Por: Rangel Alves da Costa
O QUE FAZEMOS, O QUE TEMOS E O QUE MERECEMOS
Na vida, tudo é ação e efeito. Desde o postulado de Newton que sabemos que toda ação provoca uma reação oposta e de igual intensidade. Do mesmo modo, há uma lei afirmando que toda consequencia é fruto do ato impensado, pois aquilo corretamente praticado possui efeito silencioso e confortante.
E tudo isso pra dizer que em muitas situações – e talvez na maioria das situações da vida – sofremos as piores consequencias por nossa própria culpa. Ao agirmos errado, com negligência, omissão, impensadamente, mais pela paixão do que pela razão, incorremos no perigo de mais tarde ter de pagar pelo erro cometido.
E pagamos um preço muito alto pelos erros cometidos. Ora, o governante corrupto, o senador mafioso e o ministro corrompido estão assim porque alguém quis assim. E esse alguém que votou não pode se desculpar afirmando que não sabia que uma pessoa tão séria e cheia de propostas boas fosse, depois de eleito, enveredar pelos caminhos da safadeza, da improbidade, da corrupção. Inocência demais também vitimiza, até porque todo mundo está cansado de saber da vergonhosa seriedade dos políticos.
Esse preço também é pago pelos pais. Quando se encontram em situação de vexame pelos atos dos filhos se perguntam onde foi que erraram. Ora, erraram na criação, na convivência familiar, nas lições repassadas, nos modernismos familiares, nas permissividades exageradas, no não cortar o mal pela raiz. Uma família que aceita uma filha namorando “sério” já aos doze ou treze anos não pode achar que não terá preocupações mais tarde. Um a mãe que vê a filha no erro e vai fazendo de conta que nada viu não pode colocar as mãos na cabeça depois a se lamentar. Um pai que sabe das amizades e companhias ruins do filho, suas atitudes estranhas e seu relaxamento com a seriedade da vida, mais tarde não poderá se sentir traído pela sua criatura.
E quais as consequencias de não respeitar o outro que tanto ama, brincar com os sentimentos do outro, fazer de uma relação que poderia ser séria e respeitosa num festim de banalidades e absurdos? Como tudo tem seu limite, como aquela pessoa que tanto ama um dia despertará para a realidade nefasta que lhe é imposta, não haverá outra saída que não dar o troco da forma mais humana possível: o distanciamento. Basta que o algoz de sentimentos – que se constitui na pessoa mais medrosa, mais frágil e mais vulnerável do mundo – sinta que não poderá mais continuar submetendo que o seu mundo desaba como castelo de areia. E por consequencia vai chorar, vai sofrer, vai pedir perdão. Se perdoar, e já conhecendo o caráter pernicioso do perdoado, então certamente sofrerá em dobro. E agora porque quis assim.
São inúmeras as situações da vida onde a própria pessoa planta e rega o seu sofrimento futuro, alimenta o mal que lhe acometerá depois, permite que o pior aconteça. E são inúmeros os exemplos. Não gosta de uma coisa porque vê nela algo errado, mas tolera ou começa a aceitar simplesmente porque outro quer ou lhe insufla; vai deixando que as coisas ruins aconteçam na esperança que amanhã sempre será melhor. E o pior, torna-se passiva, com cegueira moral e ética, torna-se alienada, passa a desconhecer seu potencial para realizar as mudanças necessárias ou as grandes mudanças.
E dessa passividade pode acontecer algo pior ainda, que é deixar que os outros se arvorem totalmente da vida que não lhes pertence. Nos mesmos moldes do famoso poema de Eduardo Alves da Costa (que infelizmente não é meu parente), intitulado “No caminho, com Maiakovski”, aqui em excerto:
“Tu sabes,
conheces melhor do que eu
a velha história.
Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada”.
Eis a verdade. É preciso agir agora para depois não ser muito tarde, ter de chorar ou lamentar pela falta da ação tão necessária. Mas que fique outra verdade: o que fazemos, o que temos é o que merecemos.
Rangel Alves da Costa*
Poeta e cronista
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário