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domingo, 6 de agosto de 2017

LAMPIÃO EM PARIS

*Rangel Alves da Costa 


Eu estava em Exu, na região do Araripe pernambucano, para o Cariri Cangaço Exu/Serrita 2017, quando na pousada fui surpreendido com o professor Afrânio dizendo que após o evento iria ainda percorrer outras cidades do Nordeste e que certamente passaria em Poço Redondo para conhecer o Lampião em Paris. Havia ouvido falar neste local e estava com muito interesse em conhecê-lo.

Fiquei surpreendido com tal afirmação, principalmente por que jamais imaginaria que um professor universitário mineiro já tivesse ouvido falar num bar e choperia recentemente inaugurado em Poço Redondo, no sertão sergipano, município onde está localizada a Gruta do Angico e onde Lampião e parte de seu bando foram emboscados ao alvorecer de 28 de julho de 38.

Realmente não sei como o professor Afrânio ficou sabendo. Talvez algum poço-redondense que também estava lá houvesse comentando sobre a existência de tal ambiente com tão inusitado e instigante nome: Lampião em Paris. Sendo um espaço novo, recentemente inaugurado, até aquele momento eu também não sabia o porquê da denominação Lampião em Paris. Somente depois, dias após retornar a Poço Redondo é que fiquei sabendo acerca das justificativas para que o bar e choperia recebesse tal nome. E mais adiante direi o que fiquei sabendo.

Mas não ficou só nisso não, pois o Lampião em Paris parece já ter atravessado outras fronteiras e causado verdadeiro rebuliço. E assim por que ao redor do nome se formou como uma legião de defensores e de ferrenhos críticos. Significa dizer que o nome Lampião em Paris está provocando tamanha discussão que chega ao extremo de xingamentos. Mas também defesas encantadoras.

De um estudioso do cangaço me chega uma estranha reclamação: “Mas Rangel, como é que você deixa que aí em Poço Redondo, terra de Alcino, de Adília, de Sila, de Cajazeira, Zabelê e tantos outros, além de guardar no seu território a Gruta do Angico, que coloquem num bar um nome tão injurioso. Falar de Lampião em Paris é o mesmo que dizer que o maior cangaceiro era afrancesado, trejeitoso, afeminado. Já pensou Lampião falando francês e fazendo biquinho? Já pensou Lampião passeando de calça apertadinha ao redor da Torre Eiffel?”.


E prosseguiu o indignado amigo: “Logo vão chamar esse bar de Lampión en Parrí, com biquinho e tudo. Avistar esse bar com tal nome é o mesmo que avistar o Capitão Cangaceiro de camisa florida e cachecol no pescoço, sentado de perna passada, todo mimoso, num daqueles cafés parisienses de artistas e afrescalhados. Não, isso não. É até um crime uma coisa dessas. Se Lampião estivesse vivo certamente iria ter uma conversinha com quem fez isso com o seu nome. Ia fazer com que o dono desse lugar engolisse seu bar com Paris e tudo. E mais, o que esse dono acha que Lampião foi fazer em Paris? Peça pra mudar o nome pra Lampião em Poço Redondo, na Maranduba ou no Angico, mas não em Paris. Dizer de um Lampião em Paris é corromper a história do cangaço e dizer que o cangaceiro maior vivia se abanando igual uma gazela louca”.

Já outro amigo, desta feita um renomado escritor, telefonou-me para afirmar totalmente o contrário, pois revelou: “Estranho é, mas não deixa de ser uma bela homenagem a um homem cuja história desde muito ultrapassou as mais distantes fronteiras. Hoje Lampião é francês, é norte-americano, é russo, é latino-americano. Lampião hoje está em Paris, em Quebec, em Nova Iorque, em Moscou. Dizer de Lampião em Paris é reconhecer o além-fronteiras desse nordestino que hoje é lido e relido pelo mundo inteiro, é estudados nas maiores e mais importantes universidades do planeta, é cidadão universal, e tanto para o ódio como para a afeição. Coisa boa, pois, saber que em Poço Redondo, na Capital Mundial do Cangaço, há não só Lampião e seu bando por todo lugar, mas também em Paris. Uma Paris sertaneja, certamente, mas um reconhecimento de que ele ainda vive e está por todo lugar”.

Do meu alado, apenas a surpresa do quanto o Lampião em Paris de Poço Redondo tanto rebuliço vem causando. Mas a maioria não sabe, contudo, o que realmente justificou a colocação de tal nome num bar e choperia. Segundo fiquei sabendo, a ideia nasceu do gosto de Lampião pelos perfumes, principalmente franceses. Sabido é que o rei cangaceiro, mesmo vivendo debaixo do mundo sertanejo escaldante e suarento, apreciava derramar sobre si fragrâncias importadas que lhes eram presenteadas pelos coronéis e suas madamas. Assim, o Lampião em Paris seria uma homenagem a essa perfumada vaidade do Capitão.

Mas também por que Lampião pode ser encontrado em todas as ruas, esquinas e cafés de Paris. Cartazes, livros, folhetos, sempre confirmam a presença do rei do cangaço em meio a um mundo tão perfumado. Ainda que por lá não se goste muito de tomar banho.

Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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