Por José João Sousa
Em 26 de
novembro de 1926, ocorreu a Batalha da Serra Grande, a maior da história do
cangaço. Dois dias antes do combate, Lampião tinha sequestrado Pedro Paulo
Magalhães Dias, um inspetor da Standard Oil Company (ESSO).
O fato aconteceu na estrada de Triunfo para Vila Bela (atual Serra Talhada). Pedro Paulo era natural da cidade de Sabará, em Minas Gerais, e, por isso, ficou conhecido como Mineiro. Lampião pedia vinte contos de réis para libertá-lo, o dinheiro deveria ser entregue na Fazenda Varzinha, localizada a 20 km de distância de Vila Bela e 5 km da Serra Grande.
Quando o bando
chegou a Fazenda Varzinha, foi direto à residência de Silvino Liberalino, o
qual tinha sido subdelegado de Vila Bela. Logo que viu a tropa, Silvino não
percebeu que estava diante dos comandados de Lampião, pois, naquela época, as
roupas dos cangaceiros eram iguais às da polícia. Então, saltou na calçada, com
um rifle na mão, e fez a seguinte pergunta:
- É Lampião ou é Força?
O bando respondeu:
- É a Força Volante.
Silvino Liberalino se sentiu mais seguro e disse:
-Então podem entrar. Se fosse Lampião, ia comer bala.
Os cangaceiros entraram e pediram água para beber, quando Silvino colocou a mão no pote para retirar água, os cangaceiros o seguraram e se identificaram:
- Você está falando é com Lampião cabra. E o prenderam, e para comemorar, deram alguns tiros em frente da residência, ainda hoje, existem algumas marcas de balas nas portas da casa. Os bandoleiros, que já vinham com o refém, Pedro Paulo Magalhães Dias (o Mineiro), levaram também, Silvino Liberalino, os dois presenciaram a Batalha na Serra Grande.
A intenção do
bando de Lampião na Fazenda Varzinha, além de receber o resgate, era uma
vingança por um antigo assassinato, ocorrido na Serra Negra, no município de
Floresta, cometido por José de Esperidião, que se mudara para Varzinha. O
resgate foi levado por intermédio de Manuel Macário, homem da confiança do
coronel Cornélio Soares, no entanto, já na Fazenda Varzinha, o portador foi
flagrado pela força policial do sargento Manuel Neto, que lhe aplicou severas
torturas e recolheu o dinheiro.
O bando seguiu
em direção à casa de José de Esperidião, cuja esposa, Rosa Cariri de Lima, ao
ver de longe, a multidão, avisou o marido, alertando-o para que se retirasse.
José de Esperidião perguntou:
- Quantas pessoas você acha que vêm?
Ela respondeu:
- Uns vintes homens.
Ele disse:
- Não corro com medo de vinte homens.
A mulher calculou muito mal, o quantitativo do bando era de aproximadamente, 70 cangaceiros.
José de Esperidião pegou seu rifle e dois bornais de balas e ficou entrincheirado no quarto. O tiroteio foi grande, de toda ribeira se ouvia o barulho das balas, após certo tempo de tiroteio, o bando resolveu colocar fogo na casa. Para tanto, retiraram toda madeira do curral, que ficava em frente da residência. Segundo o livro, o Canto do Acauã de Mariloudes Ferraz, na Varzinha o bando encurralou um rapaz que, sozinho, lutou até esgotar a munição.
No dia
seguinte, foram retirar o corpo de José de Esperidião para fazer o
sepultamento, não encontraram marcas de balas no corpo dele, portanto,
chegou-se à conclusão de que a morte fora por asfixia provocada pela fumaça.
José Pereira Lima, conhecido por Cazuza, filho da vítima, com apenas sete dias de nascido, encontrava-se deitado em uma rede na sala, no momento do tiroteio. Foi baleado, ficando com uma marca no pé pelo resto de sua vida. Geralmente, quando ia comprar sapatos, adquiria dois pares, um par 41 e outro par 42, pois o pé defeituoso ficara menor. O bando seguiu viagem rumo às ribeiras do tamboril, ao chegar ao sítio Morada, hoje município de Calumbi, Lampião já estava ciente que a policia estava no seu encalço, portanto, ali mesmo, abasteceu o bando e pegou o rumo da Serra Grande.
O sequestro de
Pedro Paulo Magalhães Dias e os fatos acontecidos na Fazenda Varzinha foram
interpretados como sendo um desrespeito às autoridades, por terem ocorridos na
comarca de Vila Bela, na época, a sede do comando militar de combate ao cangaço
no interior de Pernambuco. Portanto, foi preparado um destacamento com
aproximadamente 300 soldados, chefiados por seis comandantes de volantes, todos
fortemente armados, inclusive com duas metralhadoras Hotchkiss, e muita
munição, era um verdadeiro exército. Tudo inspirava confiança e dava a certeza
da vitória.
Lampião
estrategicamente com seus 70 cangaceiros, subiram a serra, e prepararam uma
emboscada, em um local onde existem grandes pedras e fendas profundas, que lhe
dava uma visão completa sobre o campo da batalha. O combate teve início antes
das 9 horas da manhã e terminou ao anoitecer, a polícia mesmo com um
quantitativo superior, e os soldados atacando corajosamente, não conseguiram
vencer a resistência do capitão Virgulino Ferreira e seus comandados.
A localização
dos cangaceiros era ótima, conforme disseram os policias. Segundo o cangaceiro
Ventania, no local que Lampião estava, nem canhão tirava ele de lá, no entanto,
a posição dos soldados era extremamente precária, entrincheiravam-se como
podia, sem comando, sem tática, salve-se como puder. Arlindo Rocha recebeu um
balaço no rosto que lhe fraturou o maxilar inferior, ainda no início do
tiroteio, Manuel Neto foi baleado nas pernas, Luiz Careta de Triunfo faleceu
com uma bala na cabeça, Euclides Flor recolocou ainda em combate as vísceras
abdominais de Vicente Ferreira (Vicente Grande), atingido na altura do umbigo,
o soldado Luiz José sofreu um ferimento na coxa.
Para provocar
os policiais, o cangaceiro Genésio deu um aboio triste e sonoro, os soldados se
sentiram encurralados como gado, Antônio Ferreira não se conteve e se expôs
totalmente, gritando como vaqueiro: Ei, booooi... Nesse momento, o sargento
Filadelfo Correia de Lima, deu-lhe uma rajada de metralhadora, a partir de
então, a polícia acreditava que Antônio Ferreira tinha morrido no combate. Com
a chuva de balas vindas de cima da serra, os soldados ficaram desesperados,
portanto, aproveitavam a cobertura de fogo das metralhadoras para se debandar
na caatinga, deixaram grande quantidade de armas, munições, cartucheiras,
cantis, bornais, etc. Levavam apenas alguns companheiros feridos, quando
podiam. Após a batalha, os cangaceiros recolheram 27 fuzis e mosquetões. A
Batalha da Serra Grande é considerada a mais violenta da história do cangaço,
segundo o historiador Frederico Bezerra Maciel, morreram 26 policias e 38
saíram feridos, no bando dos cangaceiros não houve registrado de morte.
Foram a Serra
Grande verificar os fatos de perto, o Major Theophanes Torres comandante de
Vila Bela, o juiz de direito Dr. Augusto de Santa Cruz e o promotor de Salgueiro.
Antes do regresso para Vila Bela, o Tenente Higino ainda providenciou o
sepultamento de sete corpos em uma única cova, no rancho de Pedro Rodrigues
(proprietário local).
Tomaram parte
na batalha os seguintes cangaceiros: Luiz Pedro, Maquinista, Jurema, Bom
Devera, Zabelê, Colchete, Vinte e Dois, Lua Branca, Relâmpago, Pinga Fogo,
Sabiá, Bentevi, Chumbinho, Ás de Ouro, Candeeiro, e seu irmão Vareda, Barra
Nova, Serra do Mar, Rio Preto, Moreno, Euclides, Pai Velho, Mergulhão,
Coqueiro, Quixadá, Cajueiro, Cocada, Beija-Flor e seu irmão Cacheado, Jatobá,
Pinhão, Mormaço, Ezequiel e seu irmão Sabino, Jararaca, Gato, Ventania,
Romeiro, Tenente, Manuel Velho, Serra Nova, Marreca, Pássaro Preto, Cícero
Nogueira, Três Coco, Gaza, Emiliano, Acuana, Frutuoso, Felão, Biu, Cordão de
Ouro, Genésio, Ferreirinha, Antônio Ferreira, Lampião e outros.
No dia
seguinte à Batalha da Serra Grande, já na Fazenda Barreiros, Pedro Paulo é
libertado, Lampião lhe entregou uma carta endereçada ao então governador de
Pernambuco, Dr. Júlio de Melo, propondo dividir o estado em dois, com os
seguintes limites: Governo o sertão até as pontas dos trilhos em Rio Branco
(Arcoverde), e vosmecê daí até a pancada do mar no Recife.
O relato sobre a Batalha da Serra Grande encontra-se no processo criminal contra Virgulino Ferreira et al., de 28 de novembro de 1926, 1° Cartório de Serra Talhada PE.
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