Dá para se
escrever um livro de casos e de “causos” sobre a figura pitoresca de Antônio de
Elói, Antônio Elói, “Antôilóia”, ou “Tôilóia” como o chamavam. Era baixo,
forte, chegava a Manaíra, nos dias de feira, sempre montado em seu cavalo
arreado. Era de pouca conversa, mas simpático a muitos. Tinha a fama de ser
bastante econômico, apesar de possuidor das maiores propriedades de terra na
região dos Baixios e Serra da Bernarda. Dos fatos mais simples que se conhece é
que adoçava o café com rapadura por que era mais barato do que o açúcar.
Comentavam que era possuidor de muitas moedas e joias de ouro e prata que,
somente em período recente, foram associadas a favores que Lampião lhe teria
concedido em troca de amizade e abrigo. Também são famosas as narrativas das botijas que
ele encontrou. O que parece mais provável é que ele teria recebido de Lampião,
para guarda, certa fortuna.
Quando Lampião precisou partir às pressas, não teve
oportunidade de voltar ao Baixio para reaver os bens guardados. Por segurança, vários
lotes de joias e moedas teriam sido enterrados em lugares distintos e ali
permanecido durante anos. Após a notícia da morte do bando, nos Angicos, teria
vindo a certeza de que os bens não seriam reclamados. Já anciã, a filha mais
nova de Antônio Elói nos contou a história de que ele e a esposa “desenterraram
pelo menos sete botijas”. O mais curioso é que o Antônio sempre afirmava que
era muito pobre, porém, quando aparecia uma grande fazenda que estivesse à
venda, e esta fizesse limite com a dele, ele queria comprar. Chegava para a
esposa e dizia: “Idalina, tem uma terra ali que eu tinha tanta vontade de
comprar, mas eu não posso, não tenho dinheiro”. Na noite desse dia a mulher
dele tinha um sonho. Alguém que já havia morrido aparecia nesse sonho e dizia a
ela um local onde havia algo enterrado, tinha ouro, era uma botija. Por cinco
vezes o pobre “Antôilóia” lamentou-se por ser pobre, por cinco vezes
lhe foi oferecida uma boa fazenda, por cinco vezes Idalina sonhou com botija e,
por causa desses sonhos, ele tornou-se proprietário dessas cinco fazendas...
Mesmo após a morte dele, conta-se ainda que duas botijas foram encontradas.
Casa
Grande, de Antônio Elói, no sítio Baixio, Manaíra. Por várias vezes acolheu
Lampião e seus companheiros. Anos depois, em volta dela, foram desenterradas
várias botijas, por Idalina, esposa de Antônio. - Telhado novo, mas mantem a
mesma estrutura anterior e o anexo nos fundos.
Foto
do autor (2013)
Antônio tinha
um irmão de nome Manoel. Era o caçula e soube-se que ainda estava vivo. Fomos à
sua procura no alto da Serra da Bernarda. Perguntávamos se alguém conhecia a
residência de Manoel Elói. Passamos toda uma manhã nos arredores de sua casa
sem que ninguém o identificasse. Somente quando falamos que era irmão do
“Antôilóia”, alguém disse: “ah, é o ‘Manélóia”. Foi uma grata surpresa a
entrevista que tivemos com ele. Cidadão de idade avançada, de uma cordialidade
fora do comum. Memória viva e lúcida, narrou-nos histórias desde sua infância.
Era “galego”,
tinha em torno de dez anos. Desceu a Bernarda, ia descendo o Boqueirão na
direção da casa do irmão. Aproximou-se dele uma caravana montada a cavalo.
Chapéus de couro enfeitados, um bocado de “espingardas”, até aí tudo normal.
Mas quando um dos cangaceiros disse: “vô pegá o minino prá capá”, “Manélóia”
disparou no mato em uma carreira tão grande, que não notou os galhos de mato e
de espinhos que lhe iam rasgando a pele e a roupa.
Pouco tempo
depois os cangaceiros “apearam” na casa de “Antôilóia”, assentaram-se na sala
e, enquanto conversavam, entrou correndo um galeguinho assustado, todo
arranhado do mato. Ao reconhecê-lo, Lampião perguntou:
- Toinlóia, esse minino é
seu?
– É meu irmão, respondeu Antônio.
- Me ardiscurpe, eu num sabia. Dissero
uma pilhéra com ele e ele saiu perdido no mato”, encerrou o chefe do cangaço.
Recentemente
Dona Jardelina, filha de Antônio Elói, nos contou: “Mãe era pequena e ajudava
Vó. Vó fazia o almoço e mãe ajudava ela. Lampião gostava muito de capão assado
com farofa e de bode cunzinhado. Toda vez que ele vinha para a casa que
ficava na Vaca (sítio próximo ao Baixio, de Antônio Elói), Mãe ajudava Vó”.
CONTINUA...
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