Seguidores

sábado, 26 de novembro de 2016

AS PERNEIRAS

Por Geziel Moura

É possível enxergar o mundo do cangaço como ambiente militarizado?

A maioria dos cangaceiros eram forjados por homens que trabalhavam a terra e cuidavam da pecuária, isto é, nunca participaram de treinamentos militares formais, exceção se faz, em Jararaca e Corisco por terem servido ao exército. Entretanto, mesmo na condição de civil, podemos pensar na militarização nos grupos ou bandos, a partir de elementos que remetem aos usos e costumes da caserna, e que eram praticados por aqueles.

O cangaceiro Corisco

Nessa direção, a hierarquia militar que se constituiu em cadeia de comando, se fez presente em tais grupos de cangaceiros, na medida em que, sempre havia a figura dos comandantes, dos lugares-tenentes e dos subalternos, inclusive com promoções na forma criada por eles.


Além da hierarquia, pode-se verificar que as patentes militares se materializavam no cotidiano do cangaço. No conhecido encontro do bando de Lampião com Padre Cícero, em março de 1926, na cidade de Juazeiro - CE, para compor as linhas do batalhão patriótico, fora franqueando de forma embusteira, a Virgolino Ferreira, Antônio Ferreira e Sabino Gomes, as patentes de capitão, tenente e sargento respectivamente, o que foi aceito de bom grado.

Lampião e Antonio Ferreira

A patente de capitão nos parece adequada, pois no uso militar ela se configura a posto de oficial, comum na maioria dos exércitos do mundo, e que corresponde ao comandante de companhia de soldados, portanto não mais justo diante do ofício de Lampião.


Outro elemento militar que podemos destacar nos bandos, era espécie de ordem unida, que são movimentos cadenciados, harmoniosos e equilibrados de marchas militares, cuja visibilidade se encontra no filme de Benjamim Abraão, de 1926.


Podemos, ainda, pensar outros elementos militares, como armamento, táticas de guerra e atitudes militares. No entanto, para este momento me deterei em analisar a utilização do item militar, que para mim, se tornou um dos mais emblemáticos, as Perneiras.


É razoável pensar que as Perneiras ou Polainas, como artefato militar, surgiu para compor a indumentária do soldado, desde o século XVIII. Assim, sua função é/era proteger as pernas e joelhos, pois é instalada da parte inferior do joelho até o peito do pé.

Cangaceira Inacinha companheira de Gato

Assim, por meios de diversas imagens, é possível ver o uso das perneiras, dentre os cangaceiros e volantes, infestadas de ilhoses, unindo a função de segurança com a expressão estética do cangaço.


Corisco era contumaz utilizador das perneiras, provavelmente, o Diabo Louro a tenha conhecida na época em que serviu ao Exército, em Aracaju, no ano de 1923, tendo a adotada durante sua trajetória no cangaço, pura conjectura minha.

Fotos: Benjamin Abrahão
Texto: Geziel Moura

Página: Geziel Moura
https://www.facebook.com/profile.php?id=100011331848533&fref=ts

http://blogdomendesemendes.blogspot.com


Nenhum comentário:

Postar um comentário