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domingo, 5 de fevereiro de 2012

O RIO GRANDE DO NORTE NA CRÔNICA POLICIAL DO SÉCULO XIX - I

Por: José Ozildo dos Santos
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O ASSASSINATO DO VIGÁRIO DA VILA
DE PAPARI (21-11-1835)

Norte-riograndense, o padre Antônio Gomes de Leiros fez seus estudos eclesiásticos no Seminário Episcopal de Nossa Senhora da Graça, em Olinda, Província de Pernambuco, onde ordenou-se em finais de 1833. Retornando ao Rio Grande do Norte, assumiu a recém-criada Freguesia de Nossa Senhora do Ó, sediada na antiga vila de Papari (atual cidade de Nísia Floresta), tornando-se o primeiro vigário daquela sede paroquial.

Igreja Matriz de Nossa Senhora do Ó, na atual cidade de Nísia Floresta

Jovem e com grande disposição para o trabalho, o padre Leiros - como ficou conhecido - logo tornou-se estimado por seus paroquianos. No entanto, esquecendo os ensinamentos e os dogmas da Igreja e movido pelo espírito da ganância, ambicionou o ‘Sítio Bica’, pequena propriedade agrícola, pertencente ao agricultor Tomás Marinho, que com muitos esforços, havia transformado seu sítio no mais produtivo da região.

Alegando que o referido imóvel rural ficava dentro das terras, que formavam o patrimônio de sua freguesia, o referido sacerdote contratou os serviços do rábula Manuel Gabriel de Carvalho e usou das prerrogativas do cargo que ocupava para conseguir seus objetivos.

No final, num processo jurídico que durou poucos meses, conseguiu uma sentença que lhe foi favorável. Por outro lado, o agricultor Tomás Marinho, que passou a ser objeto de gozação em Papari, decepcionado com a justiça, jurou vingança. Adquiriu uma pistola e munições, na cidade do Natal e de maneira proposital, numa certa tarde, encontrou-se com seu arquiminigo, no centro da vila de Papari.

O padre Leiros, vendo-o, dirigiu-se ao seu encontro e num tom de zombação, disse:

- Tomás, perdeste a questão e a terra!
O agricultor, sacando de sua pistola, bruscamente investiu-se contra o sacerdote, dizendo:    
- E o senhor, padre, a vida!

Assim, efetuou um disparo, que mortalmente atingiu o referido sacerdote.
Ferido, o padre Leiros caiu agonizando. Minutos depois, Tomás Marinho foi preso e posteriormente, transferido para a cadeia do Natal. Na prisão, o assassino foi ajudado por alguém, que lhe forneceu uma lima e quinhentos mil réis, quantia que foi usada “para fazer o soldado, encarregado da sentinela, dormir estando acordado”.

Assim, serrando as grades de sua cela, evadiu-se numa noite chuvosa, antes de ser levado a julgamento. E, apesar de todas as diligências policiais, seu paradeiro não foi descoberto.

Quanto ao padre Leiros, assassinado publicamente, no centro de Papari, às 2 horas da tarde, do dia 21 de novembro de 1835, foi sepultado no interior da Igreja Matriz de Nossa Senhora do Ó. Entretanto, em princípios de outubro de 1839, “o tenente José Antônio de Souza Caldas, comandante do destacamento do Corpo de Polícia na Vila Nova da Princesa, atual cidade de Assú, fora informado que um homem misterioso residia nos arredores da sede. Procurou verificar a veracidade da denúncia e encontrou Tomás Marinho já morto, por um colapso, horas antes da diligência policial”.

Conduzido para a sede daquela vila, Tomás Marinho foi sepultado no interior da Matriz de São João Batista. No dia 15 daquele mesmo mês, chegou ao Assú, em visita pastoral, dom João da Purificação Marques Perdigão, bispo de Olinda, a cuja diocese era subordinado o território potiguar. Informado que o assassino do padre Leiros, havia sido sepultado no interior da Matriz local, aquele prelado determinou que o referido cadáver fosse dali retirado e sepultado distante do solo sagrado, no anonimato, para que fosse esquecido com o tempo.

Posteriormente, visitando a vila de Papari, no período de 3 a 5 de novembro daquele mesmo ano de 1839, o referido diocesano registrou a seguinte versão para os fatos:

“Foi nesta povoação, que assassinaram o pároco antecessor do atual pela 1 hora da tarde, cuja morte mui sensível foi para a maior parte dos habitantes. Esse assassino, morrendo na freguesia do Assu, poucos dias antes de eu visitar aquela freguesia, foi sepultado na igreja, depois que aquele pároco encomendou seu corpo, ignorando ser o assassino do dito padre. Logo porém, depois que este corpo foi entregue à sepultura, foi desta tirado e enterrado em lugar não sagrado, em conseqüência da certeza que o pároco teve de ser homem o assassino daquele pároco”.

Na própria Papari - hoje cidade de Nísia Floresta - o nome do padre Leiros é completamente esquecido, numa visível demonstração de que não existe lugar na história para aqueles que esquecem seu ofício e desvirtuam os exemplos da fé.

Extraído do blog: 
"Construindo a História"

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