Por Sálvio Siqueira
A virilidade do sertanejo era a ‘assinatura’ dele, como homem, procriador, reprodutor nato das plagas do sertão. Impedir-lhe de reproduzir, era mais triste e cruel do que mata-lo. Ainda hoje, quando temos a vasectomia, que nada tem haver com castração, em muitos lugares, a maioria do sertanejo não aprova, ou melhor, não quer nem ouvir falar.
Família
Ferreira em Juazeiro do Norte - CE. Essa captura foi realizada por Lauro Cabral
em 1926. Identificação: em pé, da esquerda para direita - Zé Paulo (primo dos
irmãos Ferreira), Venâncio Ferreira (tio deles), Sebastião Paulo (primo dos
irmãos Ferreira), Ezequiel Ferreira, João Ferreira, Pedro Queiroz (cunhado
casado com dona Mocinha), Francisco Paulo (primo dos irmãos Ferreira), Virgínio
Fortunato da Silva (cunhado - casado com Angélica Ferreira da Silva) e Zé Dandão
(agregado). Sentados, da esquerda para direita: Antônio Ferreira da Silva, Anália
Ferreira, Joaninha 'Ferreira' (cunhada - casada com João Ferreira), Maria Ferreira
de Queiroz (Dona Mocinha), Angélica Ferreira da Silva e Virgolino Ferreira da Silva.
Naquele tempo,
não sabemos o real motivo, significado, do porque das castrações feitas em
pobres roceiros pelos cangaceiros. No conceito social o ‘cabra’ estava lascado.
A dor moral, de ser um castrado, talvez doesse muito mais do que ter sido
submetido a tal ato, a base de faca peixeira, canivete ou navalha. Esse fato o
desonrava mais do que qualquer outra coisa, e só notamos ser esse o motivo de
tão perverso ato.
Em cada bando,
ou subgrupo, de cangaceiros havia aqueles que se destacavam em suas
‘especialidades’ como sangrar, torturar, ferrar, castrar e etc... Como Gato, Zé
Baiano, Mariano, Atividade e outros. Falaremos nessa matéria da história de um
cangaceiro, onde não vemos destaque algum em grandes combates, no entanto,
destaca-se como ‘o castrador do bando de Lampião’.
Virgínio Fortunato da Silva o cangaceiro Moderno
Virgínio
Fortunato da Silva tido por alguns autores como sendo natural da cidade de
Alexandria, RN, mas, essa citação carece de comprovações. Nasceu no ano de
1903. Casa-se com Angélica Ferreira da Silva, irmã dos cangaceiros “Esperança”,
“Vassoura” e “Lampião”. Quando da morte dos sogros, Virgínio vai, junto aos
cunhados e primos de Lampião, para cidade de Juazeiro do Norte, CE, onde
estabelecem moradia. Segundo alguns escritores, sua esposa vai a óbito por
motivos de problemas de parto ou mesmo de problemas no período puerpério,
pós-parto. Quando a Carta Precatória é enviada pelas autoridades de Vila Bela,
PE, para as autoridades cearenses, e a família tem que voltar debaixo de ordem,
presa mesmo, para Pernambuco, e o sargento encarregado da escolta revela aos
Ferreira um plano de os assassinarem, Virgínio e Ezequiel, irmão mais novo de
Lampião, desgarram e entram no cangaço. Virgínio passa para história como o
cangaceiro “Moderno” e Ezequiel, seu jovem cunhado, como o cangaceiro “Ponto
Fino”.
Ezequiel Ferreira futuro cangaceiro Ponto Fino
Moderno ganha
a confiança total do “Rei dos Cangaceiros” e passa a ser a pessoa que vai
buscar os valores que Lampião extorquia dos fazendeiros, coronéis e autoridades
de pequenas cidades, Fazendas, Vilas e Povoados no sertão nordestino.
Moderno também se encarrega de que se alastre o terror entre os sertanejos, o medo toma conta da população quando se fala no bando de Lampião. Muito antes da divisão, propriamente dita do bando de cangaceiros em subgrupos, Virgolino deixa alguns cabras sob o comando do cunhado, e esse passa a agir no Moxotó pernambucano e Cariri paraibano.
Durvalina e Virgínio Fortunato da Silva
Certa feita,
Moderno, estando no município de Buíque, PE, em Catimbáu, próximo ao Povoado de
Morro Redondo, sequestra três cidadãos, “Firmino Cavalcante, Eurico Monteiro e
Domingos Deletriei”, e exige quinze contos de réis. Os familiares não tinham
como pagar, ou não quiseram, enviar uma quantia tão alta, então, o próprio
cangaceiro manda segurarem um jovem de 22 anos, Manuel Luiz Bezerra, tira-lhe
as calças, saca da ‘viana’ e arranca fora o saco escrotal do pobre rapaz.
“(...) a
quantia de cinco contos de réis de cada um (dos três), não sendo atendido,
prendeu o jovem Manuel Luis Bezerra, “Mané Lulú”, rapaz de 22 anos de idade e o
castrou, em resposta ao negativo retorno do seu pedido (...).” (MORENO &
DURVINHA - Sangue, Amor e Fuga no Cangaço” – LIMA, João De Sousa. 1ª
edição. 2007)
Lampião
e seu bando. Versão da foto estendida por Rubens Antônio. Identificando: em pé
- da esquerda para direita: Mariano, Calais, Revoltoso ou Fortaleza, Mourão e
Volta Seca. Sentados, da esquerda para direita: Lampião, Moderno, Zé Baiano, Arvoredo.
Identificação sujeita a retificação. - Esta foto do bando de Lampião na fazenda Jaramataia, Joãozinho Caixeiro, foi colorizada digitalmente por nosso amigo, Professor Rubens Antonio.
O cunhado de
Lampião continua sua senda aterrorizando a população rural entra Buíque e Rio
Branco. Extorque, rouba, toma e assassina a população indefesa. Transpõe a
divisa para o lado paraibano e chega ao município de Umbuzeiro, adentra e
saqueia uma casa comercial da cidade. Faz dois jovens de reféns e passa a
tortura-los com a ponta do punhal na altura do abdômen e em seus dorsos,
costas. Na base do ferro, entrando, perfurando a carne, os cidadãos “Pedro de
Alcântara Filho e Sebastião Sebas”, abrem o jogo, e falam que estavam indo em
busca de socorro. São executados, assassinados a sangue frio, naquele momento.
Pedro
Batatinha, mostrando não ter mais o saco escrotal.
Na fazenda
Ribeirão, propriedade do Sr. Gedeão Hipólito Neves, Moderno mata mais duas
pessoas, o dono e um senhor chamado Zé Lourenço. Assim prossegue o cangaceiro
vaidoso aprontando das suas em terras paraibanas. Até dar de cara com a volante
do nazareno Manuel Neto, nas terras da fazenda Fundão, travar um tiroteio e
fugir sem deixar rastros. Voltando ao Estado do Leão do Norte, sequestra um
cidadão e o faz de guia, obrigando-o a levar o pequeno grupo para terras
alagoanas.
Moderno, lá
pelos idos de 1930, já aos 27 anos de idade, viúvo, conhece Durvalina Gomes de
Sá, na fazenda Arrasta-pé, propriedade do pai da moça e coito de Lampião,
caindo de quatro por ela. Segundo vários escritores a moça, de apenas 15 anos,
também se apaixona pelo cangaceiro. Formam assim, mais um casal de cangaceiros
na caatinga sertaneja.
Pedro Batatinha mostrando a sua orelha costada
A companheira
de Moderno, cangaceira “Durvinha”, como ficou conhecida, conta ao
pesquisador/historiador João de Sousa Lima ter lembranças de uma castração que
seu amado fizera em um rapaz apenas por ele não lhe ter respondido a uma
pergunta, assim como, arrancado a língua de uma senhora por ela ter se
assombrado com o terrível ato.
“(...)O
cangaceiro aproximou-se, segurando o homem pelo colarinho (...)forçando ele a
se ajoelhar. Outros cangaceiros juntaram-se ao chefe e extraíram o saco
escrotal da vítima. Diante da situação, uma mulher gritou:
- Valei-me,
minha Nossa Senhora!
Virgínio
segurou a mulher, forçando ela abrir a boca e puxando a língua para fora. O
órgão do palato foi cortado, deixando a senhora com a boca pastosa por grande
quantidade de sangue (...).” (Ob. Ct.)
Essas e outras
façanhas terríveis foram cometidas pelo cangaceiro Moderno. Moderno era, como
seu cunhado o "Capitão Lampeão", chefe mor do cangaço, vaidosíssimo,
então, manda colocar alguns dentes de ouro.
Lampião o dono da "Empresa de Cangaceiros Lampiônica & Cia"
Contam alguns autores, que Moderno, em um confronto contra a volante do tenente Pompeu, fora atingido por um projétil em um dos joelhos. Desse ferimento, ou por esse ferimento, jorra grande quantidade de sangue. A hemorragia leva-o a óbito.
Particularmente,
temos dúvidas dessa morte por apenas esse ferimento, já que sabemos de
ex-cangaceiros mencionarem um ferimento na altura do tórax, causado por uma
bala de mosquetão, tão grande que dava para ver alguns dos órgãos internos do
famigerado facínora. Sabemos também que ao penetrar, a bala de fuzil faz certa
ferida, no entanto, ao romper os tecidos e sair, o ferimento é várias vezes
maior. Ficando uma centelha de dúvida, pois, quem relatou, cita ver o
cangaceiro de frente, pela frente. Mas, talvez, esse seja mais um, dos vários
mistérios que encontramos na longa saga das trilhas históricas do Fenômeno
Social Cangaço.
Fonte MORENO
& DURVINHA - Sangue, Amor e Fuga no Cangaço” – LIMA, João De Sousa. 1ª
edição. 2007
Tokdehistória.com
Tokdehistória.com
Foto Ob. Ct.
Benjamin Abrahão
Lamoiãoaceso.com
Pinterest
Benjamin Abrahão
Lamoiãoaceso.com
PS// O
registro fotográfico da vítima de castração é uma ilustração. Trata-se do Sr.
Pedro Batatinha, que não fora castrado por Moderno, e sim pelo cangaceiro de
alcunha “Cordão de Ouro”, no lugar chamado Lagoa dos Tamboris, em 1930. A
vítima ainda tem sua orelha esquerda cortada pelo próprio Lampião.
Fonte Ranulfo Prata.
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