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sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

CANGAÇO - Cangaceirismo LAMPIÃO E OUTROS CANGACEIROS EM MANAÍRA - “ANTÔILÓIA” - PARTE VI


Dá para se escrever um livro de casos e de “causos” sobre a figura pitoresca de Antônio de Elói, Antônio Elói, “Antôilóia”, ou “Tôilóia” como o chamavam. Era baixo, forte, chegava a Manaíra, nos dias de feira, sempre montado em seu cavalo arreado. Era de pouca conversa, mas simpático a muitos. Tinha a fama de ser bastante econômico, apesar de possuidor das maiores propriedades de terra na região dos Baixios e Serra da Bernarda. Dos fatos mais simples que se conhece é que adoçava o café com rapadura por que era mais barato do que o açúcar. Comentavam que era possuidor de muitas moedas e joias de ouro e prata que, somente em período recente, foram associadas a favores que Lampião lhe teria concedido em troca de amizade e abrigo. Também são famosas as narrativas das botijas que ele encontrou. O que parece mais provável é que ele teria recebido de Lampião, para guarda, certa fortuna. 


Quando Lampião precisou partir às pressas, não teve oportunidade de voltar ao Baixio para reaver os bens guardados. Por segurança, vários lotes de joias e moedas teriam sido enterrados em lugares distintos e ali permanecido durante anos. Após a notícia da morte do bando, nos Angicos, teria vindo a certeza de que os bens não seriam reclamados. Já anciã, a filha mais nova de Antônio Elói nos contou a história de que ele e a esposa “desenterraram pelo menos sete botijas”. O mais curioso é que o Antônio sempre afirmava que era muito pobre, porém, quando aparecia uma grande fazenda que estivesse à venda, e esta fizesse limite com a dele, ele queria comprar. Chegava para a esposa e dizia: “Idalina, tem uma terra ali que eu tinha tanta vontade de comprar, mas eu não posso, não tenho dinheiro”. Na noite desse dia a mulher dele tinha um sonho. Alguém que já havia morrido aparecia nesse sonho e dizia a ela um local onde havia algo enterrado, tinha ouro, era uma botija. Por cinco vezes o pobre “Antôilóia” lamentou-se por ser pobre, por cinco vezes lhe foi oferecida uma boa fazenda, por cinco vezes Idalina sonhou com botija e, por causa desses sonhos, ele tornou-se proprietário dessas cinco fazendas... Mesmo após a morte dele, conta-se ainda que duas botijas foram encontradas.

Casa Grande, de Antônio Elói, no sítio Baixio, Manaíra. Por várias vezes acolheu Lampião e seus companheiros. Anos depois, em volta dela, foram desenterradas várias botijas, por Idalina, esposa de Antônio. - Telhado novo, mas mantem a mesma estrutura anterior e o anexo nos fundos.
Foto do autor (2013)

Antônio tinha um irmão de nome Manoel. Era o caçula e soube-se que ainda estava vivo. Fomos à sua procura no alto da Serra da Bernarda. Perguntávamos se alguém conhecia a residência de Manoel Elói. Passamos toda uma manhã nos arredores de sua casa sem que ninguém o identificasse. Somente quando falamos que era irmão do “Antôilóia”, alguém disse: “ah, é o ‘Manélóia”. Foi uma grata surpresa a entrevista que tivemos com ele. Cidadão de idade avançada, de uma cordialidade fora do comum. Memória viva e lúcida, narrou-nos histórias desde sua infância.

Era “galego”, tinha em torno de dez anos. Desceu a Bernarda, ia descendo o Boqueirão na direção da casa do irmão. Aproximou-se dele uma caravana montada a cavalo. Chapéus de couro enfeitados, um bocado de “espingardas”, até aí tudo normal. Mas quando um dos cangaceiros disse: “vô pegá o minino prá capá”, “Manélóia” disparou no mato em uma carreira tão grande, que não notou os galhos de mato e de espinhos que lhe iam rasgando a pele e a roupa.

Pouco tempo depois os cangaceiros “apearam” na casa de “Antôilóia”, assentaram-se na sala e, enquanto conversavam, entrou correndo um galeguinho assustado, todo arranhado do mato. Ao reconhecê-lo, Lampião perguntou: 

- Toinlóia, esse minino é seu? 

– É meu irmão, respondeu Antônio. 

- Me ardiscurpe, eu num sabia. Dissero uma pilhéra com ele e ele saiu perdido no mato”, encerrou o chefe do cangaço.

Recentemente Dona Jardelina, filha de Antônio Elói, nos contou: “Mãe era pequena e ajudava Vó. Vó fazia o almoço e mãe ajudava ela. Lampião gostava muito de capão assado com farofa e de bode cunzinhado. Toda vez que ele vinha para a casa que ficava na Vaca (sítio próximo ao Baixio, de Antônio Elói), Mãe ajudava Vó”.

CONTINUA...

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