Por Rangel Alves
da Costa*
Todos os dias,
sempre um pouco mais ou pouco menos das três horas da manhã, logo ouço o
barulho de uma motocicleta se aproximando e diminuindo a velocidade diante do
portão. Em seguida escuto algo sendo deixado além das grades e então já sei do
que se trata: o Jornal do Dia. A cada alvorecer é assim, na mesma precisão de
todos os dias. Do mesmo modo nas outras residências, nas bancas de jornal, nas
portarias dos edifícios, por todo lugar. Noutros tempos, assim chegava o
leiteiro, o entregador de frutas, o verdureiro. O que recebo agora é um cesto
de informações. E fico imaginando os passos dados pelo Jornal do Dia para
continuar chegando ao meu portão. E já são onze anos!
Tempo ligeiro,
calendário apressado, tudo parecendo ontem e já de longa estrada. E foi em meio
a esse tempo sem espera que o Jornal do Dia se pôs adiante para sempre chegar.
Já são onze anos que a cada manhã, como se fosse um alvorecer que desponta
sobre a realidade da vida, a todos dá o seu bom dia. E em cada cumprimento o
chamado ao diálogo, à informação, ao questionamento, à reflexão, no intuito
maior de que cada linha escrita sirva de alicerce para o conhecimento das
realidades tão instigantes no que está próximo e no distante.
Aos onze anos,
na idade humana, qual seria a fase de vida do Jornal do Dia? Ainda na infância.
Mas aí o seu segredo maior. É nesta fase que as verdades são absolutas, que as
informações repassadas não são corrompidas por forças ou interesses, que a
percepção de realidade não chega obscurecida por influências, que não se tem
medo de expressar o que bem desejar. Ora, o menino não mente. Por isso mesmo
que ao chegar aos onze anos o Jornal do Dia é reconhecido pela sinceridade,
pelo compromisso maior com a verdade. E assim será também mais adiante, quando
as novas idades forem exigindo apenas o aprimoramento do que almeja enquanto
veículo de informação.
Ano após ano e
cada vez mais compromissado em chegar perante todos com o mesmo entusiasmo
daqueles primeiros tempos de surgimento. Ao surgir, aplaudido por muitos e
desacreditado por alguns, tomou impulso nas próprias dificuldades para buscar o
seu espaço no meio informativo sergipano, para garantir seu lugar ao sol. E
muitos afirmavam que era apenas mais um jornal que chegava para logo deixar de
existir. Mas o pé se firmou na estrada e o Jornal do Dia seguiu adiante
carregando seu embornal de compromissos com o leitor. E que não são poucos.
Hoje, na manhã
e daí em diante, o Jornal do Dia vai servindo como verdadeiro alimento
compartilhado à mesa, ao lado do café que precisa ser sorvido para o
enfrentamento do dia. A alimentação informativa do jornal se assemelha em muito
ao que à mesa é colocada a cada novo amanhecer. O pão nosso de cada dia é o
mesmo alimento jornalístico que vai ao forno depois de cuidadosamente preparada
a massa. As informações, os textos, os escritos, igualmente ao pão, também
exigem medidas certas, cuidados no que vai ser oferecido a todos. Fermento,
farinha, açúcar e sal, tudo na sua medida, assim também a receita do bom
jornalismo, da ética na informação, do respeito ao leitor. E é assim que
trabalha o Jornal do Dia.
Todo bom
jornal matutino - e com o Jornal do Dia não seria diferente - afeiçoa-se a uma
porta ou janela aberta, a muro de quintal, aos diálogos entre vizinhos ao
amanhecer. “Você soube compadre...”; “Mas não acredito, pois ninguém sequer
podia imaginar que isso pudesse acontecer”; “Agora não há como negar, pois saiu
da boca do povo e já está no jornal e na televisão”. Não é ofício de fofoca, é
ofício da troca de informações, de diálogo, de aprendizado. O jornal possui
esse mesmo objetivo, a função de dialogar com as pessoas e mesmo fazer espantar
ou enraivecer diante da informação repassada.
Não é apenas
um jornal que chega às bancas, à porta de cada um, que traz em manchete o
espanto ou a esperança, que traz em letras grandes o motivo de alegria ou o
entristecimento. Quem dera somente a notícia alvissareira, a informação por
todos desejada, a manchete estampando que a cura enfim chegou, que a corrupção
já não existe nos altares do poder, que os grupos terroristas foram
exterminados, que não há mais pessoas jogadas pelos corredores dos hospitais,
que o salário é suficiente para as despesas do dia a dia. E que bela manchete:
“Os mosquitos causadores da dengue, da zika e da chikungunya já não ameaçam os
brasileiros”. Mas eis que o ofício de informar soa como um sino de igreja que
tanto anuncia a missa festiva como a despedida de alguém.
E por isso o
Jornal do Dia também chora. Lamenta, entristece e lacrimeja toda vez que
estampa o sangue da violência, que anuncia o grito aterrorizado da sociedade
ante a estupidez, que tem de registrar as barbaridades ainda tão recorrentes
pelo mundo. Não há jornalista, não há editor, não há qualquer profissional que
se sinta bem em ter de informar o que soa tão caro ao sentimento do povo. Mas a
realidade não pode ser omitida, a verdade não pode ser negligenciada, e daí a
necessidade da fidelidade aos fatos e acontecimentos. Por outro lado, também o
prazer pelas linhas escritas que tanto confortam, alegram e enriquecem o
conhecimento. Como dizia o velho jornalista, nem tudo no jornal é sangue. Nele
também se avista o jardim e a flor.
É essa flor
perfumada que procuro encontrar a cada manhã no Jornal do Dia. Também sou
jardineiro desse itinerário, e com muito orgulho. Já se vão mais de cinco anos
que passei a escrever para suas páginas. Contudo, já quase três anos como
contínuo colaborador, tendo, a cada semana, textos publicados sobre as mais
diversas feições da vida. Não há contentamento maior do que encontrar pessoas
que dizem apreciar as crônicas dominicais da página três. E também não esqueço
quando um leitor me disse que não conseguia imaginar como Lampião pudesse ter dito,
naquela situação, aquilo a Maria Bonita. Mas disse, apenas respondi.
E assim vão
nossas histórias. O Jornal do Dia completando seus onze anos e todos festejando
tal caminhada. Um menino ainda, como dito. E desejando que os anos seguintes
sejam de fortalecimento e continuidade dos compromissos assumidos, jamais de
mero envelhecimento.
Poeta e
cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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