Seguidores

sábado, 3 de março de 2012

A influência estética de Lampião.

MÃO NA MASSA Lampião costurando numa máquina Singer:
REVISTA ISTO É . N° Edição: 2139 | 05.Nov.10 - 21:00 

A influência estética de Lampião.
A roupa colorida e ricamente decorada do cangaceiro servia de patente hierárquica no bando, despertava admiração na população e era copiada até pela polícia.

Wilson Aquino

A simples menção ao nome de Lampião fazia tremer o cabra mais macho do Nordeste. Virgulino Ferreira da Silva, seu nome de batismo, aterrorizou o sertão, entre 1916 e 1938, com seu bando que contava 200 homens.


Nos sete Estados da Federação onde a lei parecia ausente e a polícia, chamada de Volante, cometia excessos, Lampião e sua gangue justificavam seus assassinatos, degolas, estupros e assaltos com supostas bandeiras sociais e, assim, conseguiam angariar alguma simpatia da população pobre. Mas, quando não estava praticando crimes, o cangaceiro se atracava com agulhas e linhas para costurar e bordar, lindamente, roupas, revestimentos para cantil, cinturões, bornais (espécie de bolsa) e os lenços que usava ao estilo Jacques Leclair, o protagonista costureiro da novela global "Ti-ti-ti". Seu sanguinolento bando exibia uniformes bordados com flores, estrelas e símbolos místicos. Embora cause estranheza, este apuro estético tinha uma finalidade: servia para despertar admiração entre a população e, também, como patente hierárquica do bando. Lampião acreditava ainda que alguns símbolos blindavam seus homens contra maus espíritos.

O lado excêntrico e quase marqueteiro do famoso bandoleiro emerge pelas mãos de uma das maiores autoridades brasileiras em cangaceiros, o historiador Frederico Pernambucano de Mello, "o mestre dos mestres quando o assunto é cangaço", como dizia o antropólogo Gilberto Freyre.
 Mello acaba de lançar o livro "Estrelas de Couro " A Estética do Cangaço" (Escrituras, 258 págs.), no qual mostra que, ao impor um estilo próprio de vestuário, Lampião incutia os valores do cangaço aos homens do seu bando e estabelecia a diferença entre a sua tropa e os "outros."
 Lampião, aliás, odiava ser confundido com cangaceiros comuns. A força da roupagem luxuosa que ele criara " e incluía metais e até ouro, além de moedas e espelhinhos ", chegou a influenciar as vestimentas dos policiais. Antes de costurar, ele pegava um papel pardo e desenhava, depois levava o papel para a máquina Singer e cobria o tecido. "Ele não era apenas o executor do bordado. Era também o estilista", afirma Mello.

"No início, a moda era ofício masculino", garante a professora de história da indumentária e antropologia da moda Silvia Helena Soares, da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ). Ela vê nas criações de Lampião um estilo de moda que remonta à época do Renascimento (século XVI), quando os homens bordavam as joias na própria roupa. "Era tudo grandão, pesado. Não tinha nada de delicadinho", afirma. Para o historiador Luiz Bernardo Pericás, autor de "Os Cangaceiros: Ensaio de Interpretação Histórica", os uniformes dos cangaceiros ficaram tão enfeitados que pareciam fantasias. "Era um dos aspectos da extrema vaidade daqueles bandoleiros", diz Pericás. Lampião aprendeu a manejar a linha e a agulha muito antes de tomar gosto pelo rifle. Quando menino, quase adolescente, Virgulino fazia tecidos de couro muito bem ornamentados, resistentes e esteticamente valiosos para vender nas feiras. "Era famoso como alfaiate de couro", afirma o historiador Mello. Ele foi parar no crime porque sua família se envolveu numa guerra com fazendeiros vizinhos. Dizem que era tão hábil com a espingarda que conseguia dar tiros consecutivos que clareavam a noite. Daí a alcunha de Lampião.
O Rei do Cangaço morreu aos 40 anos, em 1938, junto com a fiel companheira, Maria Bonita " que, igualmente, andava coberta de roupas, chapéus, cintos e bolsas bordadíssimas. O casal e nove homens do bando foram decapitados e as cabeças expostas como troféus pela polícia nas escadarias da igreja de Piranhas, em Alagoas. Ali, foram fotografadas ao lado de objetos preciosos do grupo, como espingardas e cartucheiras, além de outras armas de Lampião: duas máquinas de costura Singer, o sonho de todas a donas de casa da época. Se tivesse escolhido a profissão de costureiro, Lampião (até hoje cons­tantemente revisitado pela indústria fashion) certamente teria tido uma carreira brilhante.

 Web site:
http://www.istoe.com.br/reportagens/109496_A+INFLUENCIA+ESTETICA+DE+LAMPIAO  Autor:   REVISTA ISTO É . N° Edição: 2139
Extraído do blog:
Cangaço em Foco, do Delegado de Polícia Civil no Estado de Sergipe,
Dr. Archimedes Marques

Nenhum comentário:

Postar um comentário