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sexta-feira, 31 de março de 2017

"O VELHO TESTAMENTO SEGUNDO ZÉ LIMEIRA".

Por Arievaldo Viana

"O Velho Testamento Segundo Zé Limeira" é mais um lançamento da Cordelaria Flor da Serra, na Bienal Internacional do Livro do Ceará e ocorrerá às 17 horas do dia 15 de abril na Praça do Cordel, ambiente de expressão da poesia popular na Bienal. O autor desse hilário e primoroso texto é Arievaldo Viana, um dos maiores nomes da poesia popular contemporânea do Brasil, e a capa é inspirada em uma xilogravura do Mestre José Costa Leite.

Zé Limeira, o poeta do absurdo, tornou-se lenda, um mito cujos versos anda de boca em boca, fazendo com que o poeta sobreviva ao tempo. Segundo alguns, Zé Limeira não existiu, foi tão somente uma bela criação do escritor e jornalista pernambucano, Orlando Tejo. No entanto, outros afirmam categoricamente a existência do poeta. 

Essa polêmica, ao invés de diminuir, aumenta a popularidade desse Bardo sertanejo. A sua obra, ou atribuída a ele é de um humor refinado e por isso sobrevive ao tempo. Seguindo a trilha dessa verve surreal, O poeta Arievaldo Viana escreveu esse cordel, que tem todos os ingredientes para se transformar em mais um clássico da nossa poesia de gracejo.

Saboreie algumas estrofes dessa obra e para ler o texto completo, faça seu pedido para a cordelaria Flor da Serra pelo E-mail cordelariaflordaserra@gmail.com ou pelo WhatsApp (085) 9.99569091.


Quando Adão andava nu
E mamãe Eva pelada
Veio uma cobra safada
Da espécie surucucu
Dançando um maracatu
Mazurca, xote e xaxado
Mostrando-lhe um fruto invocado,
Dizendo: - Passe no dente!
Eva escutou a serpente
E inventou o pecado.
.
O criador suspeitando
Ficou muito aborrecido
Chamou Eva e seu marido
E foi logo interrogando:
Alguém andou lhes tentando?
Eva disse: - Foi a cobra!
Veio cheia de manobra
Igual a do Teixeirinha
Comi uma maçãzinha
E desgracei tua obra.
.
Vi logo que andava nua
Sei que pratiquei o mal.
Só não pulei carnaval
Porque não passou na rua...
E a cantiga da perua
Veio logo de encosto.
Mostrando imenso desgosto
Disse Deus: - É de lascar
Agora vão trabalhar
Comer do suor do rosto!
.
Se tiverem paciência
Podem até se aposentar,
Se alguém não inventar
Reforma da Previdência!
Adão lhe pediu clemência,
Disse: - Senhor! Fiz besteira!
Deus mostrou-lhe a capoeira
E disse: - Vá cultivar
Pra nunca mais escutar
Serpente, nem Zé Limeira.
.
Pôs-se Adão a trabalhar
De dia na agricultura
De noite na criatura
Para poder prosperar;
Breve chegaram em seu lar
Caim, depois Abel,
Mas por causa de um pastel
De carne e um caldo de cana
Caim mostrou ser sacana
Perverso, mau e cruel.
.
Matou seu irmão Abel
Com uma ossada na cabeça,
Deus falou: - Desapareça
Cabra malvado, infiel.
Caim bebeu um tonel
De zinebra Gato Preto
Pra bagunçar o coreto
Na Rua Tristão Gonçalves
Se encontrou com Castro Alves
E foram fazer soneto.
.
O tempo foi se passando
Foi quando nasceu Noé.
Morava no Canindé
E só vivia rezando.
De camelô trabalhando
Com seu cunhado Plinúvio
Mas estourou o Vesúsio,
Um vulcão que tudo abarca
Deus disse: - Faça uma arca
Para escapar do Dilúvio.
.
Quem quiser saber do resto
Dessa história sagrada
Consulte uma tabuada,
Livreto que eu detesto.
Não digam que eu não presto,
Sou poeta de alento,
Mas vou parar no momento
Antes que eu desaprume,
Compre o segundo volume
Com o Novo Testamento.

Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzaguiano José Romero de Araújo Cardoso

http://blogdomendesemendes.blogspot.com 

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