, ele disse: "Mas pra servir de exemplo, eu vou mostrar pra senhora". Mandou matar todos dois, o Morão e o Mormaço.
Ziraldo - Fuzilados?
- Foram mortos na Vargem, no Estado da Bahia, município de Santo Antônio da Glória.
Ziraldo - Foi ele mesmo que matou?
- Foi Lampião mesmo.
Jaguar - Amarrou os dois e fuzilou?
- Morreram soltos, soltinhos.
Jaguar - E o Português. o que tinha a ver com a história?
- Morreu também.
Ziraldo - Era o Mormaço?
- Era apelido de Português.
CONTINUA...
http://lampiaoaceso.blogspot.com.br/2009/12/entrevista-de-volta-seca-jornal-o.html
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