Material do acervo do pesquisador do cangaço Antonio Morais
Ultimato ao
prefeito.
Em passagem
Oiticica, o prisioneiro Azarias Januário deparou-se com o velho conhecido,
Pedro José da Silveira, em idêntica situação. Narrou-lhe o apuro em que se
encontrava, sem portador para o resgate. Diante do impasse do amigo, Pedro
entendeu-se com Virgulino, empenhando a palavra que regressaria com os sete
contos de reis estipulados a ambos, caso fosse à cidade. Dessa vez, o bandido
aquiesceu, porém mandou-o esperar. Entrou na casa de Miguel Santino. Voltou-se
para o coronel Gurgel e indagou-lhe de chofre:
- Conhece o chefe político de
Mossoró, o coronel Rodolfo Fernandes?
- Sim, conheço.
Virgulino resolveu, então,
negociar a ameaçar. Conversou com Sabino. E insistiu para Gurgel escrever ao coronel Rodolfo Fernandes, cobrando quinhentos contos de reis, para poupar a
cidade do saque e incêndio.
Coronel Rodolfo Fernandes
- Apenas conheço o coronel Rodolfo. É provável que
ele não se lembre de mim. Nunca me fica bem escrever-lhe.
- Venha escrever o que
eu disser, retrucou Lampião.
O cangaceiro Sabino Gomes
Sabino retira do bolso uma folha de papel, com o
seu timbre numa página, e na outra com o do capitão Virgulino Ferreira,
Lampião.
Coronel Gurgel
Gurgel esclareceu que a exigência era muito pesada, descabida.
Lampião
reduziu-a para quatrocentos contos. Em nossos dias, a importância equivaleria a
dois milhões de reais. Nestes termos o prisioneiro redigiu a carta:
13 de Junho de 1927.
Meu caro Rodolfo Fernandes.
Desde ontem estou aprisionado do grupo de Lampião, o qual está aqui aquartelado, bem perto da cidade, manda porém, um acordo para não atacar mediante a soma de quatrocentos contos de reis. Posso adiantar sem receio que o grupo é numeroso, cerca de 150 homens bem equipados e municiados a farta. Creio que seria de bom alvitre você mandar um parlamentar até aqui, que me disse o próprio Lampião, seria bem recebido. Para evitar o pânico e derramamento de sangue, penso que o sacrifício compensa. Tanto que ele promete não voltar mais a Mossoró. Diga sem falta ao Jaime que os vinte e um contos que pedir ontem para o meu resgate não chegaram até aqui, e se vieram, o portador se desencontrou, assim peço por vida de Yolanda para mandar o cobre por uma pessoa de muita confiança para salvar a vida do pobre velho. Devo adiantar que todo grupo me tem tratado com muita deferência, mas, eu bem avalio o risco que estou correndo. Creia no meu respeito.
Antonio Gurgel do Amaral.
Lampião
estranha o apelo e pergunta:
- Quem é Yolanda?
- É minha netinha. Tem dois anos.
A
resposta emocionou o facínora. Não a esqueceu. Em seguida, entregou as cartas
de Gurgel e Maria José a Pedro, advertindo-o:
- Vá levar ao prefeito! Volte logo,
com a resposta e o dinheiro. Se você não cumprir o trato, acabo com sua
família. Toco fogo em tudo, nem galinha deixo na sua fazenda. Emprestou-lhe um
cavalo e o despachou.
Raul Fernandes
CONTINUA...
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