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sábado, 1 de abril de 2017

“SE ACABOU-SE O HOMEM DE SERGIPE”

Do acervo do pesquisador do cangaço Geraldo Júnior escrito por José Bezerra Lima Irmão. 
Na fotografia  vemos a cabeça do cangaceiro Zé Baiano.

Foram as últimas palavras do cangaceiro Zé Baiano pouco antes de expirar.

Zé Baiano e seus comparsas Demudado, Acelino e Chico Peste foram mortos por um grupo de civis liderados por Antônio de Chiquinho nas mediações do povoado Alagadiço no município sergipano de Frei Paulo em 07 de junho de 1936.

Os quatro corpos foram enterrados num formigueiro, onde a terra era fácil de ser cavada.

Terminado tudo, sujos de barro e sangue, os coiteiros limparam-se com o que sobrou do conhaque. A caminho do povoado, passaram por um tanque e se lavaram bem. Só à noite voltaram para casa.

Exumação e reconhecimento dos corpos

Em Aracaju, os homens do governo puseram as mãos na cabeça: quando Lampião soubesse ia arrasar Sergipe. Como havia dúvida quanto à veracidade da morte de Zé Baiano, mandaram exumar os corpos.

O próprio chefe de polícia do Estado, Osvaldo Nunes dos Santos, que era major do Exército, deslocou-se no dia 26 de junho até Alagadiço, levando o médico legista Dr. Carlos Meneses, peritos, jornalistas, fotógrafo e uma formidável escolta da Polícia Militar.

A essa comitiva juntaram-se muitos moradores de São Paulo. Em pleno inverno, muita chuva, a estrada era um atoleiro só. De Alagadiço para a Lagoa Nova todo mundo foi a pé. O local da luta ficou apinhado de curiosos. Todo mundo queria ver o desenterramento dos cangaceiros. Tinha gente até de Itabaiana.

A exumação dos corpos foi feita no dia 26 de junho de 1936 – 19 dias depois das mortes.

A cova era rasa, e logo a picareta trouxe a descoberto uma cabeça. Os corpos estavam amontoados uns sobre os outros. O coveiro levantou a cabeça pelos cabelos. Antônio de Chiquinho informou:

– Essa cabeça é de Zé Baiano. Os outo nóis nun cortou as cabeça não.

Quando retiraram o primeiro corpo, que não estava degolado, Antônio de Chiquinho disse:

– Esse aí é Acilino. Zé Baiano vai sê o úrtimo, tá pur baxo de todos.

O segundo corpo era o de Chico Peste. Depois, o de Demudado. E de fato Zé Baiano estava embaixo de todos. O médico mandou que tirassem as roupas de mescla azul dos cadáveres e jogassem água para remover a lama dos corpos. As roupas tiveram de ser cortadas de facão, pois os corpos tinham inchado. O ar era quase irrespirável, apesar da água-de-colônia e outros perfumes e desinfetantes que as pessoas usavam a fim de assistir aos trabalhos.

Para ajudar na identificação dos corpos, haviam mandado chamar várias pessoas que conheciam os cangaceiros. Trouxeram inclusive Marcionílio Soares, de Carira, que apesar de ser o subdelegado daquele povoado era um notório coiteiro de Lampião. Os corpos estavam tumefatos, nem pareciam gente. Porém Marcionílio foi preciso:

– A cabeça de Zé Baiano é esta aqui. Ói a faia no dente. O corpo dele é o grandão. Cortaro a cabeça dele. E esse aqui eu acho qui é de Demudado. Os outo eu nun cunheço.

O médico legista começou a fazer as devidas anotações em sua prancheta: faltava na boca de Zé Baiano o incisivo mediano direito superior; seu corpo...

Marcionílio afastou-se, engulhando. Nem o diabo aguentava o fedor.

Os corpos foram fotografados de um a um pelo fotógrafo Artur Alves Costa. Foi batida uma chapa da cabeça de Zé Baiano, e outra de seu corpo estendido no chão com a cabeça equilibrada sobre ele. Por fim, o médico ordenou o batimento de uma chapa dos corpos em conjunto.

Terminada a perícia, os corpos foram recompostos e inumados no mesmo local.

Texto: Livro LAMPIÃO – A RAPOSA DAS CAATINGAS de José Bezerra Lima Irmão
Foto: Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas.
Geraldo Antônio de Souza Júnior (Administrador)

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