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segunda-feira, 4 de julho de 2016

A POMBAL DO PASSADO

Por Jerdivan Nóbrega de Araújo

A Pombal do passado me chega de leve e se ele atrasar me faz falta.

Faz-me falta deitar-me de papo pro ar e contar as estrelas nas horas noturnas de Pombal.

Faz-me falta o vôo dos morcegos em casas assombradas, olhar para cima e ver casas de maribondos num telhado de madeira onde o cupim comendo o tempo faz crepitar, como lenha em fogueira de São João, numa noite que cheira a milho assado naquelas brasas fumegantes.


Onde anda o cheiro das coisas, hoje velhas, que foi nova na minha juventude e que ficou perdida em uma alguma sombra de algarobas daquelas tardes quentes de Pombal?

O sol não era tão quente e a falta do tudo que hoje nos falta não fazia a diferença. Hoje faz diferença os sonhos que não realizamos e faz diferença a lista cada vez mais curta de verdadeiros amigos que escrevemos e apagamos do nosso caderno a cada dia.

O badalar cadenciado do sino da Matriz e a procissão do Rosário serpenteando pelas ruas com as pagadoras de promessas, mas pedras e coroas de espinho na cabeça, outras pés no chão.

As pessoas do meu tempo, com seus nomes esquisitos, como: Nego Panela, Cachorra Velha, Fitita, , Marreta, Mané Pinga, Nego Chalé, Miquiquiu, Sabonete, Nego Piaba, Mão de Onça Pecado, Papel, Maria Queixinho, Semba, Maduro, Zé de Dozim, Maria do Menino, Macaco, Laura Preá e Canção entre outros.


As ruas do tempo que eu falo eram tão poucas, e denominavam-se por Nova, do Comercio, do Rio, Estreita e dos Pereiros.

Bairros distantes do centro eram logo ali como Nova Vida, Alto do Cruzeiro e Cassete Armado e Rua de Baixo. A minha aldeia era tão pequena e singular que cabia dentro das minhas poesias de rimas pobres.


Novidades que quebravam a monotonia bucólica da minha aldeia era circo na cidade, que trazia pessoas de fora, palhaço sem graça como Batatinha, anão de nome esquisito como Pinduca ou moça de família fugindo com o trapezista para a decepção dos pais.

Vendedor de Quebra queixo, que aceitava de garrafa vazia a arame de cobre, isso na falta dos preciosos centavos, e o carro das Lojas Paulista ou Camisaria de Tiquinho anunciando as ofertas da semana, seguido por uma cambada de moleque disputando as balas que eram jogadas ao léu pelos anunciantes.


No São João, o Pau de Sebo organizado pelo Professor Arlindo, com suas prendas inacessíveis; no São Pedro as quermesses dos Pereiros e as mulheres do Cordão Azul e Encarnado, na disputa pela maior e melhor barraca na Festa do Rosário.

Caminhar de pés descalços pela lama das ruas do meu tempo, que se formavam nas primeiras chuvas; disputar com outros moleques as bicas por onde jorravam as águas cheirosas e frias do inverno, quando havia.
Brinquedo bom era o papagaio colorido ou carrinho de lata que nós mesmo fazíamos juntando latas de leite arame e barbantes.


A penicilina que vinha pelas agulhas de aço no bagageiro da bicicleta de seu Zé de Santa e a disciplina nas filas João da Mata que era estampado rosto do porteiro Zé de Júlia ou na sineta tocada por Dona Livinha, que anunciava o bom e esperado recreio.

O passado me chega de leve e traz a minha boca o gosto azedo dos tamarindos da Praça do Centenário, o picolé da soverteria Tropical e o algodão doce na porta da Sede, antes da primeira matinê dos domingos de Carnavais.


Ouço o fantasmagórico som dos dados jogados na mesa de Ludo, onde bêbados, estudantes e desocupados disputavam as poucas sombras das algarobas, com os animais soltos nas ruas feito gente.


Ouço a minha voz gritando gol num peleja futebolística no avelozão onde os nosso ídolos do futebol moram logo ali na esquina e atendem por nomes como Craques da qualidade de Agnelo, Zé de Dozinho, Edílson(goleiro) Valdemar Pereira, Eron Leite, Carin, Zaqueu, Agamenon, Arioaldo, João de Aristides, Zé Queiroga, Natal Queiroga, Ruy Alcântara, Mixuruca, Dilau, sem dúvida, foram os responsáveis pela época de ouro do nosso futebol.Chico Sales, Zé de Duca, Alfredo, Carlos César, Xixico, Luiz Camilo, Magro Zequinha, Carrinho, Curinha, João Rapadura Nenzinho, Werneck, Bosco Alencar, Klebe, Esdras, Ridney, entre outros.

Jerdivan Nóbrega de Araújo. Escritor. Poeta. Advogado. Funcionário da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos. Pom, balense, radicado em João Pessoa.

Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzaguiano José Romero de Araújo Cardoso.

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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