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domingo, 4 de setembro de 2011

Homem que mente, que Deus o tenha dó!

Por: José Mendes Pereira
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Estas eram as palavras usadas pelo fazendeiro Francisco Duarte. Senhor proprietário de muitas terras, mas em uma só. Dono de muitos bois bravos, mandingueiros e saltadores de cercas. Na Barrinha onde eu nasci ninguém mais era possuidor de tantas ovelhas quanto  o Francisco Duarte.

O meu pai, Pedro Néo Pereira, nascera nas suas terras, aliás, não só ele, como meus irmãos e eu. O Chico Duarte, como era conhecido, não era um senhor franco, mas, caso  precisasse, e se não fosse por sabedoria, seus moradores eram atendidos de imediato. Cada Morador cuidava da sua própria roça, e o combinado dos legumes, era:  De quatro, três para o morador e um para o seu rebanho. Ultimamente necessitava de dois bons vaqueiros que fossem capazes de derrubar bois bravos nos tabuleiros.

Nessa noite, lavou seus encardidos pés, jantou, e em seguida rumou para o avantajado alpendre. Armou sua velha e surrada rede, e lá ficou a se balançar. Enquanto matutava o que deveria ordenar aos seus trabalhadores para o dia seguinte, apareceram-lhe dois cavaleiros,


Pedro Simão e o Zé Biriba, ambos da cidade de Pau dos Ferros, encourados e em cavalos de primeira qualidade. 

Ao chegarem, desceram dos animais, e em seguida rumaram onde se encontrava o fazendeiro se balançando:

- Boa Noite Senhor! - Cumprimentaram-no os vaqueiros. 
- Boa Noite!...Vamos apear..., o que os trouxe aqui a estas horas?
- Somo vaqueiros, e nós tomamos conhecimento que o senhor está precisando de dois vaqueiros.
- Estou Sim Senhor!... Mas para que eu os contrate, é necessário que sejam bons vaqueiros. Aqui, a minha propriedade é muito grande, e os touros, assim que se formam, tomam conta dos tabuleiros, chegando a ficar bravos...
- Não podemos dizer que somos os tais, dizia o Pedro Simão, mas aonde a gente trabalhou, os fazendeiros ficaram satisfeitos com os nossos serviços.
- E por que saíram da propriedade a qual os senhores trabalhavam?..., O bom vaqueiro é arrematado pelos fazendeiros. – Dizia ele se erguendo um pouco da rede.
- A nossa saída da fazenda em que trabalhávamos o fazendeiro não nos pagava o necessário para sobrevivência.

A conversa entre os três rolou um bom tempo; sobre a ausência das chuvas; um cafezinho...


Francisco Duarte deitado, e em um momento disse:
- Olhem! Relâmpago! Relampejou... O senhor viu? - perguntou ele a Pedro Simão.
- Não. Não senhor! Não vi não senhor.
- E o senhor viu? – fez ele dirigindo a pergunta ao Zé Biriba.
- Vi sim senhor! Vi. Clareou bastante.
E  novamente a conversa continuou. 
O fazendeiro ficou explicando-lhes o valor de cada vaqueiro; os lugares onde se encontravam os afamados touros... E sem muita demora, tornou a dizer:
- Olhem! Relâmpago! Pelampaguejou novamente.., - O senhor viu? – apontando para o Pedro Simão.
- Não! Não senhor! Não vi!– Tornou a confirmar o Pedro Simão que não tinha visto.
 E virando-se para o Zé Biriba:
- O senhor viu?
- Vi sim senhor! Vi! Agora o relâmpago foi bem mais forte, chega deu para ver uma enorme barra branca formada por nuvens encarneiradas.


O dia seguinte, os homens teriam que voltar para acertarem o preço mensal, ou por cada boi derrubado e tangido até o curral da fazenda.
Ao chegarem à fazenda, encontraram Francisco Duarte alimentando umas ovelhas, e virando-se para eles, perguntou:
- Qual de vocês ontem à noite não viu os relâmpagos?
- Eu – Respondeu Pedro Simão.
- Pois a partir de agora o senhor será um novo vaqueiro da minha fazenda... Se o senhor tem família vá apanhá-la, e irá morar naquela casa, dizia ele a apontando. Terá todo direito que tem os meus empregados.
O Zé Biriba ficou esperando que ele lhe dissesse o mesmo.
O fazendeiro pôs-se a explicar o que o Pedro Simão deveria fazer naquele dia.
Daí a pouco o Zé Biriba perguntou-lhe:
- Seu Francisco Duarte, e eu, não serei um dos seus vaqueiros?
- Não! Não senhor! Ontem à noite o senhor viu relâmpago que o seu colega não viu. Muito menos eu. Homem que mente, não trabalhará nesta fazenda, pelo menos enquanto eu for vivo. Quando eu morrer, vai depender de Chiquinha (era sua esposa), ela contratrará quem ela quiser. Mas eu não admito homem mentiroso na minha fazenda, porque o homem que mente,  com certeza, rouba...

Minhas simples histórias

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