Por Geraldo Maia do Nascimento
No dia 30 de
setembro de 1883 o Presidente da Sociedade Libertadora Mossoroense, numa sessão
festiva, declarava “livre o município de Mossoró da mancha negra da
escravidão”. Todos os escravos do município de Mossoró tinham recebido Carta de
Alforria, fruto de um trabalho que vinha sendo desenvolvido a quase um ano.
Essa data, 30 de setembro, passou a ser comemorada como a maior festa cívica do
município. E para que as novas gerações tomassem conhecimento do fato, foi
erguido, alguns anos depois, um monumento que ficou conhecido como “Estátua da
Liberdade”.
A
Estátua da Liberdade fica na Praça da Redenção, em frente ao prédio da
Biblioteca Pública, antiga União Caixeiral. Foi inaugurada no dia 30 de
setembro de 1904, por iniciativa do Dr. Sebastião Fernandes de Oliveira, na
época Promotor de Justiça de Mossoró, sendo o mesmo o orador oficial da
solenidade, proferindo vibrante discurso na ocasião.
O
escultor da obra foi Francisco Paulino da Silva, um mestre do cimento que já havia
executado várias obras em Mossoró. Na ocasião, Mossoró comemorava os 21 anos da
liberação dos escravos em território mossoroense, que havia acontecido no dia
30 de setembro de 1883, cinco anos antes da liberação oficial em território
brasileiro. A idéia da libertação dos escravos em solo mossoroense surgiu por
ocasião de uma homenagem prestada na Loja Maçônica 24 de junho ao casal
Romualdo Lopes Galvão, líder da política e do comércio. Presente à homenagem se
encontrava o Venerável da Loja Maçônica 24 de junho, Frederico Antônio de
Carvalho, a quem coube a idéia da fundação de uma sociedade cuja finalidade
fosse a liberação dos cativos.
Em
6 de janeiro de 1883 foi criada \"A Sociedade Libertadora
Mossoroense\", cuja presidência provisória ficou a cargo de Romualdo Lopes
Galvão. Aderiu ao movimento os melhores elementos da terra. A diretoria
definitiva ficou formada por Joaquim Bezerra da Costa Mendes como presidente,
Romualdo Lopes Galvão como vice-presidente, Frederico de Carvalho como primeiro
secretário, o Dr. Paulo Leitão Loureiro de Albuquerque como orador. Nessa
época, Mossoró contava apenas com 86 escravos. A 10 de junho alforriava 40
desses escravos. A Sociedade Libertadora tinha um Código, com um único artigo e
sem parágrafos, onde estava determinado que \"todos os meios são lícitos a
fim de que Mossoró liberte os seus escravos\".
A
ideia empolgava a toda população, de modo que pouca resistência houve contra
essa medida.
O
dia 30 de setembro de 1883 foi a data designada para a liberação total dos
escravos; e o objetivo foi alcançado. Foi um dia festivo aquele 30 de setembro.
A cidade amanheceu com as ruas todas engalanadas de folhas de carnaubeiras e
bandeiras de papel coloridas. A alegria contagiava todos os lares. Ao meio-dia,
a Sociedade Libertadora Mossoroense se reunia no 1º andar do prédio da Cadeia
Pública, onde funcionava a Câmara Municipal, hoje Museu Municipal Lauro da
Escóssia. O Presidente da Sociedade Joaquim Bezerra da Costa Mendes, abriu a
solene e memorável sessão, lendo em seguida, diversas cartas de alforria dos
últimos escravos de Mossoró, e depois de emocionado discurso declarou
\"livre o município de Mossoró da mancha negra da escravidão\".
Além
dos abolicionistas, os salões da Câmara Municipal estavam lotados com
familiares e grande massa da população.
Depois
da sessão, a festa tomou as ruas da cidade. O Dr. Almino Afonso pronunciou
inúmeros discursos, empolgando os auditórios que o aplaudiam delirantemente. E
foi também o Dr. Almino Afonso que criou o \"Clube dos Spartacos\"
composto, na sua maioria, por ex-escravos, tendo sido eleito presidente o
liberto Rafael Mossoroense da Glória. A função desse clube era dar abrigo e
amparo aos escravos, que aqui chegavam por mar ou por terra. Era a tropa de
choque dos abolicionistas. Como território livre, Mossoró passou a ser
procurada por todos os escravos que conseguiam fugir. Sabiam que aqui chegando,
encontravam abrigo. O Clube dos Spartacus sempre conseguia evitar que os
escravos voltassem com os donos. Alguns eram comprados; outros eram mandados
para Fortaleza e nunca mais apareciam. O dia 30 de setembro passou a ser a
grande data cívica da cidade. A Lei nº 30, de 13 de setembro de 1913, declara
feriado o dia 30 de setembro que até os dias atuais é comemorado com muito
entusiasmo pela cidade de Mossoró.
E
a Estátua da Liberdade permanece firme como um guardião impávido, para lembrar
as novas gerações que Mossoró é um município que sempre lutou por seus
direitos.
Geraldo
Maia do Nascimento
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