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quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

ONZE ANOS, A CADA MANHÃ

Por Rangel Alves da Costa*

Todos os dias, sempre um pouco mais ou pouco menos das três horas da manhã, logo ouço o barulho de uma motocicleta se aproximando e diminuindo a velocidade diante do portão. Em seguida escuto algo sendo deixado além das grades e então já sei do que se trata: o Jornal do Dia. A cada alvorecer é assim, na mesma precisão de todos os dias. Do mesmo modo nas outras residências, nas bancas de jornal, nas portarias dos edifícios, por todo lugar. Noutros tempos, assim chegava o leiteiro, o entregador de frutas, o verdureiro. O que recebo agora é um cesto de informações. E fico imaginando os passos dados pelo Jornal do Dia para continuar chegando ao meu portão. E já são onze anos!

Tempo ligeiro, calendário apressado, tudo parecendo ontem e já de longa estrada. E foi em meio a esse tempo sem espera que o Jornal do Dia se pôs adiante para sempre chegar. Já são onze anos que a cada manhã, como se fosse um alvorecer que desponta sobre a realidade da vida, a todos dá o seu bom dia. E em cada cumprimento o chamado ao diálogo, à informação, ao questionamento, à reflexão, no intuito maior de que cada linha escrita sirva de alicerce para o conhecimento das realidades tão instigantes no que está próximo e no distante.

Aos onze anos, na idade humana, qual seria a fase de vida do Jornal do Dia? Ainda na infância. Mas aí o seu segredo maior. É nesta fase que as verdades são absolutas, que as informações repassadas não são corrompidas por forças ou interesses, que a percepção de realidade não chega obscurecida por influências, que não se tem medo de expressar o que bem desejar. Ora, o menino não mente. Por isso mesmo que ao chegar aos onze anos o Jornal do Dia é reconhecido pela sinceridade, pelo compromisso maior com a verdade. E assim será também mais adiante, quando as novas idades forem exigindo apenas o aprimoramento do que almeja enquanto veículo de informação.

Ano após ano e cada vez mais compromissado em chegar perante todos com o mesmo entusiasmo daqueles primeiros tempos de surgimento. Ao surgir, aplaudido por muitos e desacreditado por alguns, tomou impulso nas próprias dificuldades para buscar o seu espaço no meio informativo sergipano, para garantir seu lugar ao sol. E muitos afirmavam que era apenas mais um jornal que chegava para logo deixar de existir. Mas o pé se firmou na estrada e o Jornal do Dia seguiu adiante carregando seu embornal de compromissos com o leitor. E que não são poucos.


Hoje, na manhã e daí em diante, o Jornal do Dia vai servindo como verdadeiro alimento compartilhado à mesa, ao lado do café que precisa ser sorvido para o enfrentamento do dia. A alimentação informativa do jornal se assemelha em muito ao que à mesa é colocada a cada novo amanhecer. O pão nosso de cada dia é o mesmo alimento jornalístico que vai ao forno depois de cuidadosamente preparada a massa. As informações, os textos, os escritos, igualmente ao pão, também exigem medidas certas, cuidados no que vai ser oferecido a todos. Fermento, farinha, açúcar e sal, tudo na sua medida, assim também a receita do bom jornalismo, da ética na informação, do respeito ao leitor. E é assim que trabalha o Jornal do Dia.

Todo bom jornal matutino - e com o Jornal do Dia não seria diferente - afeiçoa-se a uma porta ou janela aberta, a muro de quintal, aos diálogos entre vizinhos ao amanhecer. “Você soube compadre...”; “Mas não acredito, pois ninguém sequer podia imaginar que isso pudesse acontecer”; “Agora não há como negar, pois saiu da boca do povo e já está no jornal e na televisão”. Não é ofício de fofoca, é ofício da troca de informações, de diálogo, de aprendizado. O jornal possui esse mesmo objetivo, a função de dialogar com as pessoas e mesmo fazer espantar ou enraivecer diante da informação repassada.

Não é apenas um jornal que chega às bancas, à porta de cada um, que traz em manchete o espanto ou a esperança, que traz em letras grandes o motivo de alegria ou o entristecimento. Quem dera somente a notícia alvissareira, a informação por todos desejada, a manchete estampando que a cura enfim chegou, que a corrupção já não existe nos altares do poder, que os grupos terroristas foram exterminados, que não há mais pessoas jogadas pelos corredores dos hospitais, que o salário é suficiente para as despesas do dia a dia. E que bela manchete: “Os mosquitos causadores da dengue, da zika e da chikungunya já não ameaçam os brasileiros”. Mas eis que o ofício de informar soa como um sino de igreja que tanto anuncia a missa festiva como a despedida de alguém.

E por isso o Jornal do Dia também chora. Lamenta, entristece e lacrimeja toda vez que estampa o sangue da violência, que anuncia o grito aterrorizado da sociedade ante a estupidez, que tem de registrar as barbaridades ainda tão recorrentes pelo mundo. Não há jornalista, não há editor, não há qualquer profissional que se sinta bem em ter de informar o que soa tão caro ao sentimento do povo. Mas a realidade não pode ser omitida, a verdade não pode ser negligenciada, e daí a necessidade da fidelidade aos fatos e acontecimentos. Por outro lado, também o prazer pelas linhas escritas que tanto confortam, alegram e enriquecem o conhecimento. Como dizia o velho jornalista, nem tudo no jornal é sangue. Nele também se avista o jardim e a flor.

É essa flor perfumada que procuro encontrar a cada manhã no Jornal do Dia. Também sou jardineiro desse itinerário, e com muito orgulho. Já se vão mais de cinco anos que passei a escrever para suas páginas. Contudo, já quase três anos como contínuo colaborador, tendo, a cada semana, textos publicados sobre as mais diversas feições da vida. Não há contentamento maior do que encontrar pessoas que dizem apreciar as crônicas dominicais da página três. E também não esqueço quando um leitor me disse que não conseguia imaginar como Lampião pudesse ter dito, naquela situação, aquilo a Maria Bonita. Mas disse, apenas respondi.

E assim vão nossas histórias. O Jornal do Dia completando seus onze anos e todos festejando tal caminhada. Um menino ainda, como dito. E desejando que os anos seguintes sejam de fortalecimento e continuidade dos compromissos assumidos, jamais de mero envelhecimento.

Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

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