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domingo, 11 de março de 2012

PAIXÃO: PERIGOSA FRONTEIRA (Crônica)

Por: Rangel Alves da Costa*
Rangel Alves da Costa


PAIXÃO: PERIGOSA FRONTEIRA

As paixões já causaram guerras, revoluções, mortes e motins; as paixões amorosas já causaram desgraças ainda maiores, pois afetando os próprios indivíduos. Assim, as paixões, sejam elas como fervores em defesa de causa ou como arrebatamento amoroso, possuem consequencias as mais imprevisíveis.
Mas não deveria ser assim. E não deveria porque a paixão pode ser vista como um sentimento bom que sai em busca da plena realização daquilo que deseja. Porque quer aquilo, deseja aquilo, não mede esforços para conseguir seu objetivo maior. E nesse passo, até que haja consciência da validade do tanto almejado, a paixão nada mais é do que um objetivo de realização. Portanto, uma coisa boa.
Conceitualmente, a paixão é tida como movimento impetuoso da alma para o bem ou para o mal; é uma emoção ou sentimento muito forte, envolvendo aspectos como amor, ódio e desejo, e que é capaz de alterar o comportamento, o raciocínio, a lucidez; é o apego ou interesse obsessivo por algo; a defesa doentia e irracional de alguma coisa.
Mas também a paixão é exacerbação amorosa; o amor que se alastra além da racionalidade do sentimento; o ilimitado desejo pelo outro; busca incessante de controlar o sentimento da pessoa amada por causa de medos, temores ou ciúmes. Falam ainda da paixão como cegueira, como fanatismo.
Como observado, os conceitos não permitem uma posição muito honrosa à paixão. E isto porque vulgarmente se tornou sinônima de loucura, psicose, insanidade. E também não consideram os fanatismos políticos, os credos fundamentalistas e as irracionalidades futebolísticas, dentre muitas outras, dentro do contexto maior das paixões. Consideram, sim, a paixão amorosa como a verdadeira transgressão de sentimentos e objeto de debates.
E isto até tem sua razão de ser, principalmente porque as paixões amorosas levam a consequencias conhecidas por todos. Há destruição do outro por paixão, há total descomedimento no trato com a pessoa amada; surgem ações delirantes, tresloucadas, doentias, impensáveis de realização por pessoa em perfeita sanidade. De repente, aquilo que era amor se transforma em perseguições, em medos, em fugas.
Contudo, para se chegar a tal ponto exige-se um processo lento e que infelizmente nem sempre pode ser reconhecido pelo outro a tempo. Não é reconhecido porque se o que se busca numa relação é o fortalecimento dos sentimentos e, com isto, se concretizar aquilo que se chama amor, às vezes esse amor vai silenciosamente ultrapassando os limites do querer, do desejo e da afeição.
E quando isto acontece, quando a relação se torna obsessiva e voltada apenas para o atendimento dos anseios de um, então é porque a paixão já está com um pé numa indesejada e perigosa fronteira. E o que é pior: fronteira de todo que de ruim possa existir naquilo que era uma relação amorosa.
O apaixonado apresenta claros sintomas dessa sua nova condição de obsessividade? Não, e isto se torna em fator de extrema preocupação. Como tudo ocorre num processo lento, a relação parece caminhar normalmente e sem nada que aponte mudanças comportamentais significativas. E até esse estágio pode ser que continue havendo compartilhamento de ações, mútuas compreensões e fáceis resoluções dos problemas surgidos. Mas no instante que a paixão aflora tudo isso já se torna mais difícil.
Quando a paixão aflora e começa a caminhar em direção à fronteira da irracionalidade, a primeira coisa que o apaixonado faz é mudar seu jeito de compartilhamento para querer impor. E então começam a outras situações que fazem parte desse contexto. E surgem os ciúmes, primeiro como algo normal, e depois doentios; as proibições disso e daquilo; as imposições e o querer ser dono. É o estágio tanto das repetidas flores como das continuadas transgressões.
A partir daí as consequencias são as piores. Se a pessoa submetida aceitar por amor as tantas e tais exigências, acabará se escravizando por uma pessoa que mais tarde não a reconhecerá mais como nada. E se procurar se contrapor à paixão mandonista, imperiosa, exacerbada e muitas vezes violenta e ameaçadora, então será melhor procurar logo a delegacia competente. Talvez a autoridade policial requeira ao juiz a expedição de Medidas Protetivas de Urgência.
Como se vê, é complicada a paixão. Complicadíssima é a paixão.


Rangel Alves da Costa*

Poeta e cronista
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.co

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