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domingo, 11 de março de 2018

ARMADILHA DO DESTINO


José Ribamar Alves

Histórias e mais histórias surgem do seio inquietante da sociedade todos os dias. E numa cidadezinha de apenas dez mil habitantes, mais ou menos, chamada Volta das Cruzes, morava numa dessas casas sem número, um casal desfavorecido, conhecido por João e Eva.

Ambos, presenteados por Deus, com uma linda criança, luz e alegria para o casal e toda vizinhança.

O presente de Deus chama-se Núbia dos Santos Videla.

E ao decorrer dos anos, Núbia fora ficando cada vez mais bela, mas tão bela ao ponto de causar admiração nos moradores daquela pequena cidade.

E ao fazer dezesseis anos, Núbia despertou num jovem que continha a mesma idade, uma paixão tão forte que só não percebia quem não fosse capaz de amar alguém.

O jovem chamava-se Wladimir Silva dos Reis, um lançador de olhares e apaixonantes, capazes de desencadear em Nubia, sentimentos semelhantes, tórridos e incontroláveis.

A jovem moça sentindo não caber mais em seu âmago aquele sentimento avassalador, resolvera escrever um bilhete ao jovem Wladimir, subestimando o seu querer e assim dizendo:

Wladimir, em três dias ou tu me roubas ou nunca mais me terás.

E no prazo decretado pela dona da beldade admirada na cidade, Wladimir assim o fez.

Os pais daquela encantadora jovem ficaram atônitos à procura de razões que os fizessem compreenderem o acontecido.

Mas, após dois meses, Wladimir usara da pior de todas as intenções para com sua apaixonada Núbia, partindo para São Paulo, deixando-a grávida e desassistida.


Rejeitada pelos próprios pais, Núbia passou a depender de favores, vivendo na casa de um e de outro, até seu filho desocupar seu ventre e dá o ar da graça.


Porém, no dia em que ela deu a luz ao seu filho, Deus enviou ao hospital, um casal interessando no menino para criá-lo e, vendo-se aquela pobre mãe sem condições de sustentá-lo, resolvera abrir mão do amado filho.

Júnior Babosa Mesquita sargento renomado e Ana Dutra Mesquita, que estavam a passeio pela cidade, acatando a doação, levaram o menino com eles para morar em São Paulo, no intuito de criá-lo e educá-lo.

E, chegando ambos em São Paulo, registraram o menino como sendo seu próprio filho, com o nome de Mesquita Júnior.

Mesquita Júnior ao fazer sete anos de idade começou a estudar em um colégio especial, reservado para os filhos dos agentes federais.

O menino havia nascido agraciado por Deus, com a divina vocação para o estudo e, sem repetir, todo ano passava nas provas do colégio.

Aos dezesseis anos, concluindo o segundo grau, sentia ainda maior a vontade de estudar e vencer na vida.

Depois que passou no vestibular, optou por estudar “direito” e não encontrando dificuldade alguma, antes do esperado, formou-se juiz, chefe da 1ª vara criminal da grande São Paulo.

Após quatro anos no cargo, o juiz Mesquita Junior conhecera Bruna Salém, uma promotora simpática, bonita e atraente, que prendera-se de imediato aos olhares do jovem juiz e,  casando-se ambos, depois, tiveram necessidade de contratar alguém para cuidar dos afazeres domésticos, por serem eles muito atarefados.

E, no mesmo mês, Bruna telefonou para uma parenta que morava no Nordeste e, durante as conversações a intermediadora informou para Bruna, que conhecia alguém e, seria uma mulher separada do marido, disponível e de alta confiança que poderia aceitar o trabalho.

Então, Bruna solicitou que sua parenta se encarregasse de contratá-la
e de fazê-la chegar à sua residência em São Paulo.

E de imediato, Núbia ao receber a oferta de trabalho, não pensou duas vezes!

Talvez pensando ela na possibilidade de conseguir encontrar seu filho por lá, já que os pais adotivos nunca haviam te mandado notícias do seu filho.

E, carregando nas costas suas quarenta e oito primaveras e várias arroubas de esperanças de tudo dar certo, partiu dona Núbia com destino ao Sul do país.

Finalmente chega à casa da promotora Bruna, a esperançosa, a mãe que doara seu filho por necessidade.

Somente o destino sabia da surpresa que havia preparado para todos.

Ao conquistar a simpatia de Bruna Salém e Mesquita Júnior, Núbia deixava cair dos seus olhos pela casa toda, pingos de alegria e de felicidades.

Ah, que ironia do destino, o que ela não imaginaria é que estaria trabalhando na casa do próprio filho e para sua própria nora.

Foram se passando dias e mais dias, horas e mais horas, noites e mais noites, até que em um determinado momento, Núbia vai com os patrões almoçar na casa dos pais de Mesquita Júnior, e ao chegarem à mansão ela dá de cara com o sargento Júnior Mesquita e dona Eva pais adotivos do juiz.


Dona Eva, ao vê-la ficou pasmada, como se tivesse visto uma visagem e recobrando os ânimos, pergunta? 

- O que fazes aqui?

Núbia responde: 

- Estou trabalhando na residência de dona Bruna Salém!

E o sargento Júnior Tabosa, sentiu-se como se estivesse num cadafalso sem sentir seus pés tocarem o chão.

Mesquita Júnior, nesta hora indagou? 

O que houve, meus pais? Por que agiram de tal forma quando viram dona Nubia?

Neste momento o mistério já começava a pegar seus panos de “bunda” para ceder o lugar para a verdade.

Dona Eva ajoelha-se perante o filho e pede-lhe perdão, dizendo:

- Filho, esta senhora que trabalha em sua casa é sua legítima mãe! Ela nos doou você, porque seu pai verdadeiro a deixou antes de você nascer, sem nunca mais dar-lhe sequer notícias. Eu e seu pai te registramos como filho verdadeiro, na melhor das intenções possíveis, pelo amor que sentimos por Ti, assim que te vimos naquele hospital.

O silêncio neste instante apossa-se de tudo e de todos, mas uma voz afinada pela intelectualidade e ritmada pelo senso da prudência e da sabedoria, fala:

- Mãe, minha amada mãe, abraça-me com todos os direitos que te assistem, no entanto, mãe, de agora em diante serás com igualdade tratada nesta casa e em minha residência onde trabalhaste até hoje pela manhã.

Dias depois, Núbia escuta o filho dizer para a esposa Bruna: 

- Amor, hoje condenei um senhor a trinta anos de prisão; um homem chamado Wladimir Silva dos Reis, um nordestino que matou seu próprio patrão.

Respirou bem fundo, Núbia sua mãe e disse: 

- Filho, o homem que condenaste é seu legítimo pai; 

- Como assim? Pergunta o filho um pouco surpreso!

Afirma sua mãe: 

- Ele quando me abandonou veio para São Paulo e é exatamente Wladimir Silva dos Reis, o nome dele.

Diz Mesquita: 

- Sinto muito, mãe, eu não sabia e se soubesse não poderia ter deixado de cumprir com o meu dever, pois foi para ser justamente juiz, que estudei para me manter no cumprimento da lei.

E, certo dia depois foram todos visitar o pai condenado pelo filho e, ao ficar frente a frente com Wladimir, disse Núbia apontando para o juiz; 

- Este é o filho que você abandonou ainda no meu ventre, e foi ele que descreveu sua sentença, mas sem saber que condenava o próprio pai.

Daí para frente, Wladimir passou a ser visitado pela ex-mulher, pelo filho e pela nora que ia vê-lo para não desapontar seu esposo, não fosse por isso, ela não iria vê-lo nem para ganhar um trem carregado de diamantes lapidados.

(Essa minha história já fora publicada em cordel, por mim em 2001).

Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzaguiano José Romero de Araújo Cardoso


http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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