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segunda-feira, 6 de agosto de 2012

“LAMPIÃO CONTRA O MATA SETE” EM NORDESTINA

Por: Archimedes Marques

Próprio dos tantos desafios que houvera na minha atribulada vida de Delegado de Polícia e também nas andanças relacionadas aos estudos e pesquisas para me tornar um escritor do cangaço, em posse do meu querido e atrativo livro refutação, LAMPIÃO CONTRA O MATA SETE, obra literária esta que vem fazendo sucesso aonde chega e com os seus leitores, além de muito bem elogiada pelos pesquisadores, críticos e estudiosos do tema, em novo desafio, aceitei o convite do Secretário da Cultura do Município de Nordestina, Pastor Ruy Guilherme Cardoso Matos, grande líder de um “rebanho de ovelhas” seguidores, cidadão então estabilizado que deixou os Estados Unidos da América para vir prestar os seus relevantes serviços em prol da comunidade de Nordestina, uma pequena, mas aprazível cidade encravada no sertão baiano entre os municípios de Cansanção e Queimadas, partindo assim de Aracaju no dia 03/08/2012 para romper a barreira dos 448 quilômetros, tudo no intuito de mostrar o meu trabalho literário ao povo daquele município.

Mesa de Autoridades

Entre trancos e barrancos com excelentes, boas e ruins estradas esburacadas parti junto com a minha companheira de todas as horas Elane Marques, entrando na Bahia via Itapicuru e seguindo estrada por Olindina, Nova Soure, Cipó, Ribeira do Pombal, Tucano, Euclides da Cunha, Monte Santo, Cansanção para finalmente chegar a Nordestina, onde às 19:00 horas daquele dia que ficará para sempre nos anais da cultura do seu povo, expor o meu trabalho em palestra que se estendeu por mais de duas horas devido às tantas perguntas dos curiosos, estudantes, educadores e personalidades local, fruto de um povo interessado pelo tema cangaço, afinal de contas, Nordestina um dia pertenceu as terras de Queimadas, uma das cidades que marcou as atrocidades de Lampião no ano de 1929.

Dr. Archimedes Marques e o Pr. Ruy Matos.

A aprazível e pacata Nordestina, uma jovem cidade, um jovem município que ganhou a sua liberdade administrativa e financeira na década de 80 originou da Fazenda Cajueiro, mais tarde simplesmente Cajueiro, que alcançou rápido desenvolvimento, criado com território desmembrado de Queimadas, por força de Lei Estadual de 9 de maio de 1985. A sede foi elevada a cidade quando da criação do município.


Archimedes Marques, esposa Elane Marques e Joao Moreira, maior arquivo vivo da historia de Nordestina.

Na verdade, em 1937, já bem próximo ao fim da era cangaceira, dois desbravadores, Tertuliano de Souza Pereira e Gregório Batista, resolveram construir as suas casas numa fazenda comum para aventurar-se na produção da fibra do caruá e da casca de angico, desafiando o perigo e as dificuldades da seca ali fincando raízes para lutarem pelo desenvolvimento da região.

Archimedes Marques encantou a todos os presentes com o notavel conhecimento sobre a tematica CANGACO.

A Fazenda Cajueiro localizava-se no Município de Queimadas que ainda vivia sob tensão e pavor do que ocorrera há alguns anos atrás, mais de perto, no domingo 29/12/1929, quando Lampião e seu bando ali cometeram das maiores atrocidades da história do cangaço ao matarem impiedosamente sete soldados já rendidos e totalmente indefesos em um final de tarde negra que os queimadenses jamais esqueceram. Consta que todos aqueles militares foram executados à sangue frio pelo próprio Lampião com a ajuda tão somente do cangaceiro Volta Seca que com os seus afiados e pontiagudos punhais de 70 centímetros sangraram todos, enfiando as lâminas jugular abaixo, penetrando nas entranhas das vítimas que ajoelhados na calçada do quartel policial, sob os olhares chorosos dos moradores mais corajosos, viam as suas vidas se esvaírem, sendo perdoado tão somente dessa chacina o sargento Evaristo.

Archimedes Marques e Giovani Bell em confraternização.

A extrema sorte do sargento Evaristo ocorreu quando das visitas do cangaceiro chefe às casas das ilustres personagens de Queimadas. Lampião ao adentrar na residência do Escrivão da Coletoria Federal de nome Amphilóphio Teixeira e vendo a sua esposa Austrelina Teixeira, conhecida por dona Santinha, mulher elegante, perfumada e bem arrumada, logo gostou e se interessou por um lindo trancelim de ouro que carregava tal dama em seu pescoço, mas para não ser deselegante e tomá-lo a força, muito elogiou aquela joia com as segundas intenções de obtê-la pra si, daí a referida senhora mais do que sabida, logo tirou o bonito cordão dourado e o ofereceu de presente ao cangaceiro chefe. Sem pensar nas consequências ou até mesmo sem esperar qual seria a vontade da dona Santinha, Lampião teria prometido que atenderia um pedido da generosa senhora ao receber tal presente. Então essa elegante e inteligente senhora, alegando que o sargento Evaristo era pessoa excelente, de boa índole, um exemplo de marido e pai, querido por todos da cidade, pediu pela sua vida. Assim, um reles trancelim salvou a vida de um bravo policial militar que em momento algum se acovardou ou implorou por sua vida mesmo vendo os seus comandados tombados em rios de sangue na calçada do seu local de trabalho.

De Nordestina enobreci a minha bagagem de pujança e determinação, sem esquecer o carinho com que fui recebido e recepcionado por aquele povo ordeiro e trabalhador que um dia, por certo, levará este município a melhores patamares na história sertaneja baiana.

Nordestina está hoje, sem dúvida alguma, bem servida na sua área cultural com a pessoa do Pastor Ruy Matos, como também muito bem representada pelos dinâmicos secretário municipal, presidente da Câmara de vereadores e educadores Giovani Bell, Marcos Batista de Souza, Nilzete Bezerra, Patricia Amambahy, além do poeta Jose Abel dentre outras personalidades que se fizeram presentes ao evento, sem esquecer do maior arquivo vivo da cidade, o simpático velhinho João Moreira que apesar de andar na casa dos noventa anos parece um menino a esnobar as suas lembranças, destarte para um dia após a chacina de Queimadas, oportunidade em que Lampião e seus asseclas estiveram no sitio onde residia, ali próximo, na beira do rio Itapicuru, quando o mesmo tinha aproximadamente 10 anos de idade, em uma passagem amistosa, mas que ele se lembra daqueles homens vestidos tão diferentes e da voz de Lampião confabulando algumas palavras com o seu pai como se fosse hoje.

Foi assim que eu vi Nordestina, foi assim que eu senti Nordestina e é assim que guardarei para sempre Nordestina dentro do meu peito esquerdo.

Enviado pelo Delegado de Polícia Civil no Estado de Sergipe, escritor e pesquisador do cangaço: Dr. Archimedes Marques

 http://www.cangacoemfoco.jex.com.br/

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