Seguidores

quarta-feira, 21 de dezembro de 2022

UM PADRE FORA DOS PADRÕES RELIGIOSOS

Por José Mendes Pereira

Antiga Capela de Santa Luzia em Mossoró - http://www.blogdogemaia.com/geral.php?id=167

O historiador Geraldo Maia do Nascimento, fala em um dos seus artigos, sobre o Padre Francisco Longino Guilherme de Melo, tendo sido este,  o primeiro sacerdote mossoroense que celebrou missa na Capela de Santa Luzia de Mossoró. E diz ainda que, o padre não se tornara famoso pela maneira de celebrar uma missa,  mas pelo seu jeito diferente de ser. 

Era mossoroense de corpo e alma, tendo nascido na Fazenda Cumurupim, no Arraial de Santa Luzia de Mossoró, sendo filho de um rico fazendeiro da Ribeira, o capitão Simão Balbino Guilherme de Melo.              

Assim que se ordenara e foi o primeiro mossoroense a ser ordenado, retorna para sua terra natal Mossoró, chegando no dia 2 de fevereiro de 1827, vindo da cidade de Olinda, no Estado de Pernambuco. Nesse dia, a população da Ribeira assistiu a primeira missa cantada pelo novo pároco. Os habitantes da Ribeira estavam felizes, e viam no novo sacerdote, um fio de esperança, luz e prosperidade para Mossoró. Mas os mossoroenses não tinham a mínima ideia como iria aquele padre dirigir os destinos religiosos da Ribeira.            

Logo o padre Longino mostrou que não nascera para vestir batina, e sim uma farda militar, obedecendo ou ordenando regimes cruéis nos quartéis. De início, por causa de desentendimentos, colecionou um grupo de inimigos, principalmente um senhor de nome João Ferreira Butrago, homem de má índole e assassino. Não querendo obedecê-lo, para se vingar do padre, criou um bando de marginais. 

Mas o Padre Longino não se intimidou, e de imediato, adquiriu capangas do sertão, alguns de seus parentes, mais um grupo armado, que não deixaram o Padre sozinho. De olhos arregalados, Mossoró presenciou uma série de batalhas, uma  guerra de gigantes, que acumulavam ódios. Várias emboscadas foram feitas, causando a morte de alguns capangas. O Padre era guerreiro mesmo, e com isso, fez com que a população de Mossoró o abandonasse logo, e não quis mais assistir seus atos religiosos.

Palavras do pesquisador  Geraldo Maia:
   

"No ano de  1842 foi criada a Freguesia de Santa Luzia; em 1844 foi nomeado Vigário Colado desta Freguesia o Padre Antônio Joaquim Rodrigues.           

Em 1845 o Padre Francisco Longino retira-se de Mossoró, indo morar por algum tempo pelo interior da Província do Ceará, internando-se mais tarde pelas Províncias do Piauí e Maranhão.      

Com a saída do Padre Longino, os Butragos, que já não moravam mais no povoado, acalmaram-se também e a paz volta a reinar em Mossoró. E por muito tempo não se ouviu falar do padre bandoleiro. Até que em 1872, depois de vinte e sete anos de ausência, volta a Mossoró o Padre Longino, velho, cansado e quase cego. E pra sua surpresa, encontra uma grande quantidade de cavaleiros, que tomando conhecimento de sua vinda, vão esperá-lo na entrada da cidade, curiosos para conhecer o Padre Longino, personagem viva de tantas histórias de bravura. A curiosidade ambiente era tão grande que uma multidão se acotovelava para vê-lo. O Padre Antônio Joaquim o acolheu fraternalmente, com a piedade unânime da população. Embora muito mudado pelo tempo, o gênio era o mesmo. Quando lhe perguntaram: - Então o senhor cegou?... Longino respondeu, feroz: - É verdade. Ceguei. Ceguei de ver gente ruim...              

Desde que deixara Mossoró, o Padre Longino tornara-se vigário de várias freguesias do Piauí, indo algumas vezes à cidade de São Luís do Maranhão, onde encontra-se com o Bispo da Diocese. E foi num desses lugares, no centro do Piauí, que travou conhecimento com uma tribo de índios e dedicou-se a catequiza-los. Conseguiu batizar toda a tribo, educando-os no trabalho agrícola.           

Chegando em Mossoró, Padre Longino ainda encontra alguns dos seus inimigos vivos, entre os quais João Ferreira Butrago, que já contava com mais de noventa anos. Este, em conversa com o Padre Antônio Joaquim, teria dito que não procuraria ofender ao Padre Longino, porém, se tivesse oportunidade de o encontrar, levando uma arma de fogo, daria um tiro no mesmo. 

Quanto ao Padre Longino, morou por algum tempo em Mossoró, residindo na Rua da Palha, onde serviu como capelão e mais tarde, em Areia Branca. Adoecendo, volta a Mossoró em 1876, morrendo nesse mesmo ano já em idade muito avançada. Foi sepultado na capela do cemitério público.
        
\"Aos trinta de março de mil oitocentos e setenta e seis, sepultou-se na Capela do Cemitério de São Sebastião, filial a esta Matriz de Mossoró, o Reverendo Francisco Longino Guilherme de Melo, idade setenta e quatro anos, envolto em hábito preto e pelo Reverendo João Urbano de Oliveira encomendado. Do que mandei fazer este assento a assino. (a) Vigário Antônio Joaquim Rodrigues".
        
Publicado no jornal \"O Mossoroense\" de 03/02/2013.

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário