Por Cecílio
Tiburtino, procurador jurídico da Câmara de Vereadores de Serra Talhada
Aproveitando a
excelente, brilhante e formidável apresentação: “O massacre de Angico.
A morte
de Lampião”, que ocorreu em nossa cidade entre os dias 24 e 28 de julho de
2013, venho, após leitura de alguns textos, livros e revistas sobre o tema,
propor uma reflexão sobre a morte do lendário, formidável e inigualável
Serratalhadense: Virgulino Ferreira. De ante mão, quero deixar bem claro que
não estou propondo desmistificar um personagem histórico, nem tão pouco
pretendo reformular a história. Apenas e tão somente, venho expor outra versão,
possível, sobre o “fim” de Lampião. Por outro lado, gostaria de informar que
não sou nenhuma autoridade no assunto, apenas e tão somente leitor sobre tão
intrigante e cativador tema, e que tive alguns dos meus familiares contemporâneos
aos fatos históricos.
Conta a história que o desfecho final do intrigante personagem histórico Lampião
iniciou às cinco horas da manhã do dia 28 de julho de 1938, na Grota de
Angico, uma fortaleza de pedras escondida dentro da caatinga, encravada numa
depressão perto do riacho Tamanduá e próxima ao rio São Francisco, no município
sergipano de Poço Redondo. O fogo cerrado das metralhadoras portáteis do
regimento policial militar de Alagoas, comandado pelo tenente João Bezerra,
levaram Lampião, Maria Bonita e mais alguns cangaceiros a morte. Tal empreitada
teria ocorrido depois que o Presidente da República Getúlio Vargas, que sofria
sérios ataques dos adversários por permitir a existência de Lampião, ter
pressionado interventor de Alagoas, Osman Loureiro, que adotou providências
para acabar com o cangaço, vindo inclusive a prometer promover ao posto
imediato da hierarquia o militar que trouxesse a cabeça do cangaceiro.
O fogo cerrado
teria durado aproximadamente 15 minutos. Eram tantos tiros que mal dava para
enxergar o que acontecia. Pedaços de xiquexique, mandacaru, facheiro –
vegetação típica do sertão – caíam por todos os lados. Lampião teria tombado
primeiro. Maria Bonita foi abatida logo depois. Apanhados de surpresa, muitos
dos 39(*) cangaceiros que se refugiavam na grota ainda dormiam, e nove morreram na
emboscada. O restante conseguiu fugir. Em seguida, iniciou-se um processo de
decapitação dos que tombaram, inclusive Lampião e Maria Bonita, vindo após
promoção de verdadeira caça ao tesouro dos cangaceiros, desde as joias,
dinheiro, perfumes importados e tudo mais que tinha valor foi alvo da
“rapinagem” promovida pela polícia.
De forma
simples, essa é a história oficial. Mas é a real? Quantos de nós nunca ouvimos
falar que Lampião ainda estaria vivo. Quantos de nós não desconfiou e ainda
desconfia de alguns relatos históricos. Para a história e para o Brasil era
necessária à morte (extinção) de Lampião, posto que o cangaço há anos tinha
desafiado as autoridades locais e regionais, sagrando-se vencedor nesse âmbito,
partindo a desafiar a “Nação”. Porém, isso não quer dizer que Virgulino
Ferreira da Silva também tivesse que ser seguindo essa premissa, o fotógrafo,
técnico em contabilidade e escritor José Geraldo Aguiar, que passou 17 anos
pesquisando a vida de Lampião, publicou: “Lampião o Invencível – Duas Vidas,
Duas Mortes, o outro lado da moeda” (Thesarus, 2009). O objetivo do livro é
“provar” que Virgulino Ferreira da Silva não foi morto pela Polícia na
localidade de Angico, como conta a história.
Relata o
escritor que conheceu Lampião pessoalmente em 15 de fevereiro de 1992, na
cidade de São Francisco, no Norte de Minas Gerais, na República Federativa do
Brasil, apontando a sua morte no dia 03 de agosto de 1993, aos 96 anos de
idade, no Estado de Minas. O escritor afirma que conviveu com Virgulino Ferreira
da Silva por cinco meses, promovendo uma história investigativa, tendo viajado
em grande parte do Brasil, pesquisando para montar o livro, especialmente pelo
interior de Minas Gerais, tendo entrevistado 46 testemunhas que também
relataram ter visto Lampião.
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"Como foi que alguns que foram entrevistados pelo fotógrafo José Geraldo Aguiar, depois de várias décadas, tiveram certeza que aquele homem era mesmo o Lampião de Pernambuco, vez que eles pessoalmente não chegaram conhecer Lampião?"
Um dos relatos, dentre vários outros contidos no
livro de José Geraldo Aguiar, às fls. 184/185, dá conta de que o Delegado de
Polícia Orlando Correia Alberlaz, no ano de 1978, recebera uma queixa de um
senhor que exigia providencias contra seu vizinho, ex-prefeito de São Francisco
(MG), tendo em vista que cinco cabeças de gado do queixoso estariam
na fazenda deste.
na fazenda deste.
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"Mas isso não
quer dizer que realmente se tratava de Lampião verdadeiro. Qualquer criador que
sente falta de um animal ou mais no seu rebanho, e os encontra em outro curral,
imagina logo que foram furtados, e a decisão é prestar queixa ao delegado da
região, para que os seus animais sejam devolvidos, já que as marcas provam que
fazem parte do seu rebanho".
O queixoso
afirmou que “possuía um punhal (espeto) que dava para atravessar três pessoas
de uma só vez, se não recebesse seu gado de volta”. O delegado pediu a
identificação do queixoso, quando recebeu 03 (três) identidades diferentes,
quando então questionou quem de fato era o senhor que estava a sua frente. Para
sua surpresa a resposta que ouviu foi: Virgulino Ferreira.
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"Por que este delegado não prendeu este sujeito que carregava três identidades com nomes diferentes, que na verdade é crime, e dos grandes, é um documento que só se pode possuir um só, e não dois?
As fls. 186 relata
José Geraldo Aguiar que José Rodrigues Cordeiro (Zezão) dono de um bar em São
Francisco (MG) presenciou o homem conhecido por João Teixeira se dirigir ao
balcão de atendimento do Funrural com objetivo de requerer a aposentadoria. De
imediato a tendente pediu-lhe os documentos, tendo o Sr. João Teixeira
demonstrado ser portador de três documentos, um foi entregue a atendente, outro
ficou na bolsa e o terceiro caiu ao chão.
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"Qual foi a comprovação que um documento ficou na bolsa do suposto Lampião?"
A atendente,
ao olhar para o documento, questionou o Sr. João Teixeira sobre o referido
documento, pois o nome que constava era: Virgulino Ferreira. De pronto
João Teixeira afirmou que tal documento pertencia ao seu irmão. Pegando-o de
volta e indo embora sem maiores explicações.
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"Este senhor que se dizia ser Lampião de Pernambuco era um verdadeiro mentiroso e cheio de enroladas, andava com documentos falsos em sua bolsa, coisa que o Lampião verdadeiro nunca fez, falsificar documentos para nada". O saudoso José Geraldo Aguiar fez o seu trabalho, e bem feito. Quem mentiu, foi o seu depoente, enganando a todos seus conhecidos que era o verdadeiro Lampião pernambucano".
Não fossem apenas os depoimentos
acima transcritos, dentre vários outros contidos no livro de José Geraldo
Aguiar, impossível não observar a semelhança entre a fotografia de Lampião e a
do Sr. João Teixeira de Lima, constante no citado livro. Como relatado no
início, não pretendo com esses breves relatos reduzir o personagem que foi
Lampião, ou mesmo induzir a um erro da história, pelo contrário, apenas pretendi demonstrar
que existem outras versões sobre o fim do cangaço, sem que tal fim tenha
conduzido ao fim do lendário Virgulino Ferreira da Silva, que apenas estudos
profundos, o que não é o caso, podem confirmar.
http://faroldenoticias.com.br/opiniao-o-cangaceiro-lampiao-morreu-mesmo-num-massacre-em-angico/
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