https://www.youtube.com/watch?v=AxktRcFU2I4
BENJAMIN ABRAHÃO BOTTO
Benjamin
Abrahão Botto (Zahlé, c. 1890 — Serra
Talhada, 10 de maio de 1938) foi um fotógrafo libanês-brasileiro, responsável pelo registro
iconográfico do cangaço e de seu líder, Virgulino Ferreira da Silva —
o Lampião. Abrahão morreu assassinado durante o Estado Novo.
Biografia[editar | editar código-fonte]
Embora
publicado em jornais, o pouco que se sabe da vida de Benjamim Abraão vem de
fontes mescladas entre a mídia historiográfica e os meios de subsistência do
ambiente nordestino, fatos que não se encaixam com a realidade profissional de
um secretário, bem como de expert operador de equipamentos de filmagem, muito
avançados para a época.
A fim de fugir
à convocação obrigatória pelo Império Otomano de lutar durante a Primeira Guerra Mundial, migrou para o
Brasil em 1915.[1]
Foi
comerciante (mascate)
de tecidos e miudezas, além de produtos típicos nordestinos, primeiro em Recife, depois
para Juazeiro do Norte, com dois burros (Assanhado e
Buril) e um cavalo (de nome Sultão), atraído pela grande frequência
de romeiros[2]
Abrahão foi
secretário do Padre Cícero, e conheceu o cangaceiro Lampião em 1926, quando este foi
até Juazeiro do Norte a fim de receber a bênção
do célebre vigário e a patente de capitão, para auxiliar na perseguição
da Coluna Prestes,[3] uma
vez que não se encontrou com Lampião em 1924, quando de outra
de sua visita à cidade, apesar de lá se encontrar.[4] A
nomeação fora feita, a mando do padre, pelo funcionário federal Pedro de
Albuquerque Uchoa, segundo uma autorização dada ao deputado Floro
Bartolomeu pelo próprio presidente Artur
Bernardes - ordem que em nada adiantou, pois não foi respeitada nos
demais estados, resultando que Lampião e seu bando jamais efetuaram perseguição
a Prestes.[5] Em 1929 Abrahão
fotografou o líder cangaceiro ao lado do padre[6]
Após a morte
de Padre Cícero, Abrahão solicitou e obteve do "Rei do Cangaço" a
permissão para acompanhar o bando na caatinga e
realizar as imagens que o imortalizaram. Para tanto teve a parceria do
cearense Ademar Bezerra de Albuquerque, dono
da ABAFILM que,
além de emprestar os equipamentos, ensinou o fotógrafo seu uso. Por ao menos
duas ocasiões esteve junto ao bando de Lampião, realizando seu mister.[3]
Serra Talhada,
onde morreu Abrahão.
Abrahão teve
seus trabalhos apreendidos pela ditadura de Getúlio
Vargas, que nele viu um antagonista do regime. Guardada pela família de
libaneses Elihimas, em Pernambuco, a película foi analisada pelo Departamento de Imprensa e
Propaganda (DIP), um órgão de censura.
Morreu
esfaqueado (quarenta e duas facadas[4]),
sem que o crime jamais viesse a ser esclarecido, tanto na autoria como na
motivação, donde se especula ter sido mais uma das mortes arquitetadas pelo
sistema,[3] como
outras ocorridas em situação análoga, a exemplo de Horácio de Matos (embora exista a versão de
que o fotógrafo sírio-libanês teria sido alvo de roubo, por algum ladrão,
apesar de com este nada de valor haver[2]).
Exclusividade[editar | editar código-fonte]
O próprio
Lampião assegurou o testemunho, em um bilhete, de que todas as suas imagens
eram produto do trabalho de Abrahão.[3]
Nota: foi
mantida a grafia utilizada, considerando-se o que Lampião era
semi-alfabetizado, tal como se acha transcrita.
“
|
Illmo Sr.
Bejamim Abrahão
Saudações Venho lhi afirmar que foi a primeira peçoa que conceguiu filmar eu com todos os meus peçoal cangaceiros, filmando assim todos us muvimento da noça vida nas catingas dus sertões nordestinos. Outra peçoa não conciguiu nem conciguirá nem mesmo eu consintirei mais. Sem mais do amigo Capm Virgulino Ferreira da Silva Vulgo Capm Lampião |
”
|
Filmagens[editar | editar código-fonte]
Abrahão, em
foto batida pelo cangaceiro Juriti, aparece cumprimentando Lampião.
Para a
realização do filme Abrahão contou com verdadeiro trabalho de aproximação junto
ao bando, que fugia da perseguição cada vez mais feroz do governo. O encontro
veio finalmente a ocorrer em um lugar chamado Bom Nome, onde o cangaceiro,
desconfiado, primeiro realizou ele mesmo a filmagem do ex-mascate (em trecho
que se perdeu) e só então consentiu fosse filmado. Abrahão retorna a Fortaleza,
onde este primeiro sucesso permite-lhe obter mais rolos de filmes, e voltar
para registrar o cangaceiro e seu bando, sendo que o resultado dessa segunda
incursão também se perdeu. Abrahão passou a ser considerado suspeito, pois além
das filmagens, enviava matérias aos jornais, relatando suas aventuras - o seu
conhecimento do paradeiro do bando era indício por demais forte de seu envolvimento
com este.[2]
Abandono e
resgate[editar | editar código-fonte]
Os trabalhos
de Abrahão Botto permaneceram esquecidos até serem redescobertos nos anos
50, quando a Fundação Getúlio Vargasincorporou o acervo
do DIP.[3]
Em notícia
do Correio do Ceará, de 7 de abril de 1937,
transcrevia a ordem emanada de Lourival
Fontes, diretor do DIP, que por telegrama determinava
a apreensão do filme Lampião, que se exibia em Fortaleza,
com o seguinte teor:[4]
"Secretário
Segurança Publica Estado do Ceará Fortaleza. Tendo chegado ao conhecimento do
Departamento Nacional de Propaganda, estar sendo annunciado ou exhibido na
capital ou cidades desse Estado, um filme sobre Lampeão, de propriedade de
"Aba Filme", com sede á rua Major Facundo, solicito vos digneis
providenciar no sentido de ser apprehendido immediatamente o referido filme,
com todas suas copias, e respectivo negativo, e remettel-os a esta repartição,
devendo ser evitado seja o mesmo negociado com terceiros e enviado para fora do
paiz. Attenciosos cumprimentos. Lourival Fontes, director do Departamento
Nacional de Propaganda do Ministério da Justiça."[4]
Em 1996 a atribulada
vida do fotógrafo foi o tema do filme Baile
Perfumado, dirigido por Paulo
Caldas e Lírio
Ferreira, sobre roteiro de ambos e Hilton
Lacerda.[7]
No ano 2000 foi objeto
de várias exposições, em Paris, São Paulo e Rio de Janeiro.[6]
Crítica
histórica[editar | editar código-fonte]
A
historiadora francesa Élise Jasmin (n. 1966), que realizou uma mostra
em França das imagens do Cangaço por Abrahão Botto, fruto de seus trabalhos de
pesquisa, declarou em entrevista que "Estas imagens dos bandidos no auge
de sua glória e poder, ao lado das fotos com o jogo cênico de suas mortes,
fazem parte desta espetacularização da violência que encontramos nas sociedades
modernas (…)" - e aludindo que havia por trás do trabalho de Abrahão uma
intenção por parte do cangaceiro em "…desafiar seus adversários, impor seu
poder e mostrar que seu sistema de valores, a vida que levavam, tinha um
sentido para eles." - fato refutado por Urariano Mota, para quem "As
lentes de Benjamin Abrahão, que os filmou, é que fazem o espetacular".[8]
A constatação
original da pesquisadora francesa, entretanto, persiste, sobre o uso da imagem
feita por Lampião: "foi o primeiro cangaceiro a cuidar de sua imagem, e aí
reside sua grande originalidade. Teatralizou sua vida, utilizou modos de
comunicação da modernidade que não faziam parte de sua cultura original,
principalmente a imprensa e a fotografia"[9]
https://pt.wikipedia.org/wiki/Benjamin_Abrah%C3%A3o_Botto
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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