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quarta-feira, 18 de abril de 2012

INEVITÁVEL (Crônica)

Por: Rangel Alves da Costa*
Rangel Alves da Costa

INEVITÁVEL


E de repente o espanto, o susto, a alegria, o enternecimento, a dor, a tristeza, algo que inesperadamente acontece. Mas por que reações assim, se isso ou aquilo haveria de acontecer um dia?

Eis que o ser humano, apenas caminhando pela estrada, com a costumeira pressa de chegar, sentirá estranheza ou desconforto se pisa numa ponta de pedra ou se um espinho lhe fere. Sabia da normalidade desse acontecer, mas insiste em não aceitar a ocorrência.
Verdade é que parece que ninguém aceita ou está preparado para o inevitável, o que mais cedo ou mais tarde irá ocorrer. Ninguém se espelha no tempo, ninguém mira a natureza. O que existe agora, de repente já tomou outra feição.
Evitável é a ação premeditada, o forjar acontecimentos, o passo que se dá pelo caminho conhecido e mais perigoso que exista; mas o inevitável refoge ao querer imediato, bastando-se simplesmente na expectativa de que algo chegará.
Inevitável é tudo aquilo que o ser humano não pode mudar. Inevitável é tudo aquilo que nasce para ser de tal modo e se findar um dia. Inevitável é o que existe porque tem de existir, o que é porque não poderia ser diferente. Inevitável é o passo, o percurso do homem sobre a terra, e mais ainda o fim de sua estrada.
Evitável talvez seja a vida, pois muitos pretendem assim; inevitável é a morte, pois ninguém pode pretender diferente. Evitável talvez seja viver, vez que muitos se negam a aproveitar as possibilidades; inevitável será o seu fim, e ainda mais rapidamente perante aqueles que procuram evitar a vida.
Muitos pretendem evitar, mas é inevitável que o ser humano tenha nascido para viver em comunhão social, pacificamente, amando e compartilhando. Alguns procuram evitar, mas inevitavelmente nasceram para ter bom instinto, boa conduta, agir dentro de princípios morais e éticos. Fazem tudo para evitar, porém é inevitável que viver em constante transformação.
Por que colocar venda sobre os olhos se é inevitável que o ser e o coração se encantem com as manhãs, as ondas do mar brincando na areia, o encantamento do orvalho ao amanhecer, a natureza florescendo no jardim, a revoada que passa ao entardecer, a lua cheia sem nuvem, o pássaro que pousa solenemente na janela. Mesmo que finja não ter admiração, mas é inevitável que um sentimento bom vá surgindo.
Sim, inevitável é o amor, é amar, querer ser amado. Assim como aprende a apreciar e gostar do que encontra no cotidiano, o ser humano vai sendo instigado a satisfazer sentimentos íntimos, desejos nascidos no coração e que aos poucos vão reclamando realização.
Daí inevitável olhar o outro e encontrar beleza, qualquer coisa que lhe atraia, e por consequencia sentir desejo, querer estar próximo, dizer qualquer coisa que fixe uma relação diferenciada, buscar meios para o olhar mais próximo, para o calor da proximidade, o toque, o abraço, o beijo.
Até mesmo o que se permite viver na solidão, abdicando do outro e do seu amor, age assim porque sabe os limites do amar e seus inevitáveis encantos e aborrecimentos. Daí ser inevitável amar, ao outro ou a si mesmo amar, pois igualmente é inevitável nascer com sentimentos que vão sendo aperfeiçoados ao longo da vida.
Mesmo com o tempo chuvoso, com as nuvens negras tomando conta de tudo, inevitável é a presença do sol durante o dia. Está escondido, mas existindo, e voltará a brilhar assim que a tempestade passar, e assim continuará até seu momento de partir novamente chegar. E todo dia é assim, o sol nasce e morre, vem e vai embora, surge mansamente, se agiganta, para depois ir murchando avermelhado lá no horizonte.
E que sol é a vida. E que nascer e morrer é a vida. Quando o sol vai sumindo para a noite chegar paira no ar uma inexplicável tristeza, uma imensa vontade de chorar. E quando a vida avança, o sol em cada um vai perdendo seu brilho e força, no horizonte da alma é tudo tristeza e dor.
Porque a vida também se põe. E vai embora. Inevitavelmente.

Poeta e cronista
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com

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