Por Raul Ferreira
Há muito se diz do cavalheirismo do ex-cangaceiro Antonio Silvino, de suas práticas e benfeitorias. Pois bem. A narrativa a seguir foi reportada pelo jornal O DIA, em abril de 1910.
O jornal catarinense explicita que já naquele tempo o Capitão empregava um belo estratagema: não roubava, nem ele nem os de seu bando, nem almejava lucros para constituição de fortuna, salvo o necessário para o seu sustento:
“A ninharia com que o sertanejo compra alguns côvados de algodãozinho, um chapéu de couro, um pouco de fumo, de carne seca e de farinha d’água.
Assim, os roubos de Silvino eram cavalheirescos. Nos pedidos epistolares fazia se comedido. Nos pedidos à viva voz, penetrando alta noite numa fazenda, apresentava se dizia simplesmente o seu nome Antonio Silvino, ‘tout court’.
Depois, pedia ao senhor de engenho, quinhentos reis emprestados (...)” (O Dia: 1910).
In continenti, aparecia a chave da arca ou bolsa do fazendeiro solícito, servindo-se o cangaceiro apenas do que lhe era preciso. Em seguida, participava de uma refeição oferecida pelo proprietário, onde narrava as suas aventuras e garantia sua proteção. E assim conquistava os abastados.
Quanto aos pobres, condoia-se de sua sorte e agia de outra forma. Praticava um socialismo à força! Dividia sua “arrecadação” entre os menos desfavorecidos, partilhando um conto de réis com uns ou mesmo doando roupas e alimentos para os famintos. Passados alguns dias deixava o arraial entre manifestações populares de reconhecimento e saudade.
Campina Grande ao que parecia era de sua predileção. Não apenas por ser o grande “empório do sertão”, mas por ter divisas estradas que davam caminho para toda a Paraíba.
Ainda se lembra o seu audacioso aparecimento na estação da “Great Western”, onde prendeu o chefe, redigiu uma missiva e obrigou o telegrafista a enviá-lo ao Monsenhor Walfredo Leal, presidente do Estado.
Conta-se que nesta vila Antônio Silvino foi visitar um pobre paralítico, a quem dava esmolas. Encontrou-o banhado em lágrimas e indagado do motivo daquela angústia, disse-lhe que sua única filha havia sido violada por um rapaz filho de um senhor de engenho “abonado” cujo fato ficara impune.
Silvino não contou conversa. Dirigiu-se até o engenho e, “conferenciando” com a família do jovem, marcou o prazo de vinte e quatro horas para que este reparasse com o casamento o mal que fizera. O pai assentiu e a justiça foi feita!
Referência:
- O DIA, Jornal. Ano X, N° 4.519. Edição de abril. Florianópolis/SC: 1910.
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