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terça-feira, 14 de março de 2017

FUTEBOL. O ESPORTE VIOLENTO, IMPRÓPRIO, QUASE ANIMAL


No início do século XX, quando começou a se praticar futebol na Bahia, era certo que trabalhador braçal não deveria se misturar com os jovens endinheirados da elite soteropolitana, adeptos do jogo da bola. Discurso preconceituoso e ao mesmo tempo incoerente, pois futebol era considerado um esporte para os fortes e durante duas décadas, pelo menos, médicos e outros especialistas alternavam quanto às prováveis consequências da prática dessa modalidade.

A mídia endossava esse sentimento e também a literatura, a exemplo do livro “Football” que circulou em Salvador em 1915, tradução de Portugal da Silva:”Violento em si transmite entusiasmos frenéticos, ou rancores excessivos. É verdade, o futebol é um jogo de violentos. E é mesmo por isso que tanto amor lhe temos”. Um dos formadores de opinião que alertava contra o risco do esporte era o respeitabilíssimo poeta, intelectual e médico Álvaro Reis, que em 1904, na tese intitulada “Educação Física”, chamava a atenção para os perigos do abuso do futebol que só seria benéfico para “a mocidade mais preparada” e por tanto impróprio para os iniciantes.

O Dr. Reis questionava os jogos realizados no Campo da Pólvora, com excesso de poeira para os jogadores e mesmo para o público, já que era um terreno de chão batido. Nessas condições, dizia o ilustre esculápio, a cultura física “não podia chamar-se cultura da saúde do corpo, mas sim de ruína do corpo”.

Outro médico publicava, pela mesma época, na Gazeta de Noticias, referindo-se ao futebol e outros esportes: “Exercícios atléticos para despertarem no organismo uma reação salutar devem ser praticados por organismos solidamente constituídos”. Um bom argumento, embora não fosse essa a intenção, para excluir pobres e mal nutridos dos esportes de elite (futebol, turf e remo). 

A imagem do futebol como esporte violento, “animal” para alguns, consolidou-se com o brado de alerta do Congresso de Medicina e Cirurgia de 1907, realizado em São Paulo. Os anais do evento pediam especial atenção “para os estados do Nordeste, como a Bahia, onde o jogo faz as crianças extenuarem-se como cavalos de corrida”. Moção apresentada e aprovada no conclave com a recomendação de denunciar os abusos do esporte, em especial, da prática do futebol.

http://blogs.ibahia.com/a/blogs/memoriasdabahia/2013/02/20/futebol-o-esporte-violento-quase-animal/

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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