Por Clerisvaldo B. Chagas, 27 de agosto de 2013 - Crônica Nº 1075
Para quem
gosta de história de cangaceiros, apresentamos abaixo, matéria publicada na
“Folha da Manhã”, jornal sergipano no tempo do cangaço. Dez dias após a morte
de Lampião, era estampada no referido jornal:
“Diz-se que,
morto Virgulino, o rei do cangaço, tem em Corisco um legítimo sucessor.
Entretanto, somente a impressão exterior é que transfere para a atual
eventualidade o prestígio de uma majestade que Corisco há muito adquirira por
merecimento próprio.
Lampião, sem
dúvida, o maior destruidor de riquezas e de vidas que já viveu no Brasil, criou
fama à sombra de perversidades e vandalismos sem limite, Era uma alma
esfíngica, um ser incompreendido, que guardava uma surpresa em cada gesto.
Suas atitudes
não tinham a execução lógica de um caráter fixado na psicologia, pois a sua
conduta era um mundo de fugas e fintas para os observadores mais íntimos. Era
aliás, a chave do seu terrível prestígio.
Corisco é mais
humano. Tem um caráter definido. Sem nenhum sentimento de bondade, age, porém,
como homem lógico. É uma verdadeira máquina de precisão. Lampião ameaçava
sempre, mas nem sempre executava a ameaça.
Corisco não
diz o que pretende fazer. Faz. E, quando age, vai direto ao objetivo. Será
fácil adivinhar-se uma atitude de Corisco, ao passo que era impossível saber o
que Lampião faria até mesmo na hora do fato. Mas, na técnica de atacar, Lampião
ficava muito a distância de seu antigo subordinado.
Na história
sangrenta de Corisco não se registra um assalto frustrado. Ele estuda o
terreno, pesquisa, prepara-se com requintes de cuidados, mas quando investe é
para vencer sempre.
Não se
aventura a um assalto duvidoso, ao passo que Lampião muitas vezes teve que
fugir diante de uma resistência inesperada.
Esse homem
diabólico ainda vive no sertão, onde sua fama só é menor do que a de Virgulino
pela repercussão das barbaridades do rei do cangaço. As forças que combatem o
banditismo reconhecem a superioridade técnica de Corisco e compreendem ser ele
um bandido mais “duro” do que Lampião.
Morto o
“terror do sertão”, resta às autoridades a caça ao bandido louro. Manuel Neto,
Luiz Mariano e João Bezerra, a trindade de ferro que luta pelo extermínio do
cangaço no Nordeste sabem que encontrarão em Corisco um inimigo se não mais
perigoso, pelo menos mais valente e mais difícil de abater. Vai começar, agora,
a caçada ao bandoleiro de olhos verdes. Não faltarão aos seus perseguidores a
tenacidade e a coragem necessária para enfrentar todos os riscos dessa luta de
morte a que os sertões nordestinos assistirão”.
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