Por Carlos Jatobá
“Cyra Britto
Bezerra (nascida Correa de Britto), nasceu no interior de Alagoas, no município
de Piranhas, às margens do rio São Francisco, em 12 de março de 1915. Filha de
Francisco Correa de Britto e de Emiliana Gomes de Britto prósperos fazendeiros
e, também neta do chefe político da região dos dois lados do rio São Francisco:
Piranhas (Alagoas) e Canindé do São Francisco (Sergipe), o Cel Antonio José
Correa de Britto (conhecido como "Antonio Menino", "Sinhozinho
do Gerimum" ou "Pai-Nosso") e de Prima Gomes de Britto
("Mãe-Nossa"). De família numerosa, dividia com seus 14 irmãos:
Carlos, Célia, Ciro, Claudemiro, Clodovil, Cordélia, Guiomar, João, José, Maria
José, Nair, Noélia, Raimundo e Yolanda, as brincadeiras entre a Fazenda Gerimum
(no lado sergipano) e a casa grande em Piranhas.
Casou-se com o
então Ten Bezerra em 1935 de quem lhe era prometida, por "Pai-Nosso",
desde tenra idade. Representa no alto dos seus quase noventa anos de
existência, um exemplo de coragem, tenacidade e companheirismo da mulher
nordestina e brasileira. Aos 21 anos de idade (por volta de 1936), era
considerada a grande incentivadora nas campanhas do marido, além de exercer
forte liderança como professora, enfermeira e conselheira entre os seus
liderados e respectivas famílias. Fazia de sua casa um verdadeiro quartel da
volante. A esse respeito Cyra Bezerra, assim se expressou: "Quando
chegava, a volante vinha diretamente para minha casa. Eram 20, 30 homens de uma
vez. Alguns com família iam para suas residências. Outros eram medicados,
comiam e dormiam na minha casa”.
“(...)Ainda em
1936, no mês de setembro mais precisamente, o tenente Bezerra em perseguição
aos diversos subgrupos de cangaceiros (que compunham o grande grupo comandado
por Lampião) na Fazenda Picos onde se deu um combate em que, depois de baleada
na perna direita, à altura das nádegas, foi capturada a cangaceira Inacinha
(mulher do famoso Gato, chefe de um dos subgrupos). Inacinha estava grávida e,
em conseqüência, o tenente Bezerra resolveu leva-la para a cidade de Delmiro
Gouveia em busca de ajuda médica e posteriormente transportá-la para Piranhas e
recolhê-la à cadeia local.
Nesse ínterim, os cangaceiros, através dos subgrupos liderados pelo próprio Gato, por Virgínio e por Corisco, resolveram atacar Piranhas.
A esse
respeito Cyra Bezerra, recorda: "Eram duas da tarde quando eles chegaram a
Piranhas. Eu pensei que fosse [o tenente] Bezerra de volta com a volante
[proveniente de Delmiro Gouveia]. Então eu saí para a calçada, porém uma prima
minha gritou: 'Cyra, entre são os cangaceiros'. Piranhas é uma cidade
construída num vale cercado de serras. Quando eu olhei, vi que vinham descendo
cangaceiros por todos os lados. Recuei e fui fechar a porta da casa, mas não
consegui fechar a primeira janela e, um cangaceiro, escondido atrás de uma
gameleira (uma árvore secular que havia em frente à casa) disse: 'Não feche que
morre'. Eu me encostei na janela e olhei. Vi a um canto da parede um
riflezinho. Peguei-o e atirei no cangaceiro. Fiquei trocando tiro. Ela tentava
me alvejar pela janela e eu atirava nele. (...) Nós tínhamos armas em todos os
cantos da casa, vivíamos prevenidos.
Quando eu
estava assim trocando tiros com esse homem, Corisco surgiu na esquina da
avenida Tabira de Britto [próxima à Prefeitura Municipal], perseguindo meu tio
João Correa de Britto, prefeito nessa época. Corisco estava quase pegando meu
tio quando eu atirei nele, mas só consegui atingir os bornais. Ele rodopiou,
entrincheirou-se na escada de uma casa e ficou atirando em mim. Eu deixei de atirar
naquele que estava junto à gameleira e fiquei atirando para o outro. É quando
surge na mesma esquina um grupo de cangaceiros trazendo uma rede com um corpo,
uma rede toda ensangüentada. Era Gato, marido de Inacinha, que tinha morrido.
Um tiro [dos muitos dados pelos defensores da cidade em duas horas de cerrado
tiroteio] atingiu a cartucheira que ele trazia na cintura, atingiu o pente de
onde explodiram cinco balas que esfacelaram seu intestino." (1985, p. 13)
Os cangaceiros, diante do inesperado, bateram em retirada.
Araujo, referindo-se ao fato, atesta que: "[Cyra] ... moça pacata teve que se transmudar numa Maria Quitéria, de Alagoas, para ajudar a rechaçar a horda desenfreada e violenta. (1985 p. 279)
Desde então Cyra Britto Bezerra seria cultuada e sempre lembrada, na região do São Francisco conforme Ranzan & (2001), como a "A dama sertaneja que enfrentou o cangaço".
(Na ocasião do embate, “D. Cyra, que também estava grávida: no quinto mês de gestação”)
D. Cyra
faleceu na cidade do Recife, Estado de Pernambuco em 30 de março de 2003 aos 88
anos de idade.
Transcrito por
Sálvio Siqueira
Fonte principal:
cariricangaco.blogspot.com.br
Fonte: facebook
Página: Sálvio Siqueira
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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