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terça-feira, 9 de abril de 2019

A QUASE MORTE E O RENASCIMENTO DE UMA IGREJA

*Rangel Alves da Costa

Serei logo direto. O que não é reparado vai sendo destruído aos poucos. O que não é preservado possui muito menos tempo de existência. O que é simplesmente abandonado ainda mais, pois morre mais rapidamente nas suas entranhas.
Na vida, tudo que seja útil precisa ser preservado. Ora, o tempo enferruja o ferro, a maresia destrói as âncoras, a pedra dilacera e se transforma em pó. E mais ainda quando se trata de construção humana, de paredes e portas, onde tudo se fragiliza mais rapidamente. Mesmo que seja suntuoso e imponente, em escombros se tornará acaso não haja o devido cuidado.
Como dito, assim também com a vida humana, material, histórica e cultural. Em tudo. Os retratos antigos mostram bem isso. E assim vinha acontecendo com a Capela de Santo Antônio do Poço de Cima, em Poço Redondo, no alto sertão sergipano.
Mesmo sendo a primeira igreja construída nos primórdios da história do município, ainda assim não teve, por muito tempo, sua importância reconhecida. Chegou a sumir no meio do mato, quase é engolida pela voracidade do tempo, não faltou muito para se tornar em restos lançados ao chão. Hoje essa situação mudou, e sem outros riscos ou ameaças. Agora está preservada e ainda mais bela pela iniciativa popular.
Por quê? Simplesmente pelo fato de que pessoas da comunidade, jovens como Enoque Correia e João Vitor, dentre outros, abençoados e impulsionados pelo Padre Mário, chamaram para si a incumbência de não deixá-la morrer. Quando os jovens se lançaram no intuito de salvação daquele templo primeiro, então tudo se mostrou realmente possível.
Mas recontando um pouco de tudo. Não faz muito tempo que a igrejinha do Poço de Cima, como é mais conhecida, estava em situação verdadeiramente desalentadora. Jogada ao abandono, assim como uma tapera velha onde os seus moradores simplesmente fecham as portas e somem. Estava praticamente em ruínas, a todo tempo sob o risco de desabar de vez e tornar-se apenas escombros. O mato, o tempo e o abandono, iam tramando seu fim.
Ao longe, ao invés da fachada, avistava-se apenas a mataria tomando conta de tudo. Os bichos do mato e o gado, além de garranchos e folhagens levados pela ventania, eram os seus únicos visitantes, ainda que ao lado muitas sepulturas estivessem ladeadas. O povo tinha até medo de se aproximar. Até mesmo os familiares daqueles sepultados ali pouca ou nenhuma visita faziam. A igrejinha estava existindo apenas no nome e na memória de alguns. Porém tudo com dias contados.
Por que toda essa transformação? Por que hoje em dia se constitui em paisagem bonita e até prazerosa de visitação? Por que a comunidade retornou ao seu meio e aos ofícios de devoção e fé? Por que as celebrações na igrejinha se tornaram constantes e concorridas? Por que atualmente há missas, novenas, procissões e festejos religiosos, se o seu tempo de existência já estava com dias contados?
Simplesmente pelo já relatado. Acaso não existisse a sensibilidade, a preocupação e a ação humana, certamente que somente as cinzas da história restariam na igrejinha. Ela renasceu da quase morte e tão bela está por que naqueles jovens aflorou o idealismo tão corajoso: “Não podemos deixar morrer parte de nossa História!”.
E não deixaram mesmo. A semente lançada e que tão belamente frutificou, deveria, isto sim, servir de motivação para que o poder público municipal o mesmo fizesse com outras feições da história de Poço Redondo que estão morrendo. Por toda a municipalidade existem históricas construções na mesma situação e predestinadas ao mesmo fim, acaso apenas vá se deixando pra lá.
Será que a administração municipal nada pode fazer para evitar que outra parte da história do Poço de Cima desabe de vez com as últimas casinhas ainda existentes? Seria tão difícil assim firmar parceria com seus proprietários para que uma “mão de barro” lançada pudesse salvar o que resta naquelas antigas moradias? E as construções primorosas e seculares de Curralinho, Bonsucesso e outras povoações?
Já perdemos (acreditem!) a Gruta do Angico para Piranhas e os empresários, numa usurpação jamais contestada por quem de direito. Já perdemos Cajueiro para os forasteiros. Já perdemos Curralinho para o abandono. E quanto Poço Redondo ainda tem que perder para que nossas riquezas comecem, enfim, a serem preservadas?

Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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