Por Geraldo Maia do Nascimento
O prédio onde
funciona atualmente a Secretaria Municipal de Finanças, na esquina da Av.
Alberto Maranhão com a Av. Augusto Severo, no centro de Mossoró, foi construído
em 1930 para servir de residência ao seu proprietário, o
industrial Antônio
Florêncio de Almeida, e tem uma particularidade: foi o primeiro prédio
construído em Mossoró usando-se em suas estruturas, vigas de cimento armado,
assinalando assim o começo de uma nova era no setor de construção, haja vista
que até então todos os sobrados da cidade tinham vigas de madeira,
principalmente de carnaúba, madeira abundante na região.
O seu construtor foi o
mestre de obras Joãozinho de Zuza, que ao lado de outros grandes construtores,
como Francisco Paulino, João Dias, o velho Darico e de outros da mesma estirpe,
tanto contribuíram para o embelezamento da cidade, à época em que viveram. Os
salões do palacete abrigaram, por várias vezes, a sociedade mossoroense em
suntuosos bailes e luxuosos banquetes, numa prática muito usada na época, não
somente ali, mas em outras mansões. A professora Ozelita Cascudo, em um
depoimento sobre como era a vida social de Mossoró no passado, diz: “Li, certa
vez, que as cidades também têm alma. Acho que Mossoró, naquela época, tinha
mais vida, tinha alma, era mais alegre, sentia-se nela a alegria de viver.
(...) A vida social do meu tempo era mais intensiva, havia mais entusiasmo,
mais cultura. Lembro-me de que as festas se realizavam nas residências, como a
de Antônio Florêncio de Almeida, onde haviam bailes carnavalescos, saraus
dançantes, etc.” Esse mesmo palacete, em épocas passadas, serviu de sede à
Prefeitura Municipal durante as gestões do prefeito Antônio Rodrigues e
Raimundo Soares de Souza, bem como a Câmara Municipal, segundo nos informa o
historiador Raimundo Soares de Brito, em seu livro “Casarões e Monumentos
Contam a História (Coleção Mossoroense – Série B – Nº 1085 – 1991). Dos velhos
casarões da cidade, o palacete de Antônio Florêncio é um dos mais bem
preservados, haja vista que muito pouco dos seus traços originais foram
modificados. A fachada foi preservada original, tendo apenas as suas cores
modificadas. No interior, poucas modificações para se adequar ao uso atual,
mantendo as portas e o piso originais. É interessante lembrar de como se
construía casas naquela época. Não havia loja de material de construção que
vendesse tijolos, telhas, fornecesse areia, barro, cal ou qualquer outro
material primário para a construção. Escolhia-se, portanto um local onde
existisse material argiloso, dali tiravam o barro para moldar os tijolos e
telhas. No mesmo local esse material era queimado para se tornar resistente,
como ainda hoje vemos em locais próximo ao município de Assu, que mantem essa
prática de confecção de tijolos artesanais. A areia era trazida da beira do
rio, principalmente na época de seca, pois no inverso o rio alagava todas as
margens, tornando-as lamacentas; e a cal sempre houve em abundância aqui na
região, mas tinha-se que queimar a pedra para extrai-la. Não existindo cimento,
a argamassa usada nas construções era feita de areia, barro e cal, que servia
para juntar os tijolos e também para o reboco e acabamento final. E como ainda
não se conhecia a técnica de construção de pilares de ferro, as paredes tinham
que ser dobradas, ou seja, com tijolos duplos, para que a estrutura suportasse
o peso de telhado. Toda a estrutura de madeira era feita, principalmente de
tronco de carnaúba, tanto pela abundância dessa madeira na região, como por ser
bastante resistente e difícil de ser atacada por cupim. O palacete de Antônio
Florêncio, como já citamos, foi um marco para a construção em Mossoró, pois
nela, pela primeira vez se usou estrutura de concreto, o que era uma novidade
para a região. Quase noventa anos se passaram e o palacete de Antônio Florêncio
continua forte e belo. Um exemplo para os demais que continuam sendo demolidos
sem nenhum respeito pela história que eles encerram.
20/05/2017
Geraldo
Maia
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