Do acervo do pesquisador do cangaço Geraldo Júnior escrito por José Bezerra Lima Irmão.
Na fotografia vemos a cabeça do cangaceiro Zé Baiano.
Foram as
últimas palavras do cangaceiro Zé Baiano pouco antes de expirar.
Zé Baiano e
seus comparsas Demudado, Acelino e Chico Peste foram mortos por um grupo de
civis liderados por Antônio de Chiquinho nas mediações do povoado Alagadiço no
município sergipano de Frei Paulo em 07 de junho de 1936.
Os quatro
corpos foram enterrados num formigueiro, onde a terra era fácil de ser cavada.
Terminado
tudo, sujos de barro e sangue, os coiteiros limparam-se com o que sobrou do
conhaque. A caminho do povoado, passaram por um tanque e se lavaram bem. Só à
noite voltaram para casa.
Exumação e
reconhecimento dos corpos
Em Aracaju, os
homens do governo puseram as mãos na cabeça: quando Lampião soubesse ia arrasar
Sergipe. Como havia dúvida quanto à veracidade da morte de Zé Baiano, mandaram
exumar os corpos.
O próprio
chefe de polícia do Estado, Osvaldo Nunes dos Santos, que era major do
Exército, deslocou-se no dia 26 de junho até Alagadiço, levando o médico
legista Dr. Carlos Meneses, peritos, jornalistas, fotógrafo e uma formidável
escolta da Polícia Militar.
A essa
comitiva juntaram-se muitos moradores de São Paulo. Em pleno inverno, muita
chuva, a estrada era um atoleiro só. De Alagadiço para a Lagoa Nova todo mundo
foi a pé. O local da luta ficou apinhado de curiosos. Todo mundo queria ver o
desenterramento dos cangaceiros. Tinha gente até de Itabaiana.
A exumação dos
corpos foi feita no dia 26 de junho de 1936 – 19 dias depois das mortes.
A cova era
rasa, e logo a picareta trouxe a descoberto uma cabeça. Os corpos estavam
amontoados uns sobre os outros. O coveiro levantou a cabeça pelos cabelos.
Antônio de Chiquinho informou:
– Essa cabeça
é de Zé Baiano. Os outo nóis nun cortou as cabeça não.
Quando
retiraram o primeiro corpo, que não estava degolado, Antônio de Chiquinho
disse:
– Esse aí é
Acilino. Zé Baiano vai sê o úrtimo, tá pur baxo de todos.
O segundo
corpo era o de Chico Peste. Depois, o de Demudado. E de fato Zé Baiano estava
embaixo de todos. O médico mandou que tirassem as roupas de mescla azul dos
cadáveres e jogassem água para remover a lama dos corpos. As roupas tiveram de
ser cortadas de facão, pois os corpos tinham inchado. O ar era quase
irrespirável, apesar da água-de-colônia e outros perfumes e desinfetantes que
as pessoas usavam a fim de assistir aos trabalhos.
Para ajudar na
identificação dos corpos, haviam mandado chamar várias pessoas que conheciam os
cangaceiros. Trouxeram inclusive Marcionílio Soares, de Carira, que apesar de
ser o subdelegado daquele povoado era um notório coiteiro de Lampião. Os corpos
estavam tumefatos, nem pareciam gente. Porém Marcionílio foi preciso:
– A cabeça de
Zé Baiano é esta aqui. Ói a faia no dente. O corpo dele é o grandão. Cortaro a
cabeça dele. E esse aqui eu acho qui é de Demudado. Os outo eu nun cunheço.
O médico
legista começou a fazer as devidas anotações em sua prancheta: faltava na boca
de Zé Baiano o incisivo mediano direito superior; seu corpo...
Marcionílio
afastou-se, engulhando. Nem o diabo aguentava o fedor.
Os corpos
foram fotografados de um a um pelo fotógrafo Artur Alves Costa. Foi batida uma
chapa da cabeça de Zé Baiano, e outra de seu corpo estendido no chão com a
cabeça equilibrada sobre ele. Por fim, o médico ordenou o batimento de uma
chapa dos corpos em conjunto.
Terminada a
perícia, os corpos foram recompostos e inumados no mesmo local.
Texto: Livro
LAMPIÃO – A RAPOSA DAS CAATINGAS de José Bezerra Lima
Irmão
Foto:
Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas.
Geraldo
Antônio de Souza Júnior (Administrador)
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