Por Geraldo Maia do Nascimento
Em
25 de setembro de 2014, se vivo fosse, o professor Jerônimo Vingt-un Rosado
Maia estaria completando 94 anos de nascimento. Conheceu Mossoró como ninguém;
escreveu Mossoró como ninguém. Por seus inúmeros trabalhos, poderia ser chamado
de jornalista, cronista, ensaísta, historiador, memorialista, folclorista, etnógrafo...
Mas prefiro referir-me a ele apenas como professor, pois ensinar foi o que ele
fez em toda a sua vida.
Professor Jerônimo Vingt-un Rosado Maia
Em 25 de setembro de 1920, num dia de sábado, nasceu em Mossoró, num velho casarão da rua 30 de Setembro, Jerônimo Vingt-un Rosado Maia, sendo filho do patriarca Jerônimo Rosado e dona Isaura Rosado Maia. Era o vigésimo primeiro filho de uma família numerosa e numerada, como ele mesmo gostava de dizer, já que seu nome vem exatamente da sequência à ordem numérica francesa dos nomes que Jerônimo Rosado dava aos filhos.
Teve
uma infância normal, de brincadeiras telúricas, embora dando a impressão de ser
um pouco contemplativo. Desde cedo se dedicou aos empreendimentos intelectuais,
preferindo acompanhar a atividade do irmão mais velho, Tércio, filho do
primeiro matrimônio do seu pai, que era um homem culto, poeta, amante dos
livros e pioneiro do cooperativismo no Estado. E foi ainda na juventude que
Vingt-un começou a cultivar o gosto pelos livros e pela pesquisa histórica. Na
adolescência atuou como bibliotecário no Colégio Santa Luzia. E esse gosto
pelos livros o acompanharia durante toda a sua vida.
Em
1940 partiu para Lavras/MG para estudar agronomia. Lá chegando, o seu
envolvimento com os livros, as letras e a pesquisa tornaram-se mais intensos.
Concluindo o curso em novembro de 1944, voltou para Mossoró para desenvolver
atividades junto à empresa familiar que atuava na área de exploração de gesso e
paralelamente começou a desenvolver um trabalho no campo cultural, que culminou
com a criação da Coleção Mossoroense.
Apesar
de pertencer à tradicional família de políticos que comanda Mossoró por
gerações, preferiu enveredar mesmo pelo caminho da cultura. Na verdade, chegou mesmo
a disputar dois cargos eletivos. A primeira vez candidatou-se a prefeito de
Mossoró, perdendo por uma margem de 0,4% em 1968. Em 1972 elegeu-se vereador
com a maior votação proporcional da história de Mossoró. Mas foi mesmo na área
cultural que se destacou, tornando-se ícone da cultura local. Em 1940, com
apenas 20 anos, publicou o seu primeiro livro, que recebeu o título de
\\\"Mossoró\\\". A esse, seguiram mais de duzentos, que foram da
antropologia ao estudo das secas.
Vingt-un
esteve sempre presente em várias frentes de atividade cultural, tanto no
município como no Estado. Foi professor fundador de três faculdades e
idealizador da URRN, hoje Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (Uern).
Foi fundador e duas vezes diretor da Esam, hoje Universidade Federal Rural do
Semi-Árido (Ufersa) e professor Honoris Causa da Uern. Integrou o Conselho
Estadual de Cultura, foi membro de quatro Academias em dois estados da
Federação, tendo sido criador e ex-presidente de duas delas, a Academia
Norte-rio-grandense de Ciências e a Academia Cearense de Farmácia.
Jerônimo
Vingt-un Rosado morreu no dia 21 de dezembro de 2005, aos 85 anos de idade.
Morreu não, encantou-se. Continua vivo na memória do povo da terra que tanto amou,
a ponto de idealizar nela um país, o “País de Mossoró.” Nesta sua Pasárgada,
ele era amigo do rei, mas era amigo também de qualquer homem do povo. Fez-se
General da Cultura e nessa área abraçou várias causas, venceu várias batalhas:
a batalha da cultura, a batalha da água, a batalha do petróleo e tantas outras
batalhas que estão documentadas na sua grande obra. É nessa obra que deixou
como legado que Vingt-un vive, pois esse é o segredo da imortalidade: ressurgir
sempre que um livro seu é aberto, que uma frase sua é repetida e que um gesto
seu é lembrado. Lembrando Celso Carvalho, \\\"é triste passar pela vida
como a sombra pela estrada. Quando passa é percebida... passou não resta mais
nada\\\". Por isso Vingt-un fez-se luz. E hoje vive na memória do seu povo.
Geraldo
Maia do Nascimento
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