Por: Rubens Antonio
“Venho fugido de Lampeão”
É elle proprio quem narra á “A Tarde” os acontecimentos
Chegado ha dois dias de Boa–Vista, no Estado de Pernambuco, donde foi obrigado a sair, devido á invasão do famoso bandido Lampeão, fomos hoje ouvir o sr. Florencio Barros, negociante e chefe politico naquella localidade.
Ás perguntas da “A Tarde” sobre Lampeão, o entrevistado declarou–nos o seguinte:
Ás perguntas da “A Tarde” sobre Lampeão, o entrevistado declarou–nos o seguinte:
– Lampeão, esse homem extraordinario, que vive a saquear–nos, é quem me obriga estar aqui, imagine que recebi uma carta do bandido, intimando–me a fornecer–lhe a quantia de cinco contos; como não podia satisfazer semelhante pedido, vi–me na contingencia de abandonar o territorio pernambucano para asylar–me em Curaçá.
Deixei–lhe, porém, narrar o facto. Na vespera da nossa retirada, entrou em Boa–Vista o irmão de Lampeão, que se assigna tenente Antonio Ferreira Netto, e que vinha munido duma pistolla parabellum e dum grande punhal.
Era evidente que o grosso dos bandoleiros, andasse na redondeza; deante disso, e já tendo o exemplo do negociante Francisco Gorgonho, que ainda se acha preso, por não ter a importancia de cinco contos exigida pelo facinora como resgate, resolvi abandonar a cidade, com armas e bagagens.
Consultei a respeito, os meus amigos; e como todos fossem accordes em que se não devia offerecer resistencia, convidei a população, na qualidade de sub–delegado, a acompanhar–me.
De facto, no dia seguinte, foi um verdadeiro exodo. A cidade ficou apenas com tres negociantes, que aguardavam a chegada do famigerado salteador. Ahi aparecendo Lampeão, commetteu toda a sorte de tropelias.
Arrombou as casas, e distribuiu entre o seu bando tudo quanto encontrou. O restou que não servia, foi queimado, com o unico fito de prejudicar a mim e aos meus companheiros.
Arrombou as casas, e distribuiu entre o seu bando tudo quanto encontrou. O restou que não servia, foi queimado, com o unico fito de prejudicar a mim e aos meus companheiros.
O bando compõe–se de 140 homens, dispondo cada um de 500 balas, o que, em grande parte, provem ainda do exercito, quando Lampeão foi capitão legalistas(!) em Joazeiro, no Ceará.
– E que pensa sobre a possibilidade da extinção do bando?
– Ah! só vejo um homem capaz disso: é o major Tehophanes, que já o combatei ha uns quatro annos ataz, quando o bando se compunha, apenas de 12 homens. Hoje, porém, apesar de muito augmentado, ainda é o major o unico capaz de derrotar o facinora;
– E as forças que o combatem? – indagamos.
– Ora, meu amigo, andam á cata do bandido uns pelotões conhecidos pelo nome de “volantes” e que quando o bandido está no Norte tomam a direcção do Sul...
Deixe–me contar esta. A duas leguas de Floresta, entricheiraram–se 30 praças e fizeram fogo contra o bando de Lampeão até a última bala, constando até, como os jornaes aqui já noticiaram, que o “capitão” havia sido ferido.
Pois bem: segundo narrou um soldado em Bela Vista, ao chegarem ao quartel foram esses 30 “heroes” recolhidos á prisão, ninguem sabe porque, o que leva a crer que... (E o nosso entrevistado não quiz concluir a phrase).
Ha, ainda, mais outros casos: em Pernambuco, o telegrapho não transmitte noticias sobre Lampeão.
Será preciso mais? Pense que ha gente boa mettida nessa historia de Lampeão...
– e sobre as atrocidades do bandido, que nos diz?
– Ahi, na minha zona, não respeitaram a honra das familias; quem protestava era ainda surrado.
– Ahi, na minha zona, não respeitaram a honra das familias; quem protestava era ainda surrado.
O bandido gosta tambem de humilhações e a um negociante preso, elle obrigou a lavar o seu cachorro de estimação. A outro forçou a lavar–lhe os pés. E assim por deante.
O que lhe posso dizer é que Lampeão é cem vezes peor do que o Prestes, pois, deste sei até dos rasgos de generosidade e quanto áquele é preciso que a gente ande confessado e sacramentado...
E terminando, accrescentou o sr. Barros:
“Agora vou pedir providencias ao doutor Sergio, para ver si posso voltar para casa”.
“Agora vou pedir providencias ao doutor Sergio, para ver si posso voltar para casa”.
Enviado pelo professor e pesquisador do cangaço:
Rubens Antonio, do blog Cangaço na Bahia
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