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quarta-feira, 25 de abril de 2018

LAMPIÃO E CORISCO: UMA DURA PERSEGUIÇÃO À FAMÍLIA JUREMEIRA NO OLHO D’ÁGUA DOS COELHOS.

Por João de Sousa Lima
Escritor João de Sousa Lima e José Juremeira Filho

“SANTO ANTONIO DA GLÓRIA DO CURRAL DOS BOIS NO TEMPO DO CANGAÇO”.

Curral dos Bois foi uma das primeiras povoações a acolher Lampião depois que ele atravessou de Pernambuco pra Bahia.

O Chefe Político de Glória, o coronel Petronilio de Alcântara Reis, acabou tendo seu nome ligado com o cangaço e Lampião em várias histórias, foi coiteiro famoso e também inimigo depois que traiu Lampião, traição que Lampião pagou incendiando várias fazendas do coronel dentro do Raso da Catarina.


Uma das mais importantes famílias de Glória, família de sobrenome Juremeira, que vivia no povoado Olho D’água dos Coelhos, sofreu grande perseguição de Lampião e Corisco.

Para entender um pouco da história dessa família e a ligação com o cangaço devemos tomar conhecimento que Pedro Juremeira foi delegado na fazenda Caibos (Caibros) e por isso ficou marcado pelo cangaço. Era também quem fazia a segurança do coronel Petro e era proprietário de um barco que fazia a travessia do Rio São Francisco entre Bahia e Pernambuco, entre Rodelas e Petrolândia. A fazenda Caibos hoje está inundada e as pessoas estão residindo nas agrovilas II e III.

Lampião mandou um recado para Pedro para que em um dia marcado ele fizesse a travessia dos cangaceiros do lado pernambucano para o lado baiano, e Pedro não atendendo a solicitação, convocou alguns policiais, e quando da aproximação dos cangaceiros acabaram trocando tiros com o grupo de Lampião, começando aí uma grande “Rixa” entre os dois.

Manuel Juremeira e Hemernegilda de araújo

Em uma das perseguições dos cangaceiros a Pedro Juremeira, Corisco, a mando de Lampião, pegou um primo de Pedro, chamado Leonídio (Lió), no povoado Olho D’água dos Coelhos, pra ele informar onde poderia encontrar Manuel Juremeira, pois não conseguiam encontrar Pedro e quem iria pagar a vingança dos cangaceiros era Mané Juremeira. Lió levou os cangaceiros até a roça “Pé da Serra”, e chegando lá, prenderam Manuel na roça e o trouxeram para sua residência, onde estava a esposa Hermenegilda “Miné” com os quatro filhos: Otacílio, Ananias, Lídia e Joana.

Otacílio Juremeira

Na casa de Leonídio ficaram três cangaceiros vasculhando baús e armários em busca de jóias e dinheiro, enquanto Corisco seguia com mais dois cangaceiros e o refém para a roça.

Chegando próximo de Mané Juremeira Corisco sentenciou o aflito rapaz de morte dizendo:

- Sabe com quem ta falando?

- Não!

- Corisco! Você vai morrer no lugar de seu irmão!

- Eu sou contra meu irmão! Morrerei inocente e sem culpa, mais maior que Deus, ninguém!

- Nada de Deus! Deus hoje aqui é a gente!

Os cangaceiros manobraram os fuzis e apontaram para os peitos e costelas de Manuel. Nesse momento dona Miné saiu de dentro da casa  e correu e se abraçou com o marido:

- Aqui você não mata não! Meu marido é inocente!

- Saia da frente que vim matar foi homem e não mulher!

Nesse momento foi chegando Filigeno Furtuoso, amigo de Manuel que era tropeiro e residia na Tapera da Boa Esperança, em Penedo, Alagoas. O amigo sempre que passava na região dormia na casa de Manuel pra no outro dia viajar até Jeremoabo, onde comprava uma carga de fumo para sair revendendo, em sua junta de cinco burros.

Diante dos olhares dos cangaceiros e da situação em que encontrou o amigo Manuel, o tropeiro falou:

- Taí esses cinco burros arreados e eu lhe dou em troca da vida desse homem!

- Negativo! O senhor tem dinheiro?

- Não tenho! O que eu tinha era 800 contos de réis, mais os outros cangaceiros que estão na casa de Leonídio já pegaram.

- E daqui a 30 dias?

Nesse momento o próprio Manuel respondeu:

- Aí eu tenho!

- Então vou liberar você e se não pagar eu volto e mato todo mundo.

Manuel escapou nessa hora.

O sargento Zé Izídio ficou sabendo do acontecido e intimou Manuel a ir a delegacia. Quando Manuel chegou o sargento o acusou:

- É você que é Mané Juremeira protetor de bandido?

- Sou Mané Juremeira, mais protetor de bandido, não! Eu prometi pagar uma quantia para não morrer!

- Então agora você vai ter que vir morar em Glória!

Manuel foi obrigado a vir residir em Glória e nunca pagou a quantia estipulada por Corisco. Tempos depois os cangaceiros acabaram encontrando o tão procurado Pedro Juremeira em uma fazenda chamada Papagaio, em Pernambuco. Pedro estava dentro de uma casa e os cangaceiros o cercaram, prenderam o rapaz, amarraram em um mourão, perfuraram o corpo do rapaz todo com pontas de punhais e foram almoçar na residência. Depois do almoço os cangaceiros retornaram onde estava o corpo e descarregaram as pistolas na cabeça do já falecido jovem.

Depois de três dias da morte de Pedro, o pai do rapaz, Teodório Juremeira, mandou um recado para uns amigos descerem o corpo de Pedro em uma canoa até Santo Antônio da Glória onde foi enterrado. Quando a família encontrou o corpo já estava apodrecido e tiveram que derramar uma lata de creolina.

Trinta dias depois do sepultamento os cangaceiros mandaram o portador Martim Gabriel, primo de Manuel Juremeira, que residia nas Caraíbas, Brejo do Burgo, com uma carta, cobrando o dinheiro que Manuel prometeu.

- Diga a eles que não mando não! Eu já moro na cidade e se eles quiserem vim aqui incendiar minha casa pode vir!

Depois de três anos o governo armou toda a população de Santo Antônio da Glória. Mané Otacílio e Ananias pegaram em armas para fazer essa defesa do local.

Quando mataram Lampião a família Juremeira retornou para suas roças no Olho D’água dos Coelhos, porém, na época de Lampião e Corisco, quando eles eram os senhores das caatingas do Raso da Catarina, “Os Juremeiras” sofreram perseguições e mortes.

Paulo Afonso, 16 de outubro de 2017.
João de Sousa Lima
Historiador e Escritor
Membro e Vice-Presidente da Academia de Letras de Paulo Afonso.
Membro da SBEC – Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço.

Enviado pelo escritor e pesquisador do cangaço João de Sousa Lima


http://blogdomendesmendes.blogspot.com

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